São Paulo, domingo, 27 de julho de 2008

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Outra volta aos anos 80

Caixa reúne discos e vídeos do RPM , fenômeno pop que caiu tão rápido quanto subiu; e Simony , aos 32 anos, regrava os sucessos infantis do Balão Mágico

"Mudaria até as cores dos paletós", diz Paulo Ricardo

JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Há 25 anos, Paulo Ricardo Moreira voltava de uma temporada em Londres cheio de idéias e ambições. Mas, nem em seu sonho mais delirante, poderia imaginar que a banda que formaria imediatamente a seguir com o ex-companheiro de audições de rock progressivo Luiz Schiavon se tornaria, em pouco tempo, o maior fenômeno pop rock do Brasil. A meteórica ascensão e queda do RPM aparece agora na luxuosa caixa "Revolução! RPM 25 Anos". Ela traz os três discos lançados pelo grupo nos anos 80: "Revoluções por Minuto" (500 mil cópias vendidas, de 1985), "Rádio Pirata Ao Vivo" (2,5 milhões de cópias, de 1986) e "RPM", mais conhecido como "Quatro Coiotes" (200 mil, de 1988). Há também um CD com remixes e faixas lançadas em singles (como as parcerias com Milton Nascimento e uma cover de "Gita", de Raul Seixas, já dos anos 90) e um DVD com o conteúdo do VHS "Rádio Pirata", mais um "Globo Repórter" sobre o quarteto, performances no programa "Mixto Quente", um playbackão no "Cassino do Chacrinha" e uma entrevista feita perto do ocaso. De longe, o DVD é o item mais curioso do pacote, pois a história do sucesso de Paulo Ricardo, Luiz Schiavon, Fernando Deluqui e P.A. Pagni é muito mais interessante do que as músicas que eles registraram. No "Globo Repórter", um esbelto e compenetrado Pedro Bial acompanha o grupo em turnê no auge da fama. Conversa com fãs, vai surfar com Deluqui e tenta decifrar o que motivava tamanha histeria. Analisando hoje tudo o que aconteceu, Paulo Ricardo mostra ainda não ter muitas certezas. "Do alto da maturidade que adquiri ao longo desses anos, posso dizer que não entendo porra nenhuma. Esse negócio de RPM é muito complicado." Mas ele sabe que alguns fatores possibilitaram o turbilhão. "O Brasil estava mudando muito. A minha geração tinha vários problemas por ter crescido sob a ditadura militar. E tanto eu quanto o Herbert [Vianna] e o Lulu [Santos] éramos filhos de gente ligada ao regime. Por um capricho histórico, a anistia explodiu junto com o punk, que recuperava o espírito original do rock e era uma linguagem muito adequada para o que queríamos dizer", teoriza.

Arrependimento
Na época, o vocalista e baixista era influenciado por The Police, Duran Duran, Joy Division e Bauhaus. Hoje, cita Radiohead e Coldplay como bandas favoritas, além de Amy Winehouse. E revela que teve seus momentos The Killers e The Strokes. "Strokes é muito "Louras Geladas, muito "Rádio Pirata'", afirma ele. O grande arrependimento de Paulo Ricardo é não ter conseguido dar ao RPM uma carreira longeva. "Quer dizer, essa é a mãe de todos os arrependimentos. Se eu pudesse reeditar a história do RPM, passaria pelo menos uma semana enfurnado numa ilha de edição. Mudaria até as cores dos meus paletós." O grupo se apresentou neste mês no "Domingão do Faustão", mas ele nega que seja mais uma volta do RPM. Os quatro músicos só se reuniram para dar à caixa um lançamento digno, diz. Não há planos de turnê, disco de inéditas nem expectativa por vendas astronômicas. A tiragem é de só 3.000 cópias.

REVOLUÇÃO! RPM 25 ANOS
Artista: RPM
Gravadora: Sony BMG
Quanto: R$ 80, em média

"Pimpão" é cantado com a filha; "Mãe-Iê", com o filho

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Tob, Mike e Jair Oliveira (ex-Jairzinho) não querem voar novamente e cantar alegremente mais uma canção. Simony, agora com 32 anos, cismou de regravar "Super Fantástico" e outros sucessos do Balão Mágico, formado quando ela tinha apenas seis. O disco, "Simony Superfantástica", chega nesta semana às lojas. Ela diz que convidou os ex-parceiros do grupo, fenômeno dos anos 80, com cinco LPs e mais de 10 milhões de cópias vendidas. "Os meninos não querem. Um está morando na Inglaterra [Mike], outro, fazendo teatro [Tob], o Jair faz produção, toca e não está a fim de voltar. Mas quero reviver isso." No CD, canta, além de "Super Fantástico", hits como "Ai Meu Nariz!" e "Se Enamora". "Ursinho Pimpão" divide com Aysha (pronuncia-se aíxa), de cinco anos, e "Mãe-Iê" com Ryan (riã), de sete, filhos que teve com o rapper Afro-X -ela ainda teve Pyetra, dois anos, com o jogador Diego Souza, do Palmeiras, e agora está de casamento marcado com o ator Marcelo Batista. Conta ter decidido regravar o Balão Mágico quando participou de um desses shows de revival dos anos 80, em Fortaleza. "Achava que não ia ter ninguém, e tinha 8.000 pessoas, gente chorando quando cantei "Ursinho Pimpão". O Balão é muito maior do que pensava." Começou a mostrar vídeos e discos do grupo para os filhos. "As crianças acharam o máááximo, só queriam músicas do Balão. Aí pensei: "Interessante, esse é um mercado que não foi tão explorado como deveria"." Simony recebe a Folha em sua casa, em um daqueles condomínios de luxo de Alphaville (Grande São Paulo). O imóvel foi comprado por sua mãe, Maricleuza, há 25 anos, com dinheiro do Balão, e desde então a cantora mora lá. Foi uma grana que mudou a vida da família humilde da Cohab, na periferia da zona leste de São Paulo. Antes do Balão, eles sobreviviam com um pequeno circo do avô da cantora. Tudo começou quando Simony tinha três anos e, segundo Maricleuza, pediu para ser artista como a mãe, que era trapezista e cantora. Foi parar no programa do Raul Gil e acabou descoberta por um diretor da antiga gravadora CBS, hoje Sony. Ele já tinha dois garotos, Tob e Mike, e queria uma menina para fechar o conjunto infantil. Aos 4 anos, estava com o primeiro contrato; aos 5, lançou o primeiro LP.

Estouro
Com "A Galinha Magricela", o disco vendeu um milhão de cópias. A Globo a chamou para apresentar um programa matutino. "Balão Mágico" estreou em 1983 e foi um estouro de audiência até sair do ar, três anos depois. "Foi ela gravar a primeira chamada, dentro daquele cesto de balão, e no dia seguinte já virou um tumulto na escola", conta Maricleuza, 57. Nesta época, já bem de vida graças ao grupo, a menina morava em Higienópolis e estudava no Rio Branco. "Eu lembro que não podia mais sair no intervalo, tinha que comer escondida no banheiro", diz Simony, que foi para um colégio menor. Em 1986, quando a Globo propôs que Simony fosse gravar no Rio e dividisse o programa com a Xuxa, ela disse não. Era o início de uma nova era. Que também já acabou.

SIMONY SUPERFANTÁSTICA
Gravadora: JT Records
Quanto: R$ 21,90



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