São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 2002

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Papa Afrika

Marcos Finotti/Folha Imagem
O DJ Afrika Bambaataa



Um dos pais do hip hop, o DJ Afrika Bambaataa chega ao Brasil para festas e palestras, 20 anos após lançar o hino "Planet Rock"


LUCIANA MACEDO
DO GUIA DA FOLHA

Agradeça a ele se hoje você dança seus beats preferidos numa pista ou numa roda de break. Agradeça a Afrika Bambaataa, o pai do electro-funk, pelos filhotes que sua cria deu: todos os gêneros da música eletrônica e boa parte da música pop dos últimos 20 anos.
E se hoje temos MCs, b-boys, DJs e grafiteiros formando uma cultura de rua, é porque em 1974, no Bronx, em Nova York, Bambaataa juntou os quatro elementos e os batizou de hip hop.
Vinte anos após lançar "Planet Rock", hino do hip hop, ele volta para mostrar o que fazia nas festas de rua que reuniam jovens das comunidades negra e latina em Nova York. Ele se apresenta como DJ e palestrante em duas ONGs, em São Paulo, após passagem por Manaus, onde foi uma das atrações da Ecosystem, e deu à Folha a seguinte entrevista:

Folha - Desta vez, você se apresentará como DJ. O que vai tocar?
Afrika Bambaataa -
Músicas que façam as pessoas dançarem, como electro-funk, hip hop, house... Vim com um amigo rapper, o Sano, e um dos meus b-boys, Wadi. Vou tocar discos.

Folha - Fazem parte desse seu desejo de estimular a reflexão as palestras que fará durante visitas a duas comunidades carentes?
Bambaataa -
Sim, mas seria legal se tivéssemos patrocínio para comprar comida, por exemplo. Ficaria ainda mais feliz se, além da festa, o povo pudesse também comer, receber donativos e atendimento médico.

Folha - Qual a relação entre o hip hop e a discussão de problemas sociais?
Bambaataa -
É disso que eu falo quando insisto na importância do quinto elemento do hip hop, que é o conhecimento. É através do conhecimento que a pessoa envolvida como hip hop vai começar a se preocupar com os problemas sociais do seu bairro, com o governo. As pessoas precisam reconhecer que a cultura hip hop salvou vidas, fez com que pessoas de etnias e nacionalidades diferentes se unissem. É preciso falar sobre a história do povo negro.

Folha - Mas o hip hop não está conectado somente à cultura negra, está?
Bambaataa -
Não, mas as pessoas precisam aprender a se respeitar e principalmente a conhecer. Você deve saber quem você é, de onde você veio, para que possa saber para onde vai no futuro.

Folha - E como está o hip hop feito nos EUA atualmente?
Bambaataa -
Bem... ainda há quem queira manter o estilo gansta rap, mas também há muita gente boa querendo trazer de volta o rap consciente.

Folha - Quem, por exemplo?
Bambaataa -
KRS-One, Chuck D, Mos Def...

Folha - E o que você acha do sucesso de Eminem e Nelly?
Bambaataa -
Eles fazem rap comercial, é o estilo deles. Para mim Nelly é bastante "funky", e Eminem até que é "funky" para um rapper branco... (risos). Falando sério, já existiram muitos rappers brancos antes dele. Eu acho maravilhoso ver a cultura hip hop se espalhando entre várias raças.

Folha - E como está a produção de música eletrônica hoje?
Bambaataa -
A música eletrônica precisa ficar mais quebrada, menos linear. Se você colocar mais batidas quebradas na música, ela ficará mais "funky".

Folha - Para você, qual é o futuro do hip hop?
Bambaataa -
Eu vejo o hip hop chegando a outros planetas, se tornando intergaláctico. Onde a civilização humana chegar, o hip hop estará lá.


AFRIKA BAMBAATAA - discotecagem no Clube Piratininga (al. Barros, 376, Sta. Cecília, SP, tel. 0/xx/11/3159-4346). Quando: amanhã, às 22h. Quanto: R$ 20. Palestras com entrada franca: Espaço Criança Esperança (travessa Maestro Massaíno, s/nš, Jardim Ângela, SP, tel. 0/ xx/ 11/5834-2269). Quando: dia 31, às 10h. Casa do Hip Hop (r. 24 de Maio, 38, Diadema, SP, tel. 0/xx/11/4075-3792). Quando: 3/9, às 14h.



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