INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Pescadores são mentirosos por natureza. Já sabíamos do lugar-comum mesmo antes de "O Esporte Favorito dos Homens". Mas Tim Burton, que gosta de examinar as coisas pelo avesso, tomando-as pelo contrapé, vê as coisas de outra maneira.
Para começar, pescadores são sonhadores. Em segundo lugar, a mentira -ou o exagero desmedido- é algo extremamente desejável, que se contrapõe ao senso da medida, do estrito, enfim a tudo isso que norteia nosso morno cotidiano.
É mais ou menos isso que nos diz o filme "Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas", de Burton, que passa na HBO hoje, às 21h. Em primeiro lugar, existe um filho que não suporta o hábito paterno de contar histórias evidentemente exageradas. Perdão: exageradas ou fantásticas? Porque há sempre um mundo a distanciar essas duas palavras. Como se o exagero fosse prosaico, e o fantástico, poético. O primeiro, uma apropriação ilícita da realidade; o segundo, uma desejável liberdade em relação a ela.
Pai e filho, como de costume, têm concepções diferentes sobre as coisas. A última palavra caberá à morte -como sempre. A nós restará aproveitar das notáveis histórias de "Peixe Grande", tal como as transcreve Tim Burton: um mundo mágico onde o inesperado se manifesta a cada instante.
Como parece que o dia é dedicado a sonhadores, a Fox exibe, às 22h, "Tucker - O Homem e Seu Sonho". Tucker é o desviante que, em dado momento, resolveu construir carros melhores e seguros, para tanto enfrentando toda a indústria automobilística.
Quem narra sua história é Francis Coppola, outro peixe grande, marginal por excelência da indústria cinematográfica, hoje meio encostado. Por sorte, Tim Burton resiste: raridade numa indústria que desistiu do sonho.


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