|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Músico formidável, tocou com todo mundo
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Baden Powell foi um homem extraordinário, detentor de uma história muito mais rica do que seu temperamento discretíssimo poderia fazer supor.
Começou no violão como geniozinho infantil -daqueles que
raramente se confirmam na idade
adulta. Aos 10 anos, já tocava no
rádio como calouro do "Programa do Guri". Nada excepcional
até aí, mas depressa, enquanto conhecia Pixinguinha e comia moqueca com Donga, passou a pequeno músico acompanhante de
uma constelação de artistas.
Enquanto crescia, o garoto prodígio acompanhava o samba sincopado de Cyro Monteiro, o acordeom pop chanchadeiro de Adelaide Chiozzo e Eliana Macedo, a
bossa nova nascente de Alaíde
Costa, infinidades de outros...
A lista era tão ampla que, em 59,
quando gravadoras ainda testavam o poder de fogo de Roberto
Carlos, adivinha quem esteve presente no acompanhamento?
Era o advento da bossa -até
Roberto passou por essa-, e Baden sempre foi, ainda que não
quisesse, uma das figuras-chave
desse Brasil. Mais ou menos por
aí, começou a mais compor, ancorando-se em elenco mais restrito, mas formidável de letristas.
Aí se encontrou com a pré-bossa de Billy Blanco, com o herói do
protesto Geraldo Vandré, enfim
com o poeta/diplomata bossa nova Vinicius de Moraes. Com este
fincou um dos momentos elevados da musicografia popular
(erudita?) brasileira, concentrado
no LP "Os Afro-Sambas de Baden
e Vinicius" (66) -que depois,
convertido evangélico, renegaria.
Sem pose de estrela, nunca mais
foi tão visível ao grande público
como naqueles anos. Ainda forrou de glória o canto de Elizeth
Cardoso e Elis Regina, as letras de
Paulo César Pinheiro, a França
(por onde andou anos e anos, em
exílio voluntário).
O Brasil-mercadão foi paulatinamente o abandonando, e justamente agora Baden assistia ao reverso da injustiça. A Trama, dirigida por um dos filhos de Elis, o
contratou e se preparava para lançar dois álbuns seus. Como tudo o
que é bom dura pouco...
Texto Anterior: Compleição franzina abrigava talento gigantesco Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|