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Caixa recupera música dos anos 70
25.mar.1976/Folha Imagem
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Alceu Valença, um dos que teve suas gravações recuperadas |
Coleção com 19 discos inclui "Acabou Chorare", dos Novos Baianos, e raridades de Moraes Moreira e Alceu Valença
As muitas experiências da década, em que samba, baião e rock progressivo não eram excludentes, aparecem em outros títulos
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
No meio de uma variada coleção de 19 discos que vão do
clássico ao pop, passando pelo
samba-enredo, muita gente pode lembrar que os títulos escolhidos são inferiores a outros
do acervo da Som Livre -que
abrange os da RGE e da Fermata. Mas o certo é que não há joio
no trigo que o titã Charles Gavin tem relançado em CD.
Basta dizer que no pacote há
"Acabou Chorare" (1972), dos
Novos Baianos. Não é apenas o
melhor álbum do grupo de Moraes Moreira, Baby então Consuelo etc., mas um dos melhores discos já feitos no Brasil.
É marcado pela influência de
João Gilberto sobre eles, e une
samba, rock, onomatopéias e
grandes idéias. Muito do que
Marisa Monte e outros fizeram
e fazem têm seu berço ali. No
repertório, "Brasil Pandeiro",
"Preta, Pretinha", "Mistério do
Planeta", "Menina Dança"...
E Moraes ainda está na coleção com "Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira" (1979).
O grande achado é mesmo a faixa-título, em que o antigo samba carioca, a bossa nova e os
sons baianos se encontram. O
excesso de guitarras baianas
cansa os ouvidos de hoje, mas o
disco tem boas composições
como "O Prometeu".
"Vivo!" (1976), de Alceu Valença, teve grande importância
em sua carreira, pois foi o resultado do show "Vou Danado Prá
Catende", que firmou seu nome no eixo Rio-São Paulo.
Acompanhado de Zé Ramalho
e outros, Alceu mostra ali o caráter performático de suas interpretações, a sem-cerimônia
ao fundir sons dos mais variados e a qualidade de suas composições, entre elas "Pontos
Cardeais" e "Sol e Chuva".
Outros títulos
As muitas experiências dos
anos 70, em que samba, baião e
rock progressivo não eram excludentes, aparecem em outros
títulos da coleção.
Por exemplo: "Trio Mocotó"
(1973), com o próprio; "Casa
das Máquinas" (1974), idem;
"Nossa Imaginação", com Don
Beto; e "Joelho de Porco"
(1978), com os roqueiros teatrais iconoclastas de São Paulo.
Todos têm qualidade e, além
disso, permitem que se faça um
reconhecimento das experiências da décadas.
Um disco dos anos 70 bem
mais calmo é "Passaredo" (77),
de Francis Hime. É um de seus
melhores trabalhos, pois une
ótimas parcerias com Ruy
Guerra ("Máscara", "Último
Retrato", "Carta") e Chico
Buarque ("Trocando Miúdos",
a faixa-título e duas infelizmente pouco conhecidas: "Maravilha" e "Luísa"). Um trabalho com muita beleza mas nem
tanta alegria.
O romantismo e a bossa nova
estão presentes em "Vanguarda", disco do cantor de vozeirão
Agostinho dos Santos que já é
interessante pelo título, e
"Canção do Amor Mais Triste",
em que Maysa reafirma sua fossa de voz de veludo.
A hoje pouco lembrada Claudia também tem um disco ousado, de 1967, em que gravava
os então jovens Gilberto Gil e
Chico Buarque.
A ala instrumental, paixão de
Gavin, está muito bem representada por Hector Costita e
seu sexteto. No disco de 64, em
que conta com participações
como a do baterista Edison Machado, o saxofonista mostra
sua maneira muito própria de
interpretar as canções da bossa
nova. Não envelheceu em nada.
Talvez um outro item da coleção não tenha sobrevivido ao
tempo, mas valor histórico não
há um que não tenha.
SOM LIVRE MASTERS
Artistas: vários
Gravadora: Som Livre
Quanto: R$ 25 cada, em média, cada um
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