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Cartas mostram diferenças entre Guarnieri e Andrade
CARLOS BOZZO JUNIOR
especial para a Folha
Hoje, Laís de Souza Brasil e Tânia Camargo Guarnieri, filha
do compositor Mozart Camargo Guarnieri (1907-1993), fazem
o show de lançamento do disco "Camargo Guarnieri Sonatas
nšs 2, 3 e 4" no clube A Hebraica em São Paulo, às 21h. A
viúva do compositor, Vera Sílvia Camargo Guarnieri, mostrou, durante entrevista à Folha, uma correspondência entre
o pianista e o escritor modernista Mário de Andrade nos anos
30, quando ambos discutiam a "Sonata nš 2" ponto a ponto.
Guarnieri tinha um gosto pessoal pelas dissonâncias e tornou-se mestre nas ditas dissonâncias doces. Porém, ao mostrar a partitura da "Sonata nš 2", ainda sem as marcações de
dinâmica, para Andrade, o maestro foi mal interpretado por
seu amigo e mentor. O equívoco gerou essa troca de cartas.
Vera disse que Andrade, após ouvir a sonata em um recital,
classificou a obra de uma maravilha, ao contrário do que havia escrito nas cartas. Sob o espanto do maestro, afirmou: "Se
antes disse, agora desdigo!"
especial para a Folha
A viúva de Camargo Guarnieri,
Vera Sílvia Guarnieri, 58, guarda,
em sua casa, em São Paulo, cartas
escritas por Mário de Andrade,
endereçadas a Guarnieri, em que o
escritor critica duramente a "Sonata nš 2",
além de abordar assuntos como
estética musical, possibilidades de
empregos e o turbulento estado
emocional de Andrade, durante o
tempo em que morou no Rio.
Em entrevista à Folha, Vera disse pretender um dia publicá-las.
Folha - O que seu marido comentava sobre o relacionamento dele
com Mário de Andrade?
Vera Sílvia Camargo Guarnieri -
Guarnieri tinha 21 anos, quando
conheceu o Mário. Naquela época,
ele não havia estudado muito, por
ter vindo de uma família de poucas
posses. E, por isso, se considerava
-palavras dele- um ignorantão.
Eles foram apresentados pelo
pianista Antonio Munhoz, e depois do Guarnieri ter tocado algumas de suas composições, Mário
disse: "Finalmente chegou aquele
que eu estava esperando".
O Mário, que não emprestava livros a ninguém, logo reconheceu o
talento de Guarnieri e abriu as portas de sua biblioteca para ele estudar.Guarnieri dizia ser muito afortunado por ter tido dois pais: o pai
biológico, Lamberto Baldi, e Mário de Andrade. Por causa do Mário, Guarnieri foi para a faculdade
estudar filosofia. Tenho algumas
cartas que revelam muito bem o
relacionamento deles.
Folha - Além disso, de que tratam essas cartas?
Vera - São cartas inéditas que
tratam de estética musical a outras
coisas mais particulares, como a
época em que o Mário morava no
Rio e queria voltar para São Paulo.
Folha - Quantas são?
Vera - Vinte e poucas. Não são
muitas porque ambos moravam
na mesma cidade. Mas, quando o
assunto era polêmico, o Mário,
mesmo de São Paulo, as escrevia.
No fundo, ele sabia que as cartas
dele um dia seriam publicadas.
Folha - A sra. vai fazer isso?
Vera - Quero muito publicá-las. Mas, como o número de
cartas não é grande, o livro seria
muito pequeno. O Mário deixou
uma declaração de que as cartas
recebidas por ele não poderiam ser
abertas até 50 anos após sua morte,
prazo completado em 95. Então eu
gostaria de ter uma colaboração
do IEB (Instituto de Estudos Brasileiros), onde o acervo do Mário está, para conseguir a liberação das
cartas, que contêm as respostas do
Guarnieri para ele. Isso tornaria o
volume mais interessante.
(CBJ)
Disco: Camargo Guarnieri Sonatas nš 2, nš
3 e nš 4
Intérpretes: Laís de Souza Brasil e Tânia
Camargo Guarnieri
Lançamento: Mix House
Quanto: R$ 18, em média
Concerto: Camargo Guarnieri Sonatas nšs
2, 3 e 4
Intérpretes: Laís de Souza Brasil e Tânia
Camargo Guarnieri
Onde: A Hebraica, auditório Anne Frank (r.
Hungria, 1.000, Pinheiros, tel. 246-1208)
Quando: hoje, às 21h
Quanto: entrada franca
Patrocínio: Duráveis Equipamento de
Segurança
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