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Crítica/"Chappaqua", "Kerouac" e "Burroughs"
Filmes revivem geração beat entre o culto e a redundância
ALEXANDRE MATIAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Houve um tempo em
que qualquer informação adicional sobre
ícones da cultura alternativa
era tratada como ouro, principalmente aqui no Brasil. Antes
da vinda da internet, imagens
em movimento ou trechos de
entrevistas de quem fosse já era
suficiente para reunir fãs em
audiências ritualescas.
Passado recente, este tempo
já era. Hoje, arquivos digitalizados e conexões de banda larga
garantem o rápido acesso a
imagens corriqueiras de nomes
consagrados, aparições na TV
se espalham pelo YouTube,
biografias entopem as bancas
de revista etc etc. Por isso, o
lançamento de dois DVDs perdem parte de seu impacto justamente por seu maior mérito
ser a presença eletrônica da
santíssima trindade da geração
beat: Jack Kerouac, Allen Ginsberg e William S. Burroughs.
O pacote conta com a primeira aparição em DVD do filme
"Chappaqua", de Conrad
Rooks (Leão de Prata no Festival de Veneza de 1966), e com
os documentários "Kerouac: O
Rei dos Beats", de John Antonelli, e "Burroughs: Poeta do
Submundo", de Klaus Maeck.
"Chappaqua" é um exemplo
do cinema experimental dos
anos 60 que ficaram redundantes com o advento do vídeo digital -qualquer criança de hoje
realiza filmes como os daquele
período (ao menos, em termos
técnicos). Por trás da obra, temos o empolgado Rooks que
resolve usar o cinema como terapia e contar sua história para
o mundo.
Sai-se exatamente na média,
colidindo todos os clichês do cinema alternativo da época com
delírios enfadonhos. O perfil
autobiográfico fala de seu próprio processo de desintoxicação de drogas e mostra que
Rooks estava em dia com a modernidade da época -daí a presença de Ginsberg (chato, como
sempre) e Burroughs (genial,
como sempre).
Como cinema, "Chappaqua"
é quase uma bad trip, fundindo
experimentalismo barato com
idéias pueris. Por outro lado,
funciona quase como um documentário de uma época em que
não era preciso fazer muito
sentido para ser aceito. Bons
tempos, de fato.
Já os documentários martelam no prego e no dedo, cada
um deles. O de Kerouac é correto e bem realizado. Cuidadoso,
John Antonelli entrevista pessoas diretamente envolvidas
com o autor e traça um retrato
didático do papel de Kerouac
na literatura americana e no
pop mundial.
Mas o de William Burroughs,
por mais triste que possa parecer, é pífio. Gira em torno de
uma leitura feita pelo autor em
1991 e uma entrevista transbordando obviedade por parte do
entrevistador. Opta por ser
não-linear e se perde no meio
do caminho, com o entrevistador Jürgen Ploog mais interessado em ver o autor repetir suas
máximas ("a linguagem é um
vírus") do que travar alguma
tentativa de diálogo com o autor. Uma pena: mesmo com
momentos de brilho proporcionado pelas leituras entusiasmadas feitas pelo velho Bill, o
documentário não chega nem a
cutucar a curiosidade dos leigos ou a fazer os iniciados suspirarem -no máximo, de tédio.
CHAPPAQUA: ALMAS
ENTORPECIDAS
Distribuição: Magnus Opus (R$ 39)
KEROUAC: O REI DOS BEATS e
BURROUGHS: POETA DO SUBMUNDO
Distribuição: Magnus Opus (R$
78,50)
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