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CANUDOS
População de Junco do Salitre (BA), cenário do longa, diz que trabalhou 18 horas diárias nas filmagens
Figurantes receberam apenas R$ 5 por dia
LUIZ FRANCISCO
em Junco do Salitre
Cenário do filme "Guerra de Canudos", o distrito de Junco de Salitre (BA) chama mais a atenção pela
pobreza de seus moradores e falta
de infra-estrutura do que por ter
sido palco das gravações do conflito ocorrido no sertão baiano no final do século passado.
Os combates provocaram as
mortes de 25 mil pessoas -20 mil
seguidores de Antônio Conselheiro e 5.000 soldados.
Localizada a 30 km do centro de
Juazeiro, Junco do Salitre é o retrato da miséria que predomina na
maioria das cidades e povoados do
interior baiano.
As 150 casas do distrito não possuem saneamento básico -esgoto, banheiros, água encanada e
ruas pavimentadas.
"Temos que andar três quilômetros por dia para pegar água em
um poço artesiano", disse Maria
Fidélio de Oliveira, 47.
O posto médico está desativado,
e o acesso ao povoado é precário
-11 km de estrada de terra esburacada separam Junco do Salitre
do asfalto.
"Canudos não tinha estrutura
para abrigar os atores e os 10 mil
figurantes da produção", disse o
diretor do filme, Sérgio Rezende.
Acostumados ao desemprego e à
pobreza, os moradores de Junco
do Salitre também não conseguiram melhorar de vida durante as
gravações, época em que toda a
população adulta do povoado (300
pessoas) esteve envolvida de alguma forma nas filmagens.
O jardineiro Olívio de Aquino
Barros, 64, disse que passou fome
e sede durante as filmagens. "Os
figurantes receberam apenas R$ 5
por dia trabalhado, o que é uma
verdadeira miséria."
O dia de trabalho para os figurantes de "Guerra de Canudos" tinha, em média, 18 horas. "Nós
acordávamos às 4h, para dar tempo de trocar de roupa e tomar o
café no povoado antes das 7h, e
voltávamos para casa somente às
22h", disse o jardineiro.
Barros acrescentou que os figurantes reivindicaram um aumento
de cinco vezes no valor das diárias.
"Eles alegaram que o orçamento
era pequeno e que havia muitas
despesas."
O estudante Gersino da Costa Ribeiro, 18, também não ficou satisfeito com os R$ 5 recebidos por cada dia de trabalho. "O dinheiro
que ganhei nas filmagens não deu
para pagar o sabão usado para lavar minhas roupas, que ficavam
sujas e empoeiradas."
Quem trabalhou como pedreiro
na construção das 500 casas, três
igrejas, uma praça, ruas e becos do
arraial de Canudos recebeu R$ 15
por dia. Ao término das filmagens,
as construções foram destruídas.
"O pagamento foi feito em dia,
mas no último mês os produtores
me deram calote de R$ 70", disse o
pedreiro Cosme Lopes da Silva, 48.
Apesar das reclamações, os figurantes ficaram satisfeitos pela participação nas filmagens. "Uma
das maiores emoções da minha vida será quando eu me ver no filme", disse o jardineiro Barros.
O assessor de imprensa da prefeitura de Juazeiro (500 km de Salvador), Moacir Alexandrino dos
Santos, 55, disse que as filmagens
de "Guerra de Canudos" proporcionaram emprego temporário
aos moradores de Junco do Salitre.
"Depois das gravações, a população do distrito voltou a conviver
com a miséria", afirmou.
Segundo o assessor, os gastos
realizados pela produção no distrito foram importantes para melhorar a distribuição de renda em Junco do Salitre.
Os produtores do filme disseram
que fizeram uma pesquisa na região para estabelecer o valor do pagamento aos figurantes.
Segundo os produtores, todas as
pessoas que trabalharam no filme
receberam o que foi combinado.
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