São Paulo, domingo, 27 de novembro de 2005

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Ator personifica multiplicidade do teatro nacional

SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

Ao final de "Um Circo de Rins e Fígados", Marco Nanini agradece os aplausos envolto na bandeira nacional. Para o público, fica claro que ele não faz só o papel de um ator com seu nome -personifica o próprio teatro brasileiro, que renasce múltiplo a cada noite.
Ninguém melhor para isso. Da infância itinerante nos saguões de hotéis, dos quais seu pai era gerente, ganhou o amor pela existência mambembe, um dos pontos em comum com Molière (o outro é a utilização da comédia para chegar ao trágico).
Mambembeando, aprendeu com os mestres Milton Carneiro, Dercy Gonçalves, que o corrigia em cena, Marília Pêra, que lhe deu a primeira grande chance no teatro, além de seu maior sucesso, "O Mistério de Irma Vap", com Ney Latorraca.
Cúmplices não faltaram: Marieta Severo está ao seu lado de "As Desgraças de uma Criança", divisor de águas de 1973, a "A Grande Família", esse oásis de inteligência na TV, que mantém vivo Oduvaldo Viana Filho. Foi Vianinha também, com "Mão na Luva", que aproximou Nanini de Juliana Carneiro, em 85, antes de sua carreira internacional -que só interrompeu para reatar com o parceiro em "A Morte de um Caixeiro Viajante".
Entre a comédia ligeira e o engajamento humanístico, ele sempre fez TV, desde a figuração dos primórdios até a revolução de Guel Arraes, da "TV Pirata" aos multimídias "Auto da Compadecida" e "Lisbela e o Prisioneiro". Foi pedra de toque do cinema da retomada (o Dom João da "Carlota Joaquina", de Carla Camurati, outra cúmplice de vários filmes).
Meticuloso na criação dos personagens, sempre surpreende com um recurso novo. Em 40 anos de uma carreira sem mácula, sabe recomeçar a cada noite, como na peça de Gerald Thomas, quando sente o peso da bandeira e dos aplausos e sabe que fez por merecer.


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