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"Sabor da Paixão", da venezuelana Fina Torres, retrata o Brasil em conto de fadas
Murilo Benício e Penélope Cruz protagonizam o filme, que estréia hoje em 81 salas em todo o Brasil
O sabor de Penélope
Divulgação
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A atriz espanhola Penélope Cruz ("Tudo sobre Minha Mãe") protagoniza a comédia "Sabor da Paixão", da venezuelana Fina Torres |
CRISTIAN KLEIN
DA SUCURSAL DO RIO
Para a diretora venezuelana Fina Torres, 49, tudo que há de inverossímil na comédia (gastro)
romântica "Sabor da Paixão" é
justificável. "Não é um documentário. É uma fábula, um conto de
fadas." É assim que ela tenta explicar um filme no qual os protagonistas são dois personagens
brasileiros que conversam em inglês, sendo um deles interpretado
por uma atriz espanhola, Penélope Cruz ("Tudo sobre Minha
Mãe" e "Carne Trêmula").
Mas a razão principal para ser
falado em inglês é a origem do dinheiro: o filme foi bancado pela
Fox Searchlight, divisão da 20th
Century Fox voltada para filmes
de baixo orçamento -este custou US$ 8 milhões. Leia a seguir
trechos da entrevista à Folha.
Folha - Em algum instante, você
teve medo de passar uma imagem
estereotipada do Brasil?
Fina Torres - Claro. O filme é
uma comédia ligeira, sem pretensão. Mas fiquei muito preocupada. Aceitei o convite porque foi a
melhor maneira de passar dois,
três anos da minha vida conhecendo um país que eu adoro. Sabia que era uma responsabilidade, sendo venezuelana, fazer um
filme cujo espírito é brasileiro.
Mas o que mais me atraiu é que o
roteiro falava do Brasil e da Bahia.
Eu adoro Jorge Amado, li todos os
seus livros. Todo mundo compara "Sabor da Paixão" a "Como
Água para Chocolate". Mas a referência para mim é "Dona Flor e
Seus Dois Maridos". Eu adorei
"Dona Flor" e Sônia Braga.
Folha - O que você conhecia do
Brasil antes de fazer o filme?
Torres - Todos os países da América Latina têm o Brasil como um
guia, por causa da música, da literatura, da telenovela. "Roque
Santeiro" era uma telenovela tão
importante na Venezuela que o
trânsito parava às 20h e todo
mundo corria para casa para assisti-la. Briguei para obter da Globo o trecho que está no filme.
Folha - Como foi a preparação para as filmagens?
Torres - Passei dois anos investigando, vindo ao Brasil. Mas conheço muito de "santeria". Ela é
derivação de uma religião iorubá
que se dividiu em três quando
veio para a América: o vodu, no
Haiti; o candomblé, no Brasil; e a
"santeria", em Cuba. É fascinante.
Folha - Você não acha que seu filme reforça a visão exótica a partir
da qual Hollywood retrata países
periféricos como o Brasil?
Torres - Para os norte-americanos, os europeus, os anglo-saxões,
a nossa forma de viver é totalmente oposta, é muito exótica. Temos
muitas dificuldades políticas, econômicas, mas, ao mesmo tempo,
amamos o prazer, a música, amamos o sexo. Não temos puritanismo. E não creio que a religião do
candomblé seja exótica.
Folha - Como foi a escolha da atriz
espanhola Penélope Cruz para o
papel principal de uma brasileira
falando em inglês?
Torres - Uma atriz não precisa
ser uma prostituta de verdade para se encaixar no papel. Penélope
tem as características da personagem. Lembra muito Sônia Braga
em "Dona Flor e Seus Dois Maridos": a fragilidade de uma menina pura e, ao mesmo tempo, uma
grande sensualidade, sem ser vulgar ou agressiva. Essa mistura é
muito difícil de encontrar. Claudia Ohana foi cogitada, mas o papel exigia uma atriz mais jovem.
Folha - E como foi a escolha do
Murilo Benício?
Torres - Murilo foi sugerido pela
companhia Dueto, de Monique
Gardenberg, que fez o casting. Ela
me mostrou três filmes em que ele
interpretava papéis muito diferentes, como um padre e um bandido. Fiquei impressionada.
Folha - Você tem outro projeto de
filmar no Brasil. Do que se trata?
Torres - É sobre meninos pobres
que fazem surfe de trem. Mas não
será uma comédia. Será um drama, um filme tenso, cuja questão
da língua é um problema que ainda não sei como vou solucionar.
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