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TEATRO
Lima Duarte participa de leitura da peça de Plínio Marcos, hoje na Folha
"Abajur Lilás" espelha desumanidade
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Cafetões, prostitutas, mocós,
mamunhas e o escambau. "O
Abajur Lilás" é das peças em que
Plínio Marcos (1935-99) mergulha com mais contundência no
universo daqueles que vivem à
margem da vida -aqui, a violência verbal, física e moral faz trio
com "Dois Perdidos numa Noite
Suja" e "Navalha na Carne".
Um ano após a morte do dramaturgo, "O Abajur Lilás" participa hoje do ciclo "Leituras de
Teatro", promovido pela Folha.
Mais do que efemérides, no entanto, o diretor Sérgio Ferrara
quer ressaltar o contexto em que a
peça foi escrita e sua atualidade.
"O texto é uma metáfora da ditadura, da repressão que o Brasil
vivia nos anos 70, uma faceta pouco comentada em relação à obra
do autor", diz Ferrara, que montou "Barrela" no ano passado.
(Plínio teria gostado tanto do espetáculo que lhe recomendou "O
Abajur Lilás".)
Mas, na avaliação de Ferrara, o
tempo amainou o enfoque político e sublimou uma desumanidade atemporal. "Neste momento
de total desatenção social, os personagens podem ser entendidos
como herdeiros da desgraça nacional, da desumanidade econômica e cultural", afirma o diretor.
Censurada em 1970 ("Dentro do
contexto, não se pode querer que
os personagens falem outra linguagem", deixou escapar o censor
em seu despacho, a despeito dos
palavrões, num lampejo de ponderação), a peça só foi liberada
uma década depois. Chegou ao
palco pela primeira vez com Fauzi
Arap na direção e Walderez de
Barros, ex-mulher de Plínio, encabeçando o elenco.
O ator Lima Duarte, que chegou
a ensaiar "O Abajur Lilás", mas
nunca subiu ao palco para interpretar o cafetão Giro, por conta da
censura, retoma o papel na leitura
de hoje à noite, passados cerca de
20 anos.
Completam o elenco as atrizes
Ester Góes (Dilma), Magali Biff
(Célia) e Iara Jamra (Leninha), todas na pele de prostitutas. Há ainda um quinto personagem, Osvaldo, espécie de leão-de-chácara do
cafetão, que deve ser lido pelo
próprio Ferrara (ele ainda não havia definido se chamaria outro
ator para o papel).
Giro, um homossexual decadente, nas palavras de Ferrara, é
dono do bordel, o mocó. O sujeito
explora a veterana Dilma, quer
"mais produção" da mulher que
chega a fazer oito programas por
noite e vê na "profissão" a chance
de garantir a formação do filho.
O cafetão também exige "produtividade" de Célia, alcoólatra e
a única que tem coragem de contestar o seu reinado. Ela procura
convencer as demais a fazer o
mesmo. Esse enfrentamento, porém, lhe custará caro.
Leninha é a "caçula", inexperiente, mas convicta de que está
ali para faturar para o rango e para a revista de fofocas sobre o
mundo dos artistas.
A leitura dessa revista -um paradoxo pliniano recorrente em se
tratando do submundo como ele
é- vai implodir os conflitos.
Quando Leninha chega para dividir o local, pede a Giro que conserte o abajur, objeto até então
desprezado por todos. Ela justifica: gosta de ler à noite.
O cafetão aproveita e "dá um
trato" no mocó, embeleza o ambiente. Dias depois, porém, várias
bugigangas aparecem destruídas.
Giro quer descobrir quem lhe deu
prejuízo. Mais que isso, quer
"apagar" aquela que se insurgiu.
Sérgio Ferrara ("Pobre Super-Homem") pretende montar "O
Abajur Lilás" em abril de 2001,
com o mesmo elenco da leitura.
O quê: ciclo Leituras de Teatro
Peça: O Abajur Lilás
Texto: Plínio Marcos
Direção: Sérgio Ferrara
Com: Lima Duarte, Ester Góes, Magali
Biff e Iara Jamra
Quando: hoje, às 19h30
Onde: auditório da Folha (al. Barão de
Limeira, 425, 9º andar, Campos Elíseos)
Quanto: entrada franca (reservas, das
14h às 17h, pelo tel. 0/xx/11/3224-3473)
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