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São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 2003

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"CINEMA DE NOVO - UM BALANÇO CRÍTICO DA RETOMADA"

Livro vê Brasil pelos olhos do cinema

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

De quando em quando, surge no Brasil um livro que sistematiza e comenta a produção cinematográfica mais ou menos recente do país.
Entre essas obras de "limpeza do terreno" estão, por exemplo, a "Revisão Crítica do Cinema Brasileiro", de Glauber Rocha, publicada no início dos anos 60 e reeditada há pouco, e o ensaio "Brasil em Tempo de Cinema", que o crítico Jean-Claude Bernardet lançou nos anos 70.
"Cinema de Novo", do jornalista e crítico de cinema Luiz Zanin Oricchio, pertence a essa linhagem. Com uma diferença: ao fazer o que chama de "um balanço crítico da retomada", Zanin se distancia tanto do viés militante de Glauber como da chave única de leitura adotada então (e hoje matizada) por Bernardet.
É com uma visão mais equilibrada e permeável à pluralidade de propostas estéticas e políticas que "Cinema de Novo" encara a produção cinematográfica brasileira dos últimos dez anos.
A tentativa de uma abordagem serena e livre de cabrestos ideológicos não implica, porém, ausência de paixão, muito menos de metodologia. Não é um livro eclético e impressionista.
Logo na apresentação do volume, Zanin deixa claro que seu principal foco, ao analisar os filmes, estará voltado para "a maneira como refletiram e construíram a imagem do país".
Essa decisão serve como bússola ao trabalho interpretativo, ao mesmo tempo que, para o bem e para o mal, limita seu campo de estudo. Dá-se destaque, no livro, aos filmes que carregam de forma mais explícita uma representação do tecido social brasileiro.
Títulos como "O Invasor", "Cidade de Deus" e "Central do Brasil" são destrinchados em minúcias, mas fica de fora, por exemplo, a obra experimental de um Julio Bressane, embora dois longas realizados pelo cineasta no período, "O Mandarim" e "Miramar", transpirem Brasil por todos os poros.
Mas, se a ênfase no cinema como representação do social determina o recorte do livro, não se pode dizer que sua abordagem seja "conteudista" ou que descuide dos valores específicos da linguagem cinematográfica.

Blocos temáticos
É certo que, ao dispor os filmes em blocos temáticos ("a esfera privada", "o sertão e a favela", "classes em choque" etc.), o autor tende, por vezes, a enfatizar neles aquilo que interessa à linha de análise, deixando de lado seus outros aspectos.
Assim, obras complexas e refinadas como "A Ostra e o Vento" e "Lavoura Arcaica" são abordadas apenas pelo que aduzem à discussão do patriarcalismo e das tensões da família nuclear brasileira.
Esse viés temático não impede Zanin de realizar exegeses admiráveis, quando se concede o tempo necessário de análise. Isso ocorre não só no estudo de filmes que o autor ama, como "Estorvo", mas também nos que detesta, como "Domésticas".
Em momentos assim, Zanin mobiliza toda a sua extensa cultura humanista, seu conhecimento da história do cinema e seu invejável olho crítico, num texto límpido e saboroso.


Cinema de Novo - Um Balanço Crítico da Retomada
    
Autor: Luiz Zanin Oricchio
Editora: Estação Liberdade
Quanto: R$ 36 (255 págs.)



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