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Autores dizem que a novela não vai acabar
O que pode ocorrer é uma mudança de linguagem, temas e da forma de ver TV
Novelista da Rede Record discorda de seus colegas de geração e defende que a telenovela brasileira não é influenciada pelas séries
DA REPORTAGEM LOCAL
Voz dissonante dessa nova
geração de autores é a de Gisele
Joras, 46, da Record, categórica
ao responder se acredita que as
séries tendem a influenciar as
novelas: "Não. Público de telenovela é um, o de seriado é outro. As linguagens também".
Ela tampouco concorda que
hoje alguns capítulos de telenovelas, como episódios de seriados, contenham histórias com
começo, meio e fim. "Capítulos
de folhetim terminam tradicionalmente com a expectativa de
um novo rumo da ação. Eles são
interdependentes, ao contrário
dos episódios dos seriados. São
duas técnicas dramáticas totalmente distintas", afirma Joras.
A autora é responsável por
"Bela, a Feia", versão de uma
novela colombiana cuja história foi vendida para vários países e deu origem ao popular seriado norte-americano "Ugly
Betty". Para Joras, esse não é
um caso de namoro entre novela e série.
"A história foi vertida para o
formato original, a telenovela,
nos países com tradição no gênero, como o Brasil, e adaptada
para o formato de série, do tipo
sitcom, nos EUA, onde a tradição forte é a da série. Não houve
mescla entre as linguagens. Ou
é novela ou é série."
Formada em arquitetura, Joras difere dos colegas no modo
como chegou ao cargo de novelista. Em vez de começar como
colaboradora dos mais experientes, estreou como titular,
após vencer em 2007 um concurso na Record com a sinopse
de "Amor e Intrigas". Ganhou
R$ 20 mil, e sua novela foi escolhida para ir ao ar.
Futebol
Os cinco representantes da
nova geração entrevistados pela Folha são unânimes em
duas questões importantes.
A primeira é que a novela
tende a se transformar nos próximos anos, com a renovação
de seus criadores e a convergência entre novas mídias, mas
não haverá rompimento brusco com a linguagem consolidada pelos veteranos. "Os autores
mais velhos estabeleceram a
linguagem da telenovela brasileira. No meu caso e, acredito,
no de meus companheiros de
geração, seria muito difícil
romper completamente com o
trabalