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Ator personifica multiplicidade do teatro nacional
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Ao final de "Um Circo de
Rins e Fígados", Marco
Nanini agradece os aplausos
envolto na bandeira nacional. Para o público, fica claro
que ele não faz só o papel de
um ator com seu nome
-personifica o próprio teatro brasileiro, que renasce
múltiplo a cada noite.
Ninguém melhor para isso. Da infância itinerante
nos saguões de hotéis, dos
quais seu pai era gerente, ganhou o amor pela existência
mambembe, um dos pontos
em comum com Molière (o
outro é a utilização da comédia para chegar ao trágico).
Mambembeando, aprendeu com os mestres Milton
Carneiro, Dercy Gonçalves,
que o corrigia em cena, Marília Pêra, que lhe deu a primeira grande chance no teatro, além de seu maior sucesso, "O Mistério de Irma
Vap", com Ney Latorraca.
Cúmplices não faltaram:
Marieta Severo está ao seu
lado de "As Desgraças de
uma Criança", divisor de
águas de 1973, a "A Grande
Família", esse oásis de inteligência na TV, que mantém
vivo Oduvaldo Viana Filho.
Foi Vianinha também, com
"Mão na Luva", que aproximou Nanini de Juliana Carneiro, em 85, antes de sua
carreira internacional -que
só interrompeu para reatar
com o parceiro em "A Morte
de um Caixeiro Viajante".
Entre a comédia ligeira e o
engajamento humanístico,
ele sempre fez TV, desde a figuração dos primórdios até
a revolução de Guel Arraes,
da "TV Pirata" aos multimídias "Auto da Compadecida" e "Lisbela e o Prisioneiro". Foi pedra de toque do
cinema da retomada (o Dom
João da "Carlota Joaquina",
de Carla Camurati, outra
cúmplice de vários filmes).
Meticuloso na criação dos
personagens, sempre surpreende com um recurso
novo. Em 40 anos de uma
carreira sem mácula, sabe
recomeçar a cada noite, como na peça de Gerald Thomas, quando sente o peso da
bandeira e dos aplausos e sabe que fez por merecer.
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