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Estrutura e fragilidade da lei dificultam trabalho
Comissão avalia desde megaexposições até projetos apresentados por índios
Apenas em janeiro deste ano o processo de análise foi informatizado; até então, até mil projetos eram despachados à mão num dia
DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
Foi apenas em janeiro que a
Cnic ganhou computadores.
Até então, os milhares de projetos eram aprovados, literalmente, à mão. Vinha da estrutura manca a sensação, no meio
cultural, de que mandar um
projeto para a Cnic era entrar
numa espécie de buraco negro.
Em 2008, a situação piorou
com a greve de funcionários do
Ministério da Cultura (MinC).
Em dezembro, os conselheiros
chegaram a analisar, numa só
reunião, 1,1 mil projetos.
Antes de chegar à comissão,
os pedidos passam pelo crivo de
pareceristas que checam desde
certidões até orçamentos. "Não
há mais razões para queixa. O
proponente sabe, pela internet,
em que estágio está seu processo", diz Roberto Nascimento,
secretário de Fomento.
Trata-se, ainda assim, de um
labirinto de regras, papéis e
propostas. O mundo criado pela Lei Rouanet faz com que haja, no MinC, 18 mil projetos nos
mais variados estágios -alguns
à espera de aprovação, outros a
prestar contas. "É um mecanismo amarrado e complexo. Analisamos desde exposições
acompanhadas de projetos
educativos até programas ligados a ecologia" diz Claudia Ramalho, diretora de Sesi, indicada por entidades empresariais.
Não à toa, são muitos os pontos de interrogação que pipocam na mesa de reuniões. "No
começo, quando via um projeto
de R$ 4 milhões, eu simplesmente não sabia o que fazer",
admite a designer Fernanda
Martins. "Há projetos caríssimos, mas há também projeto
mandado por telefone. A gente
teve que aprender a aprovar pedidos de índios, que não têm
nem CPF", diz o economista
Henrique de Andrade.
Nilson Santos, filósofo, conselheiro da área de livros, diz
que as dificuldades nascem das
próprias falhas da lei. "Como a
lei é frágil, a gente precisa tomar cuidado pra não fazer uma
análise ideológica", diz, referindo-se a projetos que, a seu ver,
não precisariam de dinheiro
público. "Há os casos óbvios.
Recusamos os projetos de uma
rede de restaurantes que queria
fazer um livro sobre culinária
francesa e outro sobre uma família ilustre do Maranhão."
A tentativa de travestir de
cultura projetos promocionais
é comum. A área patrimonial,
não raro, tromba com propostas de festas que incluem grupos folclóricos em seu cardápio
apenas para caber na rubrica
"preservação de folclore".
Outros pontos que merecem
atenção especial são orçamento e acessibilidade. "Temos que
zelar pelo dinheiro público",
diz Godoy, para em seguida
ponderar: "Mas também não
podemos punir a arte em nome
de princípios sociais".
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