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Livro desmistifica imagem inocente de Clara Nunes
Fartamente ilustrado, "Guerreira da Utopia", do jornalista Vagner Rodrigues, mostra personalidade "sagaz e observadora"
Quase 25 anos depois, biografia reexamina polêmica morte da cantora, durante cirurgia de varizes, que gerou "circo" midiático
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL
Foi de vestido branco, sorrindo, gingando com sua cabeleira
e cantando sambas, que a mineira Clara Nunes se eternizou
na música brasileira.
Mas essa personagem, talhada sob medida por sua gravadora, é apenas a mais bem-sucedida das que Clara Francisca
Gonçalves se dispôs a viver, como mostra o jornalista Vagner
Fernandes na biografia "Clara
Nunes - Guerreira da Utopia".
"A Clara tal qual a conhecemos, a imagem que ficou no inconsciente coletivo, foi pré-concebida. Até gravar o disco
que marcaria sua virada [para o
samba], em 1971, ela era uma
cantora de bolero, de músicas
de gosto duvidoso", diz Fernandes à Folha, por telefone.
O livro, lançado agora, quando se aproximam os 25 anos da
morte da artista (em 2/4/83,
aos 40 anos), também desmistifica a imagem mais comum
que se tem da cantora pré-sucesso. "A visão da Clara como
uma menina inocente, interiorana, com roupa de chita e uma
sacola na mão, não condiz com
as narrativas que escutei de
pessoas que conviveram com
ela. Até pelas circunstâncias
em que viveu, ela foi sagaz e observadora desde cedo."
Os diversos percalços de Clara são narrados em detalhes
-ela perdeu o pai aos dois
anos, a mãe aos seis e teve de se
mudar para Belo Horizonte aos
15, após seu irmão matar um
rapaz para defender sua honra.
Fartamente ilustrada, a obra
acompanha toda a trajetória
musical da cantora, desde os
tempos de caloura do rádio
até o estouro na década de
70, com uma série de discos
cheios de sucessos como "Ê
Baiana", "Conto de Areia" e
"Na Linha do Mar".
Morte polêmica
"Guerreira da Utopia" também reexamina a polêmica
morte da cantora, durante uma
cirurgia de varizes. Fernandes
entrevistou Antonio Vieira de
Mello, cirurgião-chefe da equipe que operou Clara, e este solicitou o desarquivamento da
sindicância aberta pelo Conselho Regional de Medicina do
Rio na época.
"Ele queria mostrar sua inocência. Falou: "Está tudo aqui,
eu não matei a Clara"."
Durante os 28 dias em que
agonizou, a cantora foi vítima
justamente do que mais queria
evitar, o "circo" midiático de
especulações que ela já tinha
visto na morte de Elis Regina,
no ano anterior. As versões para sua internação "eram as
mais esdrúxulas possíveis", diz
Fernandes. "Inseminação artificial, aborto, tentativa de suicídio, surra de seu marido, Paulo
César Pinheiro, foram várias as
hipóteses aventadas."
Do mesmo modo, as causas
de sua morte também causaram suspeitas por longo tempo,
mas Fernandes é categórico em
sua conclusão.
"Ela teve uma reação alérgica
a um componente do anestésico, algo imprevisível. Foi uma
infelicidade."
CLARA NUNES - GUERREIRA
DA UTOPIA
Autor: Vagner Fernandes
Editora: Ediouro
Quanto: R$ 50, em média (320 págs.)
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