São Paulo, segunda-feira, 27 de agosto de 2001

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ARTES PLÁSTICAS

No mínimo, o máximo


Em Madri, exposiçã o "Minimalismos - Um Signo dos Tempos" discute o uso do conceito


Divulgação
"New York City, New York", obra do holandês Piet Mondrian


CASSIANO ELEK MACHADO
EM MADRI

A crítica de arte Anatxu Zabalbeascoa estava lendo uma revista de moda. Nada de muito novo: mais uma vez seria um verão de minissaias. Mas não qualquer minissaia. Seriam muito curtas, minissaias "minimalistas".
Opa! Se minimalismo já estava virando até adjetivo para vestuários diminutos, era um bom momento para rediscutir esse termo.
Assim começava a nascer o livro "Minimalismos", escrito em parceria com Javier Rodríguez Marcos, que, como ela, escreve sobre arquitetura para o diário espanhol "El País".
Lançado em 99 (e já traduzido para o português, editora Gustavo Gili), o livro teve tamanha repercussão que os autores foram convidados a transformar o trabalho em uma mostra.
E a "minissaia" acaba de virar exposição. Está em cartaz no prestigiado Museu Reina Sofia, em Madri, "Minimalismos - Um Signo dos Tempos".
Muito pouco "minimalista", com 116 obras, a mostra tem como objetivo discutir as variadas acepções do termo.
A palavra minimalismo (ou "minimal art") apareceu pela primeira vez em janeiro de 1965, encolhida entre as páginas 26 e 32 da revista "Arts Magazine".
O parteiro do conceito foi o crítico de arte britânico Richard Wollheim. No artigo, ele discutia o surgimento de um novo modo de fazer arte.
Em contraposição à então ascendente arte pop, com suas cores espalhafatosas e recursos emprestados da propaganda e das HQs, um grupo de artistas americanos desenvolvia trabalhos abstratos, geométricos, em tonalidades sóbrias.
"As palavras-chave dessa arte que surgia eram redução, síntese, depuração, austeridade, ordem, repetição, nudez ornamental", explica Anatxu Zabalbeascoa à Folha.
Ou seja, o minimalismo originalmente propunha uma simplificação da arte ao mínimo possível, com cores primárias, formas geométricas, materiais comuns. Quanto menos enfeitada, quanto menos expressiva, quanto menos despida de significados, melhor. O mínimo era o máximo.
Essa era a cartilha de artistas como os norte-americanos Donald Judd, Carl Andre, Frank Stella ("O que você vê é o que você vê") e Dan Flavin, quatro dos grandes nomes minimalistas.
Na mostra, os trabalhos desse "núcleo duro minimalista", como diz Zabalbeascoa, estão agrupados em uma sala em formato de cubo que fica no meio do espaço expositivo.
A exposição começa com ótimas obras de precursores do minimalismo, como o vanguardista russo Kasimir Malevich (1878-1935), o holandês Piet Mondrian (1872-1944) ou o não tão minimalista americano Mark Rothko (1903-1970).
A curadora diz que a grande frustração foi não ter conseguido incluir nesse segmento algo da artista brasileira Lygia Clark (1921-1988).
Mais adiante, ficam os pós-minimalistas. Aí estão artistas que seguiram de perto o "núcleo duro", como os consagrados americanos Richard Serra, 62, e Bruce Nauman, 60, e a alemã Eva Hesse (1936-70), e sucessores mais jovens, como a palestina Mona Hatoum (de quem está exposto um tapete de alfinetes).

Migração
Até aqui, seria uma boa exposição de "minimal art". E quando transcende esse mínimo é que a mostra fica mais saborosa.
"Assim como houve uma arte barroca e existe o termo barroco, houve uma arte minimalista e o conceito minimalista, que migrou para áreas como a moda, o design, a arquitetura e a música", diz a curadora. E são essas quatro as subdivisões da mostra.
Em arquitetura os destaques são desenhos e maquetes de nomes como o precursor alemão Mies van der Rohe (autor da célebre frase "menos é mais") ou o contemporâneo espanhol Rafael Moneo.
Em moda, cabides com vestidos dos estilistas Calvin Klein e Donna Karan. As minissaias "minimalistas" ficaram de fora. Literalmente. Este verão elas voltaram à moda na Espanha e podem ser vistas nas ruas, do lado de fora do museu.


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