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MÚSICA
Cantora e compositora que começou com o grupo roqueiro carioca Sex Beatles lança segundo álbum solo
Cris Braun clama por paz e serenidade em seu "Atemporal"
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Tranqüilidade , calma, serenidade. São os valores de
eleição da bissexta cantora e compositora Cris Braun, 42, na chegada do segundo álbum solo de sua
vida, "Atemporal" (antes, ela fora
do rock'n'roll, construindo ao lado do parceiro Alvin L. a história
obscura, porém brilhante do grupo carioca Sex Beatles).
A sonoridade suave de "Atemporal" dialoga e contrasta com a
eletrônica leve da experiência individual anterior, "Cuidado com
Pessoas como Eu" (98), lançado
pelo efêmero selo de Marina Lima
na gravadora Universal -o de
agora, 100% independente, sai do
forno pela jovem gravadora Psicotrônica. Alguma programação
eletrônica ainda percorre o novo
álbum, assim como os efeitos de
paz em vários momentos são produzidos por paredes estranhamente quietas de guitarras.
Faz pensar, pelo tom plácido e
quase campestre das canções, no
desprezado rock rural dos anos
70, tipo Sá, Rodrix & Guarabyra,
como em "Bom-Dia", cantada em
duo interiorano com Paula Toller.
A impressão encontra apoio na
trajetória pessoal de Cris, gaúcha
que cresceu em Maceió (AL) e se
fez metropolitana por várias décadas vividas no Rio de Janeiro.
Há quatro anos, ela se mudou para "o mato" de Teresópolis, perto
demais das capitais, mas "a oito
quilômetros da primeira padaria", segundo conta, divertida.
"Estava deprimida, raivosa, brigando com pessoas na rua. Após
anos de análise, tive o insight de
que precisava sair do contexto urbano, ter uma vida mais comtemplativa mesmo. Foi tiro e queda",
conta, fornecendo sem querer razões para a virada também musical em direção à contemplação.
Diz que o CD não expressa anseios utópicos pela calma, mas
sim seu novo cotidiano real. "Ouço Bach e Mozart o tempo inteiro.
Nos intervalos ouço Nirvana, Reginaldo Rossi", faz figura.
Brinca com esse tipo de noção
na provocativa "Drum and Bass Is
Past", uma das melodias mais
gostosas de "Atemporal". É orgânica, mas Cris promete que a faixa
não pretende ser um libelo contra
a música eletrônica.
"Vim para um lugar mais tranqüilo para fugir da batida rápida
dos corações, do excesso de consumismo, e nessa música traduzi
isso como "drum and bass". É só
uma sacanagem minha com a vida noturna", ri. "Bacana é o campo aberto, o que eu queria propor
é uma maior liberdade de criação,
que talvez estivesse faltando graças às fórmulas da indústria", discute, propondo conciliações como as de pop-rock e bucolismo,
ou MPB e eletrônica.
Por esse canal de diálogo,
"Atemporal" faz espelho invertido com o álbum anterior. Se
aquele polvilhava de efeitos eletrônicos os antigos Jair Amorim e
Evaldo Gouveia (em "Brigas") e o
eterno Chico Buarque ("Bom
Conselho"), este coalha de intimidades interioranas o novo Jair
Oliveira (na forte "Falso Amor") e
o eterno Caetano Veloso (na pré-tropicalista "Nenhuma Dor").
Como já acontecia, Cris Braun
vem participar da música popular
brasileira de mansinho, sem alardes ou espalhafatos. Em práticas
simples como a de fazer música
calma com guitarras, segue na
utopia de elaborar pequenas e
mansas inversões -a que predomina agora envolve e abriga dizer
que o Brasil também pode ser lar
de tranqüilidades, remanso de desaceleração sem que isso signifique perda de ímpeto.
Atemporal
Artista: Cris Braun
Lançamento: Psicotrônica
Quanto: R$ 30, em média
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