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DISCO - LANÇAMENTOS
A volta ao passado
Pacote com cinco caixas de quatro CDs cada recupera títulos históricos da RGE, que nunca haviam saído do formato vinil
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Erasmo tem primeiros discos reeditados
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
A importância da "outra metade" de Roberto Carlos, seu parceiro Erasmo Carlos, começa a ser
medida com a reedição, pela gravadora RGE -no formato caixinha ou em CDs avulsos- de quatro de seus primeiros álbuns, lançados entre 1965 e 1969.
"A Pescaria", "Você Me Acende"
e "O Tremendão" são o auge da era
jovem guarda do artista. "Erasmo
Carlos e Os Tremendões" é o segundo produto pós-degeneração
do movimento.
Ficam faltando, injustificavelmente, os dois CDs de transição,
"Erasmo Carlos" (67), o último
ainda mergulhado no iê-iê-iê, e
"Erasmo Carlos" (68), o primeiro
disco de soul music de Erasmo, feito sob influência de Tim Maia e
provavelmente o mais completo
do período RGE do artista.
A recuperação incompleta não é
o único defeito da gravadora. A
caixinha, de projeto estético duvidoso, encarta um libreto com textos explicativos repletos de erros,
às vezes desconexos (diz-se, por
exemplo, de Roberto e Erasmo,
que o romantismo é "o carro-chefe
dos dois em todas as suas composições"), sem as datas originais de
lançamento dos álbuns, com reproduções chapadas de capas.
Mas o que passou é do bem. "A
Pescaria" (65), LP de estréia do
Erasmo solo, já vem cheio de clássicos jovem guarda: "A Pescaria",
"Festa de Arromba", "Minha Fama
de Mau" (nesta, a jovem guarda dá
palha para o rock'n'roll, Erasmo
abrindo novas trilhas a facão).
A ingenuidade dá as cartas, mas
Erasmo já começa a se consumar
como intérprete de voz cândida,
maior que as bobagens que canta
(tipo "Tom & Jerry", do inacreditável Getúlio Cortes).
Em "Você Me Acende" (66),
Erasmo se revela um manipulador.
Entre mimos melados para menininhas -"A Carta", "Gatinha Manhosa"-, intercala uma pancada
de temas furiosos de blues rock:
"Você Me Acende", "Cuide Dela
Direitinho", "O Homem da Motocicleta", "Deixa de Banca", a impagável "O Carango" ("Ninguém sabe o duro que dei/ pra ter fom-fom
trabalhei, trabalhei"). O rock nacional toma corpo.
Menos inspirado, "O Tremendão" mantém a fórmula. No lado
romanticozinho, manda a fofa
"Estrelinha", "O Bilhetinho" e
uma versão desastrada de "Eu Sonhei Que Tu Estavas Tão Linda",
de Lamartine Babo.
No setor rebeldia, há apenas
-apenas?- o clássico "Vem
Quente Que Eu Estou Fervendo",
mais as menos conhecidas "Eu
Não Me Importo", "O Dono da Bola" e "O Tremendão".
Em "Erasmo Carlos e Os Tremendões" (69), já é outro Erasmo
que se apresenta. Marcado por dissonâncias tropicalistas -uma versão para "Saudosismo", de Caetano, "Estou Dez Anos Atrasado",
"Gloriosa"-, antecipa o funk (numa versão de "Aquarela do Brasil",
acredite) e namora soul ("Espuma
Congelada", "Jeep") e samba à Jorge Ben ("Coqueiro Verde").
Os sucessos também são arrasa-quarteirão: "Sentado à Beira do
Caminho", um dos grandes produtos da grife Roberto-Erasmo, e
"Vou Ficar Nu para Chamar Sua
Atenção" (aparentemente gravada
por um Erasmo gripado).
Aí estava dada a senha para a
abertura da fase dourada de Erasmo, a dos 70. Mas essa é com a dona PolyGram.
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Discos: A Pescaria, Você Me Acende, O
Tremendão, Erasmo Carlos e Os Tremendões
Artista: Erasmo Carlos
Lançamento: RGE
Quanto: cerca de R$ 18, cada CD, ou R$ 60, a
caixa
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