São Paulo, sexta, 27 de novembro de 1998

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COMPORTAMENTO
Pesquisa feita com "Torre de Babel" revela que estabilidade na relação diminui a intensidade dos beijos
Casados se beijam menos até em novela

FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

Os beijos de novela -daqueles que, como na canção de Zeca Baleiro, fazem chorar- não são mais os mesmos. Também na novela, os beijos parecem sofrer o efeito da rotina: são apaixonados durante o namoro, mornos durante o casamento.
É o que mostra um estudo realizado por pesquisadores do mestrado em sexologia da Universidade Gama Filho, no Rio, sobre o beijo em "Torre de Babel", novela de Sílvio de Abreu exibida no horário nobre da Rede Globo.
Pelo menos na novela, o casamento (ou a estabilidade do relacionamento) diminui a frequência e a intensidade dos beijos entre os personagens.
Foi assim com Lúcia (Natália do Valle) e César (Tarcísio Meira), que, depois de terem sido apaixonados a vida inteira, diminuíram os beijos quando passaram a morar juntos. O mesmo aconteceu com Clara (Maitê Proença) e Clementino (Tony Ramos).
Os beijos dos primeiros 50 capítulos de "Torre de Babel" foram contados e classificados no estudo como "estalinhos" (toques rápidos de lábios), beijos fracos, moderados e intensos.
Os pesquisadores encontraram somente 14 beijos entre casais casados, sendo apenas 2 (14,3%) intensos, e os demais, de média intensidade ou "estalinhos". Entre amantes, houve 22 beijos, dos quais 18 (81,8%) intensos. Entre namorados (firmes ou não), 84 beijos, sendo 55 (65,5%) intensos.
A pedido da Folha, os pesquisadores estenderam a contagem até o centésimo capítulo. Os resultados se repetiram.
A contagem dos beijos em "Torre de Babel" é parte da pesquisa "O Beijo", conduzida pelos pesquisadores Márcio Schiavo, Pedro Jurberg e Marise Jurberg.
Eles querem aproveitar a audiência da novela, especialmente entre mulheres, para puxar discussões sobre sexualidade nos grupos de entrevistas mantidos na universidade.
Na penúltima semana de outubro, "Torre de Babel" teve média de 41 pontos de audiência, segundo o Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística). Cada ponto equivale a 80 mil telespectadores na Grande São Paulo.
Nas discussões com os grupos da pesquisa, a novela se repete, diz Schiavo: "O casamento parece levar a paixão a uma rotina, a uma prática oficial sem "glamour'. Nossos entrevistados também dizem que os casais casados se beijam menos".
Em "Torre de Babel", por exemplo, Cesar e Marta (Glória Menezes), depois de casados muitos anos, tiveram as cenas mais ardentes quando se tornaram amantes, na época em que Cesar estava morando com Lúcia.
O único casal idoso da novela, Sarita (Etty Fraser) e Cláudio (Carvalhinho), não trocou beijos até agora. Os pesquisadores torcem para que a paquera se concretize e a novela mostre um amor na terceira idade.
A psicóloga Maria do Carmo Andrade Silva, coordenadora do mestrado da Gama Filho, costuma atender em seu consultório casais com problemas conjugais. Uma cena constante é a transformação do casamento em rotina.
"Para algumas pessoas, a rotina pode ser desastrosa. Outras gostam da rotina, da segurança. A quantidade de beijos pode diminuir, mas eles podem também ser resguardados para um espaço íntimo. Isso pode ser um sinal negativo, mas pode também ser algo absolutamente normal", afirma a psicóloga.
A Folha não conseguiu falar com o autor de "Torre de Babel", Sílvio de Abreu.



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