São Paulo, segunda-feira, 27 de novembro de 2000

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TEATRO
Lima Duarte participa de leitura da peça de Plínio Marcos, hoje na Folha

"Abajur Lilás" espelha desumanidade

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Cafetões, prostitutas, mocós, mamunhas e o escambau. "O Abajur Lilás" é das peças em que Plínio Marcos (1935-99) mergulha com mais contundência no universo daqueles que vivem à margem da vida -aqui, a violência verbal, física e moral faz trio com "Dois Perdidos numa Noite Suja" e "Navalha na Carne".
Um ano após a morte do dramaturgo, "O Abajur Lilás" participa hoje do ciclo "Leituras de Teatro", promovido pela Folha. Mais do que efemérides, no entanto, o diretor Sérgio Ferrara quer ressaltar o contexto em que a peça foi escrita e sua atualidade.
"O texto é uma metáfora da ditadura, da repressão que o Brasil vivia nos anos 70, uma faceta pouco comentada em relação à obra do autor", diz Ferrara, que montou "Barrela" no ano passado. (Plínio teria gostado tanto do espetáculo que lhe recomendou "O Abajur Lilás".)
Mas, na avaliação de Ferrara, o tempo amainou o enfoque político e sublimou uma desumanidade atemporal. "Neste momento de total desatenção social, os personagens podem ser entendidos como herdeiros da desgraça nacional, da desumanidade econômica e cultural", afirma o diretor.
Censurada em 1970 ("Dentro do contexto, não se pode querer que os personagens falem outra linguagem", deixou escapar o censor em seu despacho, a despeito dos palavrões, num lampejo de ponderação), a peça só foi liberada uma década depois. Chegou ao palco pela primeira vez com Fauzi Arap na direção e Walderez de Barros, ex-mulher de Plínio, encabeçando o elenco.
O ator Lima Duarte, que chegou a ensaiar "O Abajur Lilás", mas nunca subiu ao palco para interpretar o cafetão Giro, por conta da censura, retoma o papel na leitura de hoje à noite, passados cerca de 20 anos.
Completam o elenco as atrizes Ester Góes (Dilma), Magali Biff (Célia) e Iara Jamra (Leninha), todas na pele de prostitutas. Há ainda um quinto personagem, Osvaldo, espécie de leão-de-chácara do cafetão, que deve ser lido pelo próprio Ferrara (ele ainda não havia definido se chamaria outro ator para o papel).
Giro, um homossexual decadente, nas palavras de Ferrara, é dono do bordel, o mocó. O sujeito explora a veterana Dilma, quer "mais produção" da mulher que chega a fazer oito programas por noite e vê na "profissão" a chance de garantir a formação do filho.
O cafetão também exige "produtividade" de Célia, alcoólatra e a única que tem coragem de contestar o seu reinado. Ela procura convencer as demais a fazer o mesmo. Esse enfrentamento, porém, lhe custará caro.
Leninha é a "caçula", inexperiente, mas convicta de que está ali para faturar para o rango e para a revista de fofocas sobre o mundo dos artistas.
A leitura dessa revista -um paradoxo pliniano recorrente em se tratando do submundo como ele é- vai implodir os conflitos. Quando Leninha chega para dividir o local, pede a Giro que conserte o abajur, objeto até então desprezado por todos. Ela justifica: gosta de ler à noite.
O cafetão aproveita e "dá um trato" no mocó, embeleza o ambiente. Dias depois, porém, várias bugigangas aparecem destruídas. Giro quer descobrir quem lhe deu prejuízo. Mais que isso, quer "apagar" aquela que se insurgiu.
Sérgio Ferrara ("Pobre Super-Homem") pretende montar "O Abajur Lilás" em abril de 2001, com o mesmo elenco da leitura.


O quê: ciclo Leituras de Teatro Peça: O Abajur Lilás Texto: Plínio Marcos Direção: Sérgio Ferrara Com: Lima Duarte, Ester Góes, Magali Biff e Iara Jamra Quando: hoje, às 19h30 Onde: auditório da Folha (al. Barão de Limeira, 425, 9º andar, Campos Elíseos) Quanto: entrada franca (reservas, das 14h às 17h, pelo tel. 0/xx/11/3224-3473)

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