São Paulo, terça, 27 de outubro de 1998

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DISCO - LANÇAMENTOS
A volta ao passado


Pacote com cinco caixas de quatro CDs cada recupera títulos históricos da RGE, que nunca haviam saído do formato vinil


Erasmo tem primeiros discos reeditados

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

A importância da "outra metade" de Roberto Carlos, seu parceiro Erasmo Carlos, começa a ser medida com a reedição, pela gravadora RGE -no formato caixinha ou em CDs avulsos- de quatro de seus primeiros álbuns, lançados entre 1965 e 1969.
"A Pescaria", "Você Me Acende" e "O Tremendão" são o auge da era jovem guarda do artista. "Erasmo Carlos e Os Tremendões" é o segundo produto pós-degeneração do movimento.
Ficam faltando, injustificavelmente, os dois CDs de transição, "Erasmo Carlos" (67), o último ainda mergulhado no iê-iê-iê, e "Erasmo Carlos" (68), o primeiro disco de soul music de Erasmo, feito sob influência de Tim Maia e provavelmente o mais completo do período RGE do artista.
A recuperação incompleta não é o único defeito da gravadora. A caixinha, de projeto estético duvidoso, encarta um libreto com textos explicativos repletos de erros, às vezes desconexos (diz-se, por exemplo, de Roberto e Erasmo, que o romantismo é "o carro-chefe dos dois em todas as suas composições"), sem as datas originais de lançamento dos álbuns, com reproduções chapadas de capas.
Mas o que passou é do bem. "A Pescaria" (65), LP de estréia do Erasmo solo, já vem cheio de clássicos jovem guarda: "A Pescaria", "Festa de Arromba", "Minha Fama de Mau" (nesta, a jovem guarda dá palha para o rock'n'roll, Erasmo abrindo novas trilhas a facão).
A ingenuidade dá as cartas, mas Erasmo já começa a se consumar como intérprete de voz cândida, maior que as bobagens que canta (tipo "Tom & Jerry", do inacreditável Getúlio Cortes).
Em "Você Me Acende" (66), Erasmo se revela um manipulador. Entre mimos melados para menininhas -"A Carta", "Gatinha Manhosa"-, intercala uma pancada de temas furiosos de blues rock: "Você Me Acende", "Cuide Dela Direitinho", "O Homem da Motocicleta", "Deixa de Banca", a impagável "O Carango" ("Ninguém sabe o duro que dei/ pra ter fom-fom trabalhei, trabalhei"). O rock nacional toma corpo.
Menos inspirado, "O Tremendão" mantém a fórmula. No lado romanticozinho, manda a fofa "Estrelinha", "O Bilhetinho" e uma versão desastrada de "Eu Sonhei Que Tu Estavas Tão Linda", de Lamartine Babo.
No setor rebeldia, há apenas -apenas?- o clássico "Vem Quente Que Eu Estou Fervendo", mais as menos conhecidas "Eu Não Me Importo", "O Dono da Bola" e "O Tremendão".
Em "Erasmo Carlos e Os Tremendões" (69), já é outro Erasmo que se apresenta. Marcado por dissonâncias tropicalistas -uma versão para "Saudosismo", de Caetano, "Estou Dez Anos Atrasado", "Gloriosa"-, antecipa o funk (numa versão de "Aquarela do Brasil", acredite) e namora soul ("Espuma Congelada", "Jeep") e samba à Jorge Ben ("Coqueiro Verde").
Os sucessos também são arrasa-quarteirão: "Sentado à Beira do Caminho", um dos grandes produtos da grife Roberto-Erasmo, e "Vou Ficar Nu para Chamar Sua Atenção" (aparentemente gravada por um Erasmo gripado).
Aí estava dada a senha para a abertura da fase dourada de Erasmo, a dos 70. Mas essa é com a dona PolyGram.
² ²

Discos: A Pescaria, Você Me Acende, O Tremendão, Erasmo Carlos e Os Tremendões Artista: Erasmo Carlos Lançamento: RGE Quanto: cerca de R$ 18, cada CD, ou R$ 60, a caixa



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