São Paulo, domingo, 27 de novembro de 2005

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"CRUZADA - EDIÇÃO ESPECIAL"

Ridley Scott capricha em reconstituição

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Cruzada " é um filme que trata de tema hoje polêmico, apesar de curiosamente antigo: a época das Cruzadas, as guerras entre cristãos e muçulmanos na Palestina nos séculos 11 e 12 d.C.. Houve críticas que o tacharam de ser uma visão hollywoodiana da doutrina dos dois presidentes Bush, pai e filho, de darem porrada no Oriente Médio. Mas houve resenhas que o acharam muito pró-islã, renegando valores essenciais do Ocidente.
Como dá para perceber, são avaliações que refletem bem mais o que pensam e o que querem dizer seus autores do que o próprio longa, razoavelmente equilibrado e politicamente correto.
Dias atrás, terroristas da Al Qaeda chamaram os americanos de "cruzados" em um comunicado se vangloriando de mais alguns cadáveres. Além do clássico "sionista", não há xingamento maior, hoje, na parte do mundo que se ajoelha para rezar cinco vezes ao dia na direção de Meca.
Mas nem sempre foi assim. Houve momentos históricos de convivência passável entre cristãos, muçulmanos e judeus, "fiéis" de três religiões monoteístas e também guerreiras.
Certo, as Cruzadas foram uma ofensiva cristã em terras maometanas. Mas se pode dizer também "contra-ofensiva", pois eram terras antes cristãs. Continuaram nas mãos do islã até a Primeira Guerra (1914-18), quando foram retomadas pelos britânicos. Foram repovoadas por judeus, houve a independência de Israel em 1948. O resto é história recente.
O filme narra a retomada de Jerusalém pelos muçulmanos. Boa parte dos fatos históricos segue aquilo que se conhece. O personagem principal, Belian de Ibelin (Orlando Bloom), foi romantizado, com uma fictícia vida pregressa como ferreiro e um final igualmente fantasioso.
O líder islâmico Saladino também está um pouco mais bonzinho, e alguns "cruzados" ficaram mais patéticos do que eram. Mas o resultado ainda está OK.
A reconstituição de época está de acordo com o que se sabe hoje, mas Ridley Scott tem um fraco por fogo que estraga a coisa. Tanto aqui como na brilhante cena inicial de seu "Gladiador", há muitas flechas e catapultas lançando fogo, que não eram a praxe da época. Tudo bem, é uma licença cinematográfica que dá belos resultados visuais. A história perde, mas o filme ganha. Mas, como mostram os documentários dos extras do DVD, a história não perdeu tanto assim nesta produção.


Cruzada - Edição Especial
   
Direção:
Ridley Scott
Distribuidora: Fox; R$ 50



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