São Paulo, segunda, 27 de julho de 1998

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TELEVISÃO

"Vida ao Vivo" impõe penitência a Luís Fernando

TELMO MARTINO
Colunista da Folha

Comentava-se com horror e espanto o peso das penitências que o padre Paulo Autran impunha às pecadoras de "Hilda Furacão". Com horror e pânico muito mais escandalosos, vê-se no programa "Vida ao Vivo Show" a penitência que alguém muito mais cruel que o Paulo Autran impôs ao comediante Luís Fernando Guimarães.
Ninguém vai se dar ao trabalho de contar, mas desconfia-se de que sua ligação profissional com o apenas histérico Pedro Cardoso ultrapasse os sete anos que aquele bíblico trabalhou como pastor.
Assim como as velhas chanchadas da Atlântida, o programa começa com vontades de Metro-Goldwyn-Mayer. Começa e continua. Os dois estão sempre à procura de idéia para um show que, nos filmes, seria para a Broadway.
Como a Broadway fica muito longe, eles se contentam com a transformação de sua idéia em um esquete para a televisão. Não importa a diferença das possibilidades histriônicas de cada um. Os dois estão sempre iguais na aparência e (por favor, contenha-se) na comicidade.
Luís Fernando Guimarães, mesmo sem abrir a boca, poderia fazer mil coisas.
Ele é um humorista também muito físico. Numa solidariedade já assustadora, ele sempre se contém. Muito bonzinho, sabe que não vale a pena destroçar o talento limitadíssimo do companheiro com o esboço de gracejo pessoal.
Pedro Cardoso não é comediante que se destrua com alguma prova de superioridade. Como um mosquito por demais insistente, ele é um caso de morte súbita numa lufada de Baygon.
A fragilidade de Pedro Cardoso é um estorvo de dimensões assustadoras para um mamute.
"Vamos ser salva-vidas em Malibu, com aquelas louras peitudas de maiô vermelho?" "Vamos." As louras são vistas de soslaio, o mesmo acontecendo com o mar e a areia.
É tudo em cima dos dois, como se continuassem na bancada do "Fantástico". "Vamos ser policiais num camburão? "Vamos." Os figurantes existem mas são esmaecidos pelo "buzzz" sempre histérico do mosquito.
De que precisa esse programa de existência inexplicável e de humor terminal. "De mulher". Se foi a Regina Casé que trouxe a sugestão, acabem com tudo. Foi a Denise Fraga? A idéia fica boa. Era engraçada a piada que ela contou. E depois seu Asdrúbal nunca traz trombone.
No máximo, um ukelêle. Que, por acaso, é um bom nome para um inseticida.




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