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RAP FAMÍLIA
509-E soa mais ventilado que os Racionais em 2º CD
DA REPORTAGEM LOCAL
É inevitável a tentação de
comparar o recém-nascido
segundo álbum do 509-E com o
dos líderes natos do rap brasileiro,
Racionais MC's, também lançado
neste ano.
No contraste, "MMII-DC" parece mais ventilado que o dos Racionais, ainda que tenha sido produzido em grande parte sob a
claustrofobia da prisão dos rappers Afro-X e Dexter.
Isso se deve, principalmente, ao
fato de o 509-E privilegiar o uso de
instrumentos musicais, mesmo
mantendo os habituais recursos
de samples e bases pré-gravadas
do rap nacional. O diferencial que
o uso de música viva traz é evidente em especial na faixa "Você
Me Faz Falta", que incorpora guitarra flamenca, castanholas e matracas -manipuladas, e não sampleadas, como é praxe no rap.
Detalhes assim reduzem o campo de fragilidade do rap, muitas
vezes concentrado na concentração em ritmo e poesia de protesto
e na marginalização da melodia.
O 509-E não foge à regra, mas um
flerte ainda tímido com a música
em si é um dos acontecimentos
em "MMII-DC".
Outro é a inserção de experimentos de mensagem positiva em
meio ao discurso sempre soturno
do rap. Isso acontece principalmente em "Olha o Menino", que
inclui crianças declamando os
princípios do hip hop e a manifestação explícita dos autores pelo
futuro de seus filhos.
É detalhe essencial do disco,
porque como ninguém no rap o
509-E tem a missão espinhosa de
fazer a fronteira entre a legalidade
e a experiência dos que a afrontaram (e foram punidos por isso). A
presença em pessoa de DJ Hum,
Racionais e RZO (para citar só alguns) no disco torna mais aguda a
questão, muito presente em vários âmbitos da cultura brasileira
atual, das relações entre o lado de
cá e o lado de lá das legislações.
Do lado de lá, o 509-E manda
discursos moralistas e sexistas,
como os contidos na muito provocativa "Cê Tá Ingrupido", uma
cusparada irada na classe artística. A contradição fica exposta em
carne crua, pois Afro-X andou arrebanhando ibope para o mundo
cão de Gugu Liberato nos episódios de seu namoro e casamento
com a ex-estrela-mirim Simony.
Mas, ao mesmo tempo, manda
também do lado de lá a vontade
de incluir socialmente as crianças
do rap -e para isso usa samplers
e inspiração tirados de Jorge Ben,
o mais alegre de todos os artistas
brasileiros. "Olha o menino, ui",
roga o coro infantil que traz ternura ao rap duro do 509-E.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
MMII-DC
Grupo: 509-E
Lançamento: Atração
Quanto: R$ 27, em média
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