São Paulo, quarta-feira, 27 de setembro de 2000

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Músico formidável, tocou com todo mundo

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Baden Powell foi um homem extraordinário, detentor de uma história muito mais rica do que seu temperamento discretíssimo poderia fazer supor.
Começou no violão como geniozinho infantil -daqueles que raramente se confirmam na idade adulta. Aos 10 anos, já tocava no rádio como calouro do "Programa do Guri". Nada excepcional até aí, mas depressa, enquanto conhecia Pixinguinha e comia moqueca com Donga, passou a pequeno músico acompanhante de uma constelação de artistas.
Enquanto crescia, o garoto prodígio acompanhava o samba sincopado de Cyro Monteiro, o acordeom pop chanchadeiro de Adelaide Chiozzo e Eliana Macedo, a bossa nova nascente de Alaíde Costa, infinidades de outros...
A lista era tão ampla que, em 59, quando gravadoras ainda testavam o poder de fogo de Roberto Carlos, adivinha quem esteve presente no acompanhamento?
Era o advento da bossa -até Roberto passou por essa-, e Baden sempre foi, ainda que não quisesse, uma das figuras-chave desse Brasil. Mais ou menos por aí, começou a mais compor, ancorando-se em elenco mais restrito, mas formidável de letristas.
Aí se encontrou com a pré-bossa de Billy Blanco, com o herói do protesto Geraldo Vandré, enfim com o poeta/diplomata bossa nova Vinicius de Moraes. Com este fincou um dos momentos elevados da musicografia popular (erudita?) brasileira, concentrado no LP "Os Afro-Sambas de Baden e Vinicius" (66) -que depois, convertido evangélico, renegaria.
Sem pose de estrela, nunca mais foi tão visível ao grande público como naqueles anos. Ainda forrou de glória o canto de Elizeth Cardoso e Elis Regina, as letras de Paulo César Pinheiro, a França (por onde andou anos e anos, em exílio voluntário).
O Brasil-mercadão foi paulatinamente o abandonando, e justamente agora Baden assistia ao reverso da injustiça. A Trama, dirigida por um dos filhos de Elis, o contratou e se preparava para lançar dois álbuns seus. Como tudo o que é bom dura pouco...


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