São Paulo, sexta-feira, 27 de outubro de 2000

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"Sabor da Paixão", da venezuelana Fina Torres, retrata o Brasil em conto de fadas

Murilo Benício e Penélope Cruz protagonizam o filme, que estréia hoje em 81 salas em todo o Brasil
O sabor de Penélope

Divulgação
A atriz espanhola Penélope Cruz ("Tudo sobre Minha Mãe") protagoniza a comédia "Sabor da Paixão", da venezuelana Fina Torres


CRISTIAN KLEIN
DA SUCURSAL DO RIO

Para a diretora venezuelana Fina Torres, 49, tudo que há de inverossímil na comédia (gastro) romântica "Sabor da Paixão" é justificável. "Não é um documentário. É uma fábula, um conto de fadas." É assim que ela tenta explicar um filme no qual os protagonistas são dois personagens brasileiros que conversam em inglês, sendo um deles interpretado por uma atriz espanhola, Penélope Cruz ("Tudo sobre Minha Mãe" e "Carne Trêmula").
Mas a razão principal para ser falado em inglês é a origem do dinheiro: o filme foi bancado pela Fox Searchlight, divisão da 20th Century Fox voltada para filmes de baixo orçamento -este custou US$ 8 milhões. Leia a seguir trechos da entrevista à Folha.

Folha - Em algum instante, você teve medo de passar uma imagem estereotipada do Brasil?
Fina Torres -
Claro. O filme é uma comédia ligeira, sem pretensão. Mas fiquei muito preocupada. Aceitei o convite porque foi a melhor maneira de passar dois, três anos da minha vida conhecendo um país que eu adoro. Sabia que era uma responsabilidade, sendo venezuelana, fazer um filme cujo espírito é brasileiro. Mas o que mais me atraiu é que o roteiro falava do Brasil e da Bahia. Eu adoro Jorge Amado, li todos os seus livros. Todo mundo compara "Sabor da Paixão" a "Como Água para Chocolate". Mas a referência para mim é "Dona Flor e Seus Dois Maridos". Eu adorei "Dona Flor" e Sônia Braga.

Folha - O que você conhecia do Brasil antes de fazer o filme?
Torres -
Todos os países da América Latina têm o Brasil como um guia, por causa da música, da literatura, da telenovela. "Roque Santeiro" era uma telenovela tão importante na Venezuela que o trânsito parava às 20h e todo mundo corria para casa para assisti-la. Briguei para obter da Globo o trecho que está no filme.

Folha - Como foi a preparação para as filmagens?
Torres -
Passei dois anos investigando, vindo ao Brasil. Mas conheço muito de "santeria". Ela é derivação de uma religião iorubá que se dividiu em três quando veio para a América: o vodu, no Haiti; o candomblé, no Brasil; e a "santeria", em Cuba. É fascinante.

Folha - Você não acha que seu filme reforça a visão exótica a partir da qual Hollywood retrata países periféricos como o Brasil?
Torres -
Para os norte-americanos, os europeus, os anglo-saxões, a nossa forma de viver é totalmente oposta, é muito exótica. Temos muitas dificuldades políticas, econômicas, mas, ao mesmo tempo, amamos o prazer, a música, amamos o sexo. Não temos puritanismo. E não creio que a religião do candomblé seja exótica.

Folha - Como foi a escolha da atriz espanhola Penélope Cruz para o papel principal de uma brasileira falando em inglês?
Torres -
Uma atriz não precisa ser uma prostituta de verdade para se encaixar no papel. Penélope tem as características da personagem. Lembra muito Sônia Braga em "Dona Flor e Seus Dois Maridos": a fragilidade de uma menina pura e, ao mesmo tempo, uma grande sensualidade, sem ser vulgar ou agressiva. Essa mistura é muito difícil de encontrar. Claudia Ohana foi cogitada, mas o papel exigia uma atriz mais jovem.

Folha - E como foi a escolha do Murilo Benício?
Torres -
Murilo foi sugerido pela companhia Dueto, de Monique Gardenberg, que fez o casting. Ela me mostrou três filmes em que ele interpretava papéis muito diferentes, como um padre e um bandido. Fiquei impressionada.

Folha - Você tem outro projeto de filmar no Brasil. Do que se trata?
Torres -
É sobre meninos pobres que fazem surfe de trem. Mas não será uma comédia. Será um drama, um filme tenso, cuja questão da língua é um problema que ainda não sei como vou solucionar.


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