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COMPORTAMENTO
Pesquisa feita com "Torre de Babel" revela que estabilidade na relação diminui a intensidade dos beijos
Casados se beijam menos até em novela
FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio
Os beijos de novela -daqueles
que, como na canção de Zeca Baleiro, fazem chorar- não são mais
os mesmos. Também na novela, os
beijos parecem sofrer o efeito da
rotina: são apaixonados durante o
namoro, mornos durante o casamento.
É o que mostra um estudo realizado por pesquisadores do mestrado em sexologia da Universidade Gama Filho, no Rio, sobre o beijo em "Torre de Babel", novela de
Sílvio de Abreu exibida no horário
nobre da Rede Globo.
Pelo menos na novela, o casamento (ou a estabilidade do relacionamento) diminui a frequência
e a intensidade dos beijos entre os
personagens.
Foi assim com Lúcia (Natália do
Valle) e César (Tarcísio Meira),
que, depois de terem sido apaixonados a vida inteira, diminuíram
os beijos quando passaram a morar juntos. O mesmo aconteceu
com Clara (Maitê Proença) e Clementino (Tony Ramos).
Os beijos dos primeiros 50 capítulos de "Torre de Babel" foram
contados e classificados no estudo
como "estalinhos" (toques rápidos
de lábios), beijos fracos, moderados e intensos.
Os pesquisadores encontraram
somente 14 beijos entre casais casados, sendo apenas 2 (14,3%) intensos, e os demais, de média intensidade ou "estalinhos". Entre
amantes, houve 22 beijos, dos
quais 18 (81,8%) intensos. Entre
namorados (firmes ou não), 84
beijos, sendo 55 (65,5%) intensos.
A pedido da Folha, os pesquisadores estenderam a contagem até
o centésimo capítulo. Os resultados se repetiram.
A contagem dos beijos em "Torre de Babel" é parte da pesquisa "O
Beijo", conduzida pelos pesquisadores Márcio Schiavo, Pedro Jurberg e Marise Jurberg.
Eles querem aproveitar a audiência da novela, especialmente entre
mulheres, para puxar discussões
sobre sexualidade nos grupos de
entrevistas mantidos na universidade.
Na penúltima semana de outubro, "Torre de Babel" teve média
de 41 pontos de audiência, segundo o Ibope (Instituto Brasileiro de
Opinião Pública e Estatística). Cada ponto equivale a 80 mil telespectadores na Grande São Paulo.
Nas discussões com os grupos da
pesquisa, a novela se repete, diz
Schiavo: "O casamento parece levar a paixão a uma rotina, a uma
prática oficial sem "glamour'. Nossos entrevistados também dizem
que os casais casados se beijam
menos".
Em "Torre de Babel", por exemplo, Cesar e Marta (Glória Menezes), depois de casados muitos
anos, tiveram as cenas mais ardentes quando se tornaram amantes,
na época em que Cesar estava morando com Lúcia.
O único casal idoso da novela,
Sarita (Etty Fraser) e Cláudio (Carvalhinho), não trocou beijos até
agora. Os pesquisadores torcem
para que a paquera se concretize e
a novela mostre um amor na terceira idade.
A psicóloga Maria do Carmo Andrade Silva, coordenadora do mestrado da Gama Filho, costuma
atender em seu consultório casais
com problemas conjugais. Uma
cena constante é a transformação
do casamento em rotina.
"Para algumas pessoas, a rotina
pode ser desastrosa. Outras gostam da rotina, da segurança. A
quantidade de beijos pode diminuir, mas eles podem também ser
resguardados para um espaço íntimo. Isso pode ser um sinal negativo, mas pode também ser algo absolutamente normal", afirma a
psicóloga.
A Folha não conseguiu falar com
o autor de "Torre de Babel", Sílvio
de Abreu.
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