São Paulo, sexta-feira, 27 de julho de 2001

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ERIKA PALOMINO

GOBBI DESFILA E EXPÕE SITUAÇÃO DA MODA

O jovem estilista Caio Gobbi desfilou sua linha jeans na última segunda-feira, em esquema independente. Gongado injustamente do casting da Casa de Criadores simplesmente por almejar entrar para a São Paulo Fashion Week (qual estilista não quer?), Gobbi se viu no meio da crise que explodiu há alguns meses no setor e que atingiu também seus patrocinadores de anos. Devido a um imbróglio contratual, sua loja no shopping Villa-Lobos foi fechada e, assim, do nada, o estilista só podia contar com ele mesmo e com sua equipe. A data bateu com a semana de BH e nem mesmo o esquema de modelos desfilando de graça para estilistas queridos -o que acontece em qualquer capital fashion- funcionou. E tudo teve de sair mesmo na raça.
Mas o meio da moda confia no talento de Gobbi. Estavam em seu desfile Costanza Pascolato e Gloria Kalil, o povo dos sites especializados, estilistas como Reinaldo Lourenço, André Lima e Mareu Nitschke, mais estudantes de moda e o fiel público comprador do estilista, que vai de clubbers a patricinhas, de drags a fashionistas.
Na passarela, as referências tão caras ao imaginário do estilista apareceram todas: Madonna, Gaultier, Dior, Jennifer Lopez, Mariah Carey, meninas desfilando saídas de um arco-íris, glamour-girls cheias de glitter e cor.
Mesmo com recursos limitados, Gobbi soube desfilar o que tem de melhor: seu approach ao mesmo tempo fashion e comercial, um tino de que muitas grandes marcas (de SP e do mundo) se ressentem.
Abriu seu desfile com uma brincadeira com as mulheres DJs, com formas largas e orientação streetwear para as meninas. No masculino, cada vez mais correto, investe em listras simpáticas em pink e branco e formas simples em calças e bermudas.
O jeans é que brilha, com cordinhas em furta-cor, tipo arco-íris, ilustrando laterais de calças e tiras de suspensórios desenhando minissaias. O detalhe é o pesponto verde fluo que dá acabamento ao ótimo blazer e às calças.
Na estamparia, singelos desenhos tipo Puscha evocam o glamour e a paixão de Gobbi pela figura feminina, com as adoráveis estampas Nails, Lipstick e Eyelashes, que vira também um vestido t-shirt. O look do triquíni com saia de recortes é provocativo e superpop, como a coleção.
O desfile de Caio Gobbi pode servir como emblema do atual cenário fashion brasileiro, em situação recessiva. Será que vão se tornar inviáveis iniciativas isoladas? Será que só vai conseguir desfilar e mostrar coleção quem participe dos grandes eventos -concentrados, por enquanto, somente em duas frentes (em suma: Paulo Borges ou André Hidalgo)?
É um processo perigoso, que pode ter consequências complicadas e pouco saudáveis para a moda como um todo, a médio/longo prazo. Tecelagens, fiações e empresas devem e precisam apoiar jovens e outras alternativas de estilistas e eventos, visando também o desenvolvimento dos talentos, além de tão-somente o retorno de imagem e o marketing em si.
O mercado depende disso tudo, e valores como brodagem, hype, novidade ajudam a fazer o mundo da moda girar. OK, vamos supor que o previsível aconteça e Caio Gobbi entre de fato para o elenco da SP Fashion Week. E quem vem depois, como vai ficar?

RAVE DA AMAZÔNIA ROLA NA QUINTA
Começa na próxima quinta a Ecosystem 1.0, a rave da Amazônia. Gringos de toda parte do mundo estão mirando Manaus, na festa que vai rolar por quatro dias no meio da floresta. O projeto é de fato visionário e pretende reunir representantes de todos os estilos musicais, num ambiente todo especial, para provar que é possível juntar música eletrônica, consciência ecológica, preservação da floresta e um senso de coletividade e "togetherness", valores que muitas vezes faltam a todos nós. O line-up é animado e conta com estrelas de cada segmento, como Afrika Bambaataa, Nação Zumbi, Renato Lopes, Mau Mau, Otto, Bryan Gee, Renato Cohen, Nutz e Zé Gonzales, Jumping Jack Frost, Drumagick, Suba Dream Band (com Mario Caldato e o produtor Bid), Ken Ishii e State of Bengal (Índia). A iniciativa é de Carlinhos Soul Slinger, o primeiro brasileiro a conseguir espaço no mercado internacional, DJ e guru da cena underground de Nova York. Ele está há mais de dois anos programando a festa. Outro detalhe importante é a vacina, já que não dá para ir sem se prevenir contra malária e febre amarela. Mas é superfácil, você pode tomar as vacinas no próprio posto do aeroporto de Congonhas. Veja pacotes de hospedagem e passagem aérea pelo site www.ecosystem1.org. Se joga!

