São Paulo, sábado, 27 de agosto de 2005

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LIVROS

MISTÉRIO


Coletânea deixou de fora autores importantes, como Rubem Fonseca

Antologia reúne "melhores" contos policiais brasileiros

ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

As antologias devem ser um ótimo negócio para as editoras, já que inúmeras como "Crime Feito em Casa - Contos Policiais Brasileiros", que acaba de chegar às livrarias, foram editadas nos últimos anos. Às vezes, elas têm um propósito que ultrapassa a questão comercial. Um bom exemplo é "Os 100 Melhores Contos de Crime e Mistério da Literatura Universal", obra publicada há algum tempo pela Ediouro com organização de Flávio Moreira da Costa, também responsável por este novo lançamento. Pela leitura daquele volume, o leitor conseguia montar um razoável quadro da evolução do gênero, seus trunfos e seus limites, a partir do confronto de uma série de autores fundamentais.
Com esta nova antologia, preparada para a editora Record, um número talvez excessivo de escritores nacionais é potencializado. A tradição brasileira na área não é das mais fartas, tanto em quantidade como em qualidade, ainda que existam grandes exceções. Reuni-la, porém, serve, acima de tudo, para deixar isso claro -o que não quer dizer de modo algum que não seja importante tomar conhecimento dela.
O livro é dividido em quatro partes. Na primeira, "Bons Antecedentes", Moreira da Costa tenta apontar antepassados relacionados ao assunto e, se força um pouco a mão com Machado de Assis ("O Enfermeiro"), acerta com um ótimo Olavo Bilac ("O Crime").
As duas partes seguintes ("Pioneiros Precursores" e "Contemporâneos Insuspeitos") formam o que deveria ser o núcleo do projeto, com textos de Medeiros e Albuquerque, Luiz Lopes Coelho, Marcos Rey e Dalton Trevisan, entre outros. O grande ausente aqui é Rubem Fonseca, inegável mestre na arte de misturar sangue, investigação e palavras, que ficou de fora provavelmente por questões editoriais -o mesmo ocorreu, aliás, com peças de Monteiro Lobato, Murilo Rubião, Fernando Sabino e Drummond. Ou seja, além de nossa tradição não ser de "primeiro time", ela ainda aparece bastante desfalcada no volume.
Talvez por isso, para dar uma impressão maior de consistência, o organizador tenha inserido uma quarta parte ("Novos e Cúmplices"), na qual mistura textos de autores mais recentes -como Marçal Aquino ou Amilcar Bettega- que já foram publicados em outros lugares a contos especialmente escritos para este "Crime Feito em Casa". Isso evidentemente descaracteriza a concepção seletiva pressuposta pelo conceito de "antologia". Mas o fato nem seria tão grave se o conjunto não fosse tão desigual, de certa forma mimetizando a desigualdade que a junção das quatro partes também não consegue disfarçar.
O livro traz ainda, como "bônus", um pequeno trecho de um romance do próprio Flávio Moreira da Costa.


Adriano Schwartz é professor de arte, literatura e cultura no Brasil da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP-Leste

Crime Feito em Casa - Contos Policiais Brasileiros
 
Organizador: Flávio Moreira da Costa
Editora: Record
Quanto: R$ 39,90 (462 págs.)


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