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"CINEMA DE NOVO - UM BALANÇO CRÍTICO DA RETOMADA"
Livro vê Brasil pelos olhos do cinema
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
De quando em quando, surge
no Brasil um livro que sistematiza e comenta a produção cinematográfica mais ou menos recente do país.
Entre essas obras de "limpeza
do terreno" estão, por exemplo, a
"Revisão Crítica do Cinema Brasileiro", de Glauber Rocha, publicada no início dos anos 60 e reeditada há pouco, e o ensaio "Brasil
em Tempo de Cinema", que o crítico Jean-Claude Bernardet lançou nos anos 70.
"Cinema de Novo", do jornalista e crítico de cinema Luiz Zanin
Oricchio, pertence a essa linhagem. Com uma diferença: ao fazer
o que chama de "um balanço crítico da retomada", Zanin se distancia tanto do viés militante de
Glauber como da chave única de
leitura adotada então (e hoje matizada) por Bernardet.
É com uma visão mais equilibrada e permeável à pluralidade
de propostas estéticas e políticas
que "Cinema de Novo" encara a
produção cinematográfica brasileira dos últimos dez anos.
A tentativa de uma abordagem
serena e livre de cabrestos ideológicos não implica, porém, ausência de paixão, muito menos de
metodologia. Não é um livro eclético e impressionista.
Logo na apresentação do volume, Zanin deixa claro que seu
principal foco, ao analisar os filmes, estará voltado para "a maneira como refletiram e construíram a imagem do país".
Essa decisão serve como bússola ao trabalho interpretativo, ao
mesmo tempo que, para o bem e
para o mal, limita seu campo de
estudo. Dá-se destaque, no livro,
aos filmes que carregam de forma
mais explícita uma representação
do tecido social brasileiro.
Títulos como "O Invasor", "Cidade de Deus" e "Central do Brasil" são destrinchados em minúcias, mas fica de fora, por exemplo, a obra experimental de um
Julio Bressane, embora dois longas realizados pelo cineasta no período, "O Mandarim" e "Miramar", transpirem Brasil por todos
os poros.
Mas, se a ênfase no cinema como representação do social determina o recorte do livro, não se pode dizer que sua abordagem seja
"conteudista" ou que descuide
dos valores específicos da linguagem cinematográfica.
Blocos temáticos
É certo que, ao dispor os filmes
em blocos temáticos ("a esfera
privada", "o sertão e a favela",
"classes em choque" etc.), o autor
tende, por vezes, a enfatizar neles
aquilo que interessa à linha de
análise, deixando de lado seus outros aspectos.
Assim, obras complexas e refinadas como "A Ostra e o Vento" e
"Lavoura Arcaica" são abordadas
apenas pelo que aduzem à discussão do patriarcalismo e das tensões da família nuclear brasileira.
Esse viés temático não impede
Zanin de realizar exegeses admiráveis, quando se concede o tempo necessário de análise. Isso
ocorre não só no estudo de filmes
que o autor ama, como "Estorvo",
mas também nos que detesta, como "Domésticas".
Em momentos assim, Zanin
mobiliza toda a sua extensa cultura humanista, seu conhecimento
da história do cinema e seu invejável olho crítico, num texto límpido e saboroso.
Cinema de Novo - Um Balanço Crítico da Retomada
Autor: Luiz Zanin Oricchio
Editora: Estação Liberdade
Quanto: R$ 36 (255 págs.)
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