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Os meninos (nem tanto) de Marguerite Duras
Associated Press
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A escritora Marguerite Duras, cujos textos são alvo de disputa na França |
Jean Mascolo, filho da escritora francesa, e Yann Andréa, seu último companheiro, disputam na Justiça o direito sobre a edição póstuma de suas obras
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FÁTIMA GIGLIOTTI
de Paris
Tudo bem, eles não são tão meninos assim. Mas Jean Mascolo,
51, filho da escritora francesa
Marguerite Duras com Dionys
Mascolo, e Yann Andréa, 46, seu
último companheiro, são os protagonistas de uma disputa judicial
sobre os direitos de publicar
obras da escritora que está gerando um ti-ti-ti um tanto "infantil".
"Ele sente muito ciúme de mim,
acha que eu tomei o seu lugar, o
que não é verdade. Eu tinha muitas funções na vida de Duras, mas
não a de filho. Eu sabia que ela tinha um filho e ele é o filho dela",
disse Andréa à Folha.
O objeto da disputa judicial é o
livro "Duras, La Cuisine de Marguerite", que Mascolo publicou
por meio da sua editora, Benoit
Jacob, em fevereiro, uma obra
com algumas das receitas preferidas de sua mãe, com comentários
dela e fotos da cozinha da escritora. "Não há uma palavra que não
tenha sido escrita por minha
mãe", disse Mascolo à Folha.
"Se ele quisesse fazer um livro,
deveria escrever sobre sua mãe, e
que assinasse seu nome, Jean
Mascolo", argumenta Andréa.
Marguerite Duras deixou em
testamento a missão de executor
literário de sua obra a Yann Andréa, além de 10% dos direitos autorais, seu patrimônio, propriedades e os direitos patrimoniais
das suas obras para o filho.
"O problema é que não existe a
expressão executor literário na legislação francesa, e a Justiça deu
uma interpretação extensiva a ela,
equiparando-a ao conceito de
"executor testamenteiro", dando a
Andréa o direito de decidir sobre
a divulgação de todas as obras
póstumas de Marguerite Duras",
esclareceu a advogada de Mascolo, Anne-Carine Jacoby, à Folha.
Com esse direito, Andréa obteve na Justiça a interdição do livro
editado por Mascolo em maio,
quando 10 mil exemplares já tinham sido vendidos, e a decisão
foi confirmada no recurso de Jacoby à sentença, em setembro.
"Duras me nomeou executor literário de toda a sua obra, eu sou
o responsável por cuidar do aspecto moral de seus livros, e ninguém pode utilizar uma palavra
dela sem a minha autorização.
Uma escritora não tem filhos, ela
tem leitores", afirmou Andréa.
No entanto, ele se diz pronto a
colaborar numa revisão da edição
com Mascolo, para a qual ele daria carta branca. "Mas ele não me
respondeu. Não foi à toa que ele
fez esse livro. É o sonho de toda
criança que sua mãe cozinhe para
ela, mas Duras me disse que mesmo que ele pedisse, quando ela estava escrevendo, ela não cedia,
não parava. Entendo que seja doloroso para ele, mas eu também
não vou ceder", afirmou Andréa.
De sua parte, Mascolo reclama
que essa querela "grotesca" não
faz sentido. Durante dois anos,
enquanto Andréa se recuperava
da morte de Duras isolado do
mundo, foi o filho quem administrou toda a obra da escritora, recuperou as cópias de seus filmes e
chegou a organizar uma mostra
que está rodando o mundo.
De 1966 a 1982, ele trabalhou
com a mãe em todos os seus filmes, em várias funções, da fotografia à assistência de direção. Ele
também documentou a produção
de toda a obra cinematográfica da
mãe, "em cinco vídeos únicos que
são um tesouro para os cinéfilos".
"Andréa deveria me ajudar a gerir a obra da minha mãe. Fiz um
trabalho intenso nos dois anos
que se seguiram à morte dela, mas
ele está fazendo totalmente o contrário", disse Mascolo, que acusa
o último companheiro de sua
mãe de fazer uma perseguição
"nonsense" junto aos editores para dificultar qualquer publicação
que envolva o nome da escritora.
"Há alguns meses, eu fui consultado para colaborar na publicação de uma agenda para o ano
2000 com textos da minha mãe,
mas a editora cancelou em função
dessa disputa", afirmou Mascolo.
Jacoby explica que, "por causa
desse terrorismo que Andréa está
fazendo", não apenas "Duras, La
Cuisine de Marguerite" está interditado, mas qualquer edição póstuma com textos de Duras.
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