NOVAS NOITES NO FRONT DA CENA
A cidade está precisando de novas propostas de noite. Dois projetos começam na próxima quarta e devem chamar a atenção de diferentes públicos. A promoter Glaucia ++ inaugura nova fase do Cio 80's no Ultralounge. Os residentes voltam a ser Oscar Bueno e Magal. Nessa noite, Glaucia ainda comemora quatro anos de Cio, a noite que projetou o revival dos anos 80 na cidade e que já passou pelo Egotrip e pela Torre do Dr. Zero antes de ir para o Stereo e cair na boca do grande público. Para substituir o Cio, o Stereo chamou dois dos promoters mais queridos pelos fãs de indie-rock, Adriano Costa (Debut/ Torre do Dr. Zero) e Marcio Custódio (Sound/DJ Club), para fazerem a noite POPs. Não tem DJ residente, o repertório é mais livre e abrange o rock, indie, 70, 80 e 90 (olha que já tem revival de 90...). A novidade é que o clube agora tem um palquinho na pista, assim as bandas alternativas terão um espaço de qualidade.

GOSTA DE TECH-HOUSE? ENTÃO SE JOGA!
A febre da tech-house continua em São Paulo. Sábado, na Lôca, no projeto Locurama, tem DJ gringo de tech-house, Mike Parsons, DJ inglês hype do gênero, que toca por volta das 3h no clube (r. Frei Caneca, 916).

FREE JAZZ 2001 JÁ ESTÁ VALENDO
O povo animou já nesta semana para o Free Jazz deste ano, que vai rolar em São Paulo e Rio em outubro. Confirmaram o supercult Belle & Sebastian, o megacult Sigur Rós e o ultrahype Fatboy Slim, que estamos tentando ver faz um tempão, né? Norman Cook é um dos exemplos de superstar vindo da cena eletrônica e vai ser bem divertido conferir suas andanças por aqui. A organização do Free Jazz promete ainda mais um palco para o evento.

NIKE VAI TER POR AQUI TÊNIS DO MOVEMENT
É tão grande o poder da posse de drum'n'bass Movement, lar de Marky e Patife na Inglaterra, que a Nike vai lançar um tênis conjunto com eles, com edição limitada. Diz que o modelo é tudo e agora eles estudam lugares legais para vender o babadex por aqui, já que o tênis não vai sair por menos de R$ 200.

TÁ LIGADO NO HYPE DO CHÁ VERDE?
Quem me apresentou o babadex foi a maquiatrix Fulvia Farolfi, em Milão. Ela só toma chá verde, no lugar do café, para tudo. É luxo para a pele e para combater os radicais livres e além do mais é super-hype. Aqui em SP é difícil achar nos restaurantes, mas na rede Alternativa e na Liberdade tem.

CAMPOS REABRE A ALA EGÍPCIA DO CHINÊS
O empresário Marcos Campos está virando Campos de Jordão de cabeça pra baixo, não só com a reabertura do Sirena-Cabral na cidade, mas também com as festas supervips na famosa Casa do Chinês, residência da posse do clube na cidade. A novidade é a reabertura da absurda ala egípcia do castelo, que originalmente era a boate da excêntrica construção. Eu digo Tesouros do Egito! E a festa para 200 pessoas rolou forte, e só de hóspedes da casa eram 90!! Lá pelas 5h, começaram a chegar os "amigos dos amigos" e cada um pagou R$ 100 para entrar. Dmitri e Roxy tocaram até o meio-dia. "Dá mais trabalho do que o clube", brinca o animado Marcos Campos, para quem não tem tempo quente. Entre os convidados do último babadex estavam Luciano Huck, Paulo Lima e Isaac Duek.

JUM SAKAMOTO É TUDO, JÁ FOI?
Aqui não é NY, mas o restaurante do mestre Jum Sakamoto é tipo. Fica ali escondidinho na r. Lisboa, 55, tel. 0/ xx/11/3088-6019, só trabalha com reservas, o público é supercool e eles têm um dos mais absurdos sashimis da cidade. Se joga!


Colaborou Camila Yahn, free-lance para a Folha

www.erikapalomino.com.br
palomino@uol.com.br



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