São Paulo, quarta-feira, 27 de novembro de 2002

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RAP FAMÍLIA

509-E soa mais ventilado que os Racionais em 2º CD

DA REPORTAGEM LOCAL

É inevitável a tentação de comparar o recém-nascido segundo álbum do 509-E com o dos líderes natos do rap brasileiro, Racionais MC's, também lançado neste ano.
No contraste, "MMII-DC" parece mais ventilado que o dos Racionais, ainda que tenha sido produzido em grande parte sob a claustrofobia da prisão dos rappers Afro-X e Dexter.
Isso se deve, principalmente, ao fato de o 509-E privilegiar o uso de instrumentos musicais, mesmo mantendo os habituais recursos de samples e bases pré-gravadas do rap nacional. O diferencial que o uso de música viva traz é evidente em especial na faixa "Você Me Faz Falta", que incorpora guitarra flamenca, castanholas e matracas -manipuladas, e não sampleadas, como é praxe no rap.
Detalhes assim reduzem o campo de fragilidade do rap, muitas vezes concentrado na concentração em ritmo e poesia de protesto e na marginalização da melodia. O 509-E não foge à regra, mas um flerte ainda tímido com a música em si é um dos acontecimentos em "MMII-DC".
Outro é a inserção de experimentos de mensagem positiva em meio ao discurso sempre soturno do rap. Isso acontece principalmente em "Olha o Menino", que inclui crianças declamando os princípios do hip hop e a manifestação explícita dos autores pelo futuro de seus filhos.
É detalhe essencial do disco, porque como ninguém no rap o 509-E tem a missão espinhosa de fazer a fronteira entre a legalidade e a experiência dos que a afrontaram (e foram punidos por isso). A presença em pessoa de DJ Hum, Racionais e RZO (para citar só alguns) no disco torna mais aguda a questão, muito presente em vários âmbitos da cultura brasileira atual, das relações entre o lado de cá e o lado de lá das legislações.
Do lado de lá, o 509-E manda discursos moralistas e sexistas, como os contidos na muito provocativa "Cê Tá Ingrupido", uma cusparada irada na classe artística. A contradição fica exposta em carne crua, pois Afro-X andou arrebanhando ibope para o mundo cão de Gugu Liberato nos episódios de seu namoro e casamento com a ex-estrela-mirim Simony.
Mas, ao mesmo tempo, manda também do lado de lá a vontade de incluir socialmente as crianças do rap -e para isso usa samplers e inspiração tirados de Jorge Ben, o mais alegre de todos os artistas brasileiros. "Olha o menino, ui", roga o coro infantil que traz ternura ao rap duro do 509-E.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)

MMII-DC



   
Grupo: 509-E
Lançamento: Atração
Quanto: R$ 27, em média



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