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Em seu mais recente filme, Pablo Trapero coloca 12 membros de uma família num caminhão para uma viagem
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN
Encerrar 12 membros de uma
família, incluindo avó, filhas, maridos, cunhados, netos adolescentes, bebê e cão, entre quatro paredes e por várias horas, já sugere algo no mínimo tenso e claustrofóbico. Agora imagine que isso
acontece sobre quatro rodas e por
muitas horas, no interior de um
caminhão transformado em uma
espécie de casa rodante. E faz calor, muito calor.
É a partir dessa situação que o
cineasta argentino Pablo Trapero
construiu seu "Família Rodante",
que a 28ª Mostra exibe hoje, um
"road movie" protagonizado por
uma típica família de classe média
argentina asfixiada pela crise econômica e por seus próprios valores. Recebido com elogios no recém-encerrado New York Film
Festival, "Família Rodante" tem a
avó do próprio diretor como personagem principal.
Graciana Chironi -que também já havia atuado nos dois filmes anteriores de Trapero,
"Mundo Grúa" (1999) e "El Bonaerense" (2002)- interpreta
Emilia, a matriarca, que acaba de
completar 84 anos e exige que
seus familiares a acompanhem
até a pequena cidade de Misiones,
na fronteira com o Brasil, para o
casamento de um parente.
Leia abaixo a entrevista que
Trapero, 33, hoje um dos principais nomes do novo cinema argentino, concedeu à Folha, por telefone, de Buenos Aires.
Folha - Os personagens nunca falam de política nem de cultura, mas
a Argentina de nossos dias está
presente o tempo todo. Por que
quis criar essa sensação?
Pablo Trapero - A proposta era
justamente que os personagens
não falassem sobre o que é realmente importante, não só sobre
política como sobre eles mesmos.
Não se fala nem de sexo, nem dos
problemas sérios de relacionamento que existem na família. O
que mais me interessava era construir um longa-metragem em que
o que importa estivesse presente
sem nunca ser dito.
Folha - E de onde veio essa idéia?
Trapero - "Família Rodante" foi
o primeiro roteiro que escrevi, há
quase dez anos. A idéia surgiu depois de fazer um curta-metragem
com minha avó, Graciana Chironi. Gostei muito da experiência e
quis escrever uma história em que
ela estivesse no centro. Além disso, quando eu era pequeno, costumava fazer muitas viagens numa espécie de casa rodante construída pelo meu pai, que é a mesma que aparece no filme.
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