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LIVROS
MISTÉRIO
Coletânea deixou de fora autores importantes, como Rubem Fonseca
Antologia reúne "melhores" contos policiais brasileiros
ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
As antologias devem ser um
ótimo negócio para as editoras, já que inúmeras como "Crime
Feito em Casa - Contos Policiais
Brasileiros", que acaba de chegar
às livrarias, foram editadas nos últimos anos. Às vezes, elas têm um
propósito que ultrapassa a questão comercial. Um bom exemplo
é "Os 100 Melhores Contos de Crime e Mistério da Literatura Universal", obra publicada há algum
tempo pela Ediouro com organização de Flávio Moreira da Costa,
também responsável por este novo lançamento. Pela leitura daquele volume, o leitor conseguia
montar um razoável quadro da
evolução do gênero, seus trunfos
e seus limites, a partir do confronto de uma série de autores fundamentais.
Com esta nova antologia, preparada para a editora Record, um
número talvez excessivo de escritores nacionais é potencializado.
A tradição brasileira na área não é
das mais fartas, tanto em quantidade como em qualidade, ainda
que existam grandes exceções.
Reuni-la, porém, serve, acima de
tudo, para deixar isso claro -o
que não quer dizer de modo algum que não seja importante tomar conhecimento dela.
O livro é dividido em quatro
partes. Na primeira, "Bons Antecedentes", Moreira da Costa tenta
apontar antepassados relacionados ao assunto e, se força um pouco a mão com Machado de Assis
("O Enfermeiro"), acerta com um
ótimo Olavo Bilac ("O Crime").
As duas partes seguintes ("Pioneiros Precursores" e "Contemporâneos Insuspeitos") formam o
que deveria ser o núcleo do projeto, com textos de Medeiros e Albuquerque, Luiz Lopes Coelho,
Marcos Rey e Dalton Trevisan,
entre outros. O grande ausente
aqui é Rubem Fonseca, inegável
mestre na arte de misturar sangue, investigação e palavras, que
ficou de fora provavelmente por
questões editoriais -o mesmo
ocorreu, aliás, com peças de Monteiro Lobato, Murilo Rubião, Fernando Sabino e Drummond. Ou
seja, além de nossa tradição não
ser de "primeiro time", ela ainda
aparece bastante desfalcada no
volume.
Talvez por isso, para dar uma
impressão maior de consistência,
o organizador tenha inserido uma
quarta parte ("Novos e Cúmplices"), na qual mistura textos de
autores mais recentes -como
Marçal Aquino ou Amilcar Bettega- que já foram publicados em
outros lugares a contos especialmente escritos para este "Crime
Feito em Casa". Isso evidentemente descaracteriza a concepção
seletiva pressuposta pelo conceito
de "antologia". Mas o fato nem
seria tão grave se o conjunto não
fosse tão desigual, de certa forma
mimetizando a desigualdade que
a junção das quatro partes também não consegue disfarçar.
O livro traz ainda, como "bônus", um pequeno trecho de um
romance do próprio Flávio Moreira da Costa.
Adriano Schwartz é professor de arte,
literatura e cultura no Brasil da Escola de
Artes, Ciências e Humanidades da USP-Leste
Crime Feito em Casa - Contos Policiais Brasileiros
Organizador: Flávio Moreira da Costa
Editora: Record
Quanto: R$ 39,90 (462 págs.)
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