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CINEMA
Primeiro longa do diretor Rafael Conde satiriza a situação dos cineastas no Brasil embaralhando gêneros e formatos
"Samba Canção" renova produção marginal
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
A despeito do conformismo reinante nas telas do mundo, o cinema de invenção está vivo. A prova
dessa sobrevivência prodigiosa é
"Samba Canção", o primeiro longa-metragem do mineiro Rafael
Conde, 40.
O filme, que será exibido na
mostra "Midnight Movies" do
Festival do Rio (entre 26 de setembro e 10 de outubro) e ainda
não tem data de lançamento nos
cinemas, narra de maneira inventiva e fragmentada a saga de um
cineasta independente para realizar seu primeiro longa.
Mas esqueça a choradeira autocomplacente a que costumam se
entregar nossos diretores. "Samba Canção" é uma celebração do
prazer de fazer cinema, na qual a
diversão e a subversão comparecem em proporções iguais.
A grande sacada do filme é incorporar em sua própria textura o
tema que aborda: a dificuldade de
fazer cinema no Brasil.
As cores e o formato do que vemos na tela (35 milímetros, 16
mm, super-8, vídeo) vão mudando à medida que aumenta ou diminui o orçamento de que dispõe
o personagem cineasta Zé Rocha
(Nivaldo Pedrosa).
"Essa anarquia audiovisual corresponde à minha formação fragmentada", diz Conde. "Fiz super-8 , acompanhei o início do vídeo
independente, fiz cinema, videoclipe e publicidade, e além disso vi
muita televisão."
À heterogeneidade formal corresponde no filme uma mistura
análoga de gêneros: documentário, aventura, chanchada, terror
"trash" etc. Mas o fio da meada
nunca se perde. Nem o humor.
Conde não esconde sua predileção pelo chamado cinema "marginal" que floresceu no Brasil nos
anos 60 e 70 e que já foi homenageado em um de seus curtas, "A
Hora Vagabunda" (98).
Em "Samba Canção" as homenagens são explícitas: quando Zé
Rocha vai a São Paulo, hospeda-se
na Boca do Lixo e encontra casualmente o cineasta José Mojica
Marins, o Zé do Caixão, que lhe
confia os "cinco mandamentos
do diretor de cinema".
Outra presença do cinema "udigrudi" é a de Guará Rodrigues,
ator-fetiche de Julio Bressane e
Rogério Sganzerla.
Guará representa a si próprio. É
contratado por Zé Rocha para
atuar no seu filme. Junta-se ao diretor, à produtora Edna Marla
(Yara de Novaes), à jovem atriz
Lila Lessa (Carolina Duarte) e à
mãe de Zé Rocha, dona Martírio
(Teuda Bara), formando um exército Brancaleone disposto a tudo
-até ao crime- para realizar o
longa-metragem.
"Samba Canção" foi realizado
com apenas R$ 450 mil (um vigésimo do orçamento de "Cidade de
Deus"). À exceção de Guará, o excelente elenco principal é formado por atores vindos do teatro mineiro, com destaque para a veterana Teuda Bara, do Teatro Galpão, em seu primeiro longa.
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