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MERCADO EDITORIAL
Editora cancela lançamento de obra de Mário de Andrade, que tem apreensão decretada pela Justiça
"Paulicéia Desvairada" cria disputa judicial
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais de 80 anos depois de causar estardalhaço nos meios literários, o livro "Paulicéia Desvairada", de Mário de Andrade, reaparece com barulho, desta vez nos
bastidores editoriais.
A história envolve de um lado a
principal estudiosa da obra do
modernista, a professora titular
da Universidade de São Paulo Telê Ancona Lopez; de outro, a editora paulistana Landmark, criada
há dois anos e com 16 obras.
Em outubro deste ano, a jovem
casa editorial anunciou que publicaria uma edição de "Paulicéia
Desvairada" organizada por Ancona Lopez. Na última quarta, porém, a Landmark enviou comunicado para a imprensa anunciando
que cancelava o lançamento da
obra, já impressa.
A editora alegava ter ficado sabendo por meio de jornais do lançamento pelo consórcio Edusp/
Ed. UFMG/Imprensa Oficial da
"Caixa Modernista", que incluía
edição fac-similar de "Paulicéia".
"A editora Villa Rica [que tem os
direitos de Mário] agiu de má-fé
ao vender a obra com exclusividade para nós e também para a
Edusp", disse Fábio Cyrino, editor da Landmark.
Procurada pela reportagem,
Ancona Lopez negou que fosse a
quebra de exclusividade o motivo
do cancelamento. "O contrato
com a Landmark nem prevê exclusividade", disse ela -informação reforçada por Pedro Paulo
Moreira, da Villa Rica.
Segundo Ancona Lopez, a
Landmark cancelou o lançamento por saber que ela e a professora
Tatiana Longo dos Santos, que
haviam sido contratadas para organizar a nova versão de "Paulicéia", estavam tomando ações legais contra a editora.
As duas estudiosas alegam que
não puderam corrigir o texto final
do livro, que foi "assinado" com o
nome de ambas, e que quase todas as páginas da edição da Landmark acabaram saindo com alguma incorreção (a Folha teve acesso a uma ampla lista de erros
apontados por elas).
Assim, Telê Ancona Lopez e Tatiana Longo dos Santos entraram
com uma medida cautelar contra
a Landmark, pedindo a busca e
apreensão dos 3.000 exemplares
da "Paulicéia", que "corrompem,
de forma grotesca, a grande obra
de Mário de Andrade", e comprometem "a honra e a reputação
profissional das autoras".
No final da tarde de ontem, o
juiz Jurandir de Abreu Júnior
concedeu a liminar.
Indagado pela Folha ontem pela manhã, Fábio Cyrino negou
que o cancelamento da edição tenha sido relacionado a divergências com as coordenadoras da
obra. "Não vamos entrar nesse
mérito agora", diz ele.
Cyrino afirma que amanhã
acionará a Justiça contra a editora
Villa Rica e os herdeiros de Mário
de Andrade, alegando ter sido
profundamente prejudicado pela
publicação recente de fac-símile
de "Paulicéia". "Só compramos a
obra por estar ela fora de comércio há muitos anos."
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