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São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2003

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MERCADO EDITORIAL

Editora cancela lançamento de obra de Mário de Andrade, que tem apreensão decretada pela Justiça

"Paulicéia Desvairada" cria disputa judicial

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais de 80 anos depois de causar estardalhaço nos meios literários, o livro "Paulicéia Desvairada", de Mário de Andrade, reaparece com barulho, desta vez nos bastidores editoriais.
A história envolve de um lado a principal estudiosa da obra do modernista, a professora titular da Universidade de São Paulo Telê Ancona Lopez; de outro, a editora paulistana Landmark, criada há dois anos e com 16 obras.
Em outubro deste ano, a jovem casa editorial anunciou que publicaria uma edição de "Paulicéia Desvairada" organizada por Ancona Lopez. Na última quarta, porém, a Landmark enviou comunicado para a imprensa anunciando que cancelava o lançamento da obra, já impressa.
A editora alegava ter ficado sabendo por meio de jornais do lançamento pelo consórcio Edusp/ Ed. UFMG/Imprensa Oficial da "Caixa Modernista", que incluía edição fac-similar de "Paulicéia". "A editora Villa Rica [que tem os direitos de Mário] agiu de má-fé ao vender a obra com exclusividade para nós e também para a Edusp", disse Fábio Cyrino, editor da Landmark.
Procurada pela reportagem, Ancona Lopez negou que fosse a quebra de exclusividade o motivo do cancelamento. "O contrato com a Landmark nem prevê exclusividade", disse ela -informação reforçada por Pedro Paulo Moreira, da Villa Rica.
Segundo Ancona Lopez, a Landmark cancelou o lançamento por saber que ela e a professora Tatiana Longo dos Santos, que haviam sido contratadas para organizar a nova versão de "Paulicéia", estavam tomando ações legais contra a editora.
As duas estudiosas alegam que não puderam corrigir o texto final do livro, que foi "assinado" com o nome de ambas, e que quase todas as páginas da edição da Landmark acabaram saindo com alguma incorreção (a Folha teve acesso a uma ampla lista de erros apontados por elas).
Assim, Telê Ancona Lopez e Tatiana Longo dos Santos entraram com uma medida cautelar contra a Landmark, pedindo a busca e apreensão dos 3.000 exemplares da "Paulicéia", que "corrompem, de forma grotesca, a grande obra de Mário de Andrade", e comprometem "a honra e a reputação profissional das autoras".
No final da tarde de ontem, o juiz Jurandir de Abreu Júnior concedeu a liminar.
Indagado pela Folha ontem pela manhã, Fábio Cyrino negou que o cancelamento da edição tenha sido relacionado a divergências com as coordenadoras da obra. "Não vamos entrar nesse mérito agora", diz ele.
Cyrino afirma que amanhã acionará a Justiça contra a editora Villa Rica e os herdeiros de Mário de Andrade, alegando ter sido profundamente prejudicado pela publicação recente de fac-símile de "Paulicéia". "Só compramos a obra por estar ela fora de comércio há muitos anos."


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