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A Bienal do terror
Vanessa Beecroft/Reprodução do catálogo "VB 08-36 - Vanessa Beecroft Performances"
![](../images/i2712012001.jpg) |
Cena de performance da artista italiana Vanessa Beecroft, 32, que confirmou presença na 25ª edição da Bienal de São Paulo, sob curadoria do alemão Alfons Hug |
Referências aos atentados ao World Trade Center devem comparecer à 25ª edição do evento, que começa em março
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FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
A 25ª Bienal de São Paulo não ficará imune à destruição das torres
gêmeas do World Trade Center.
"Ela será o primeiro termômetro
internacional das artes plásticas
após os atentados terroristas de 11
de setembro", diz o curador-geral
da Bienal, Alfons Hug.
O terror alterou até uma de suas
propostas originais, de criar um
ambiente de música eletrônica, o
Techno Club, já que o tema central é a metrópole. "Não há razões
para criar um ambiente festivo.
Artistas internacionais que vieram conhecer o pavilhão já adiantaram que farão referências à nova situação mundial", afirma.
O curador da Bienal é um alemão. Pela primeira vez um estrangeiro está à frente do evento
mais importante das artes plásticas no Brasil. Chegou após uma
das mais violentas crises da instituição e enfrentou resistências.
Menos de três meses antes da
inauguração (que acontecerá em
23 de março), Hug já comemora a
presença de artistas contemporâneos renomados. Entre eles, a italiana Vanessa Beecroft, o alemão
Andreas Gursky e o norte-americano Jeff Koons, que terá uma sala
especial. Outro dos orgulhos é ter
conseguido um artista, o brasileiro Arthur Omar, que deve ir ao
Afeganistão em busca de restos
dos Budas destruídos pelo Taleban, o que promete polêmica.
Há um ano vivendo em São
Paulo, Hug contou à Folha sobre
as perspectivas da Bienal e sua
adaptação no país. Leia abaixo.
Folha - O 11 de setembro vai influenciar a 25ª Bienal?
Alfons Hug - Sim, sem dúvida.
Na minha cabeça e na dos artistas
mudaram certas coisas. O clima
de festa que antes era possível desapareceu. Não vejo mais sentido
em organizar o Techno Club, trazendo o bar Hungry Duck, de
Moscou, que tem um forte caráter
sexual, explícito até. Seria frívolo
reproduzi-lo aqui, por exemplo.
Folha - O que mais?
Hug - Essa Bienal será mais séria,
menos lúdica do que prevíamos.
Vários projetos de artistas foram
alterados e terão uma carga mais
dramática, certamente. Só não
posso adiantá-los agora.
Folha - O sr. chegou ao país após
uma grande crise da Fundação Bienal. Foi difícil adaptar-se?
Hug - No início houve uma certa
polêmica, claro. Mas estou nessa
área há mais de 20 anos, em várias
culturas distintas, na África, Ásia
e América do Sul, pelo Instituto
Goethe. Sempre tive de me adaptar a situações difíceis.
Folha - Acha que a imagem da
Bienal estava arranhada?
Hug - Acho que isso é uma coisa
de São Paulo, de questões internas. Quanto mais longe se vai,
mesmo no Rio, a avaliação é outra, e no exterior ainda mais. Nas
viagens percebi uma grande curiosidade em torno da Bienal e
muita vontade de participar.
Folha - O sr. não faz parte de um
sistema internacional de curadores. Isso dificultou seu papel?
Hug - Não faço parte de um certo
círculo, mas fui curador da Casa
das Culturas do Mundo, em Berlim, dedicada à cultura extra-européia. Se isso não é fazer parte de
um sistema, não é problema meu,
que sou menos eurocêntrico que
muitos curadores desse grupo.
Folha - Sua adaptação a uma estrutura brasileira foi difícil?
Hug - Foi difícil no início, mas
me sinto com mais liberdade que
num instituto alemão. Admiro o
funcionamento da Bienal, ela se
mantém com baixo orçamento fixo, e a cada dois anos é necessário
um imenso trabalho de captação.
Na Europa a situação daqui seria
um imenso estresse. Eles precisam aprender com o Brasil.
Folha - O sr. crê que a Bienal ocorrerá conforme o projeto original?
Hug - Creio que sim. Conseguimos todos os artistas que queríamos e ainda indicamos alguns das
representações nacionais, como
Stan Douglas, pelo Canadá. O Andreas Gursky, por exemplo, não
participa mais de coletivas e estará aqui. É uma conquista.
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