São Paulo, segunda-feira, 27 de novembro de 2000

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Sociólogo evoca os deuses do candomblé

Saravá!


"Mitologia dos Orixás", que chega às lojas nesta semana, reúne 301 histórias da religião que veio da África há 170 anos


Gilliola Vesentini/Reprodução do livro "Mitologia dos Orixás"
Oiá, orixá dos ventos, do raio e da tempestade; uma das mulheres de Xangô, orixá do trovão e da justiça; na foto, ela executa uma dança de guerra


ALCINO LEITE NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

301 é um número pequeno quando se pensa, por exemplo, no total de vaga-lumes que é preciso para gerar um brilho equivalente ao do Sol: 14.286.000.000.
Com 301 histórias, no entanto, o sociólogo paulista Reginaldo Prandi lança luz fortíssima sobre uma parte da cultura brasileira que a maioria dos leitores desconhece: o mundo dos deuses do candomblé.
As narrativas compõem "Mitologia dos Orixás", que chega no final desta semana às livrarias. O livro é um acontecimento cultural: trata-se da maior reunião já realizada em todo o mundo dos mitos dessa religião politeísta muito viva, polêmica e hoje bastante internacional, como diz Prandi.
301 é também o número que representa uma quantidade infinita, incontável, no antigo sistema de enumeração iorubá, o grupo cultural africano que está na origem do candomblé -religião que chegou ao Brasil há cerca de 170 anos com os últimos africanos trazidos como escravos para o país, da Nigéria e de Benin.
Os mitos, transmitidos sobretudo oralmente ao longo das gerações, foram recolhidos por Prandi e sua equipe nos terreiros do Brasil, de Cuba e da África, em documentos mantidos até então em segredo e em diferentes coletâneas pioneiras, como a de Pierre Verger, que as registraram em menor número.
A partir dos relatos, Prandi reescreveu ele próprio as histórias, uma a uma, inspirado na forma de poemas em versos livres dos babalaôs africanos. O resultado é um livro cientificamente rigoroso -pois ali cada imagem, comparação ou descrição pertence ao conjunto do corpo mítico-, mas também de muita vibração estética (e para alguns, espiritual), pela intensidade simbólica alcançada nas narrativas.
Professor titular de sociologia da USP, Prandi tem 54 anos e dedica-se há década e meia ao estudo do candomblé. Com seus alunos, está fazendo uma pesquisa sobre a presença dos orixás na MPB. Já foram cadastradas mil gravações que citam os deuses africanos. O resultado, que deve alcançar 1.500 músicas, será publicado em livro no ano que vem.


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