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Crítica/"Cidadão Boilesen"
Documentário investiga empresário que angariou fundos para ditadura
ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Premiado no Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, o primeiro filme de
Chaim Litewski aborda tema
pouco discutido: a participação
de empresários na repressão
aos grupos de luta armada durante a ditadura militar (1964-1985). Para falar sobre o assunto, o diretor escolheu um personagem simbólico: Henning
Albert Boilesen, dinamarquês
naturalizado brasileiro, presidente da Ultragaz.
Boilesen foi especialmente
ativo na coleta de dinheiro junto ao empresariado para financiar a sinistra Operação Bandeirantes (Oban), criada em junho de 1969 pelo 2º Exército e
pela Secretaria de Segurança
Pública do Estado de SP. Organização ilegal, a Oban operava
nas dependências de um distrito policial da capital paulista,
transformado no mais famoso
centro de torturas do país.
Para construir o retrato de
Boilesen, assassinado por guerrilheiros em 1971, Litewski
adota a mesma estratégia de
Orson Welles em "Cidadão Kane": entrevista pessoas que conheceram o personagem. Com
seus depoimentos, esboçam
uma imagem multifacetada dele. O termo "Cidadão" no título
do documentário deixa clara a
referência ao filme de Welles.
Litewski obteve depoimentos de pessoas importantes dos
dois lados, como o coronel
Erasmo Dias, Fernando Henrique Cardoso, dom Paulo Evaristo Arns, Jacob Gorender,
Jarbas Passarinho, o coronel
Carlos Alberto Brilhante Ustra,
Paulo Egydio Martins, militantes de esquerda, o filho de Boilesen, membros da Oban, amigos do empresário.
O filme traz ainda trechos de
cinejornais, arquivos de TV, filmes de ficção, imagens do acervo da família, documentos do
SNI (Serviço Nacional de Informação) e da embaixada britânica que permaneceram secretos durante décadas.
O maior mérito do documentário é evitar o maniqueísmo.
Opiniões divergentes se confrontam, como a do filho, que
louva o papel do pai de família e
nega seu envolvimento com a
Oban, ou a de Gorender e outros, que afirmam que Boilesen
era sádico a ponto de participar
das sessões de tortura. O filme
alinhava muito bem os fatos
que apresenta, contextualizando-os com eficiência, sem cair
no didatismo. Nunca perde o
foco em Boilesen, mas não deixa de apontar o tempo todo para o problema maior, o apoio
civil à ditadura militar.
CIDADÃO BOILESEN
Direção: Chaim Litewski
Produção: Brasil, 2009
Onde: Reserva Cultural 2
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom
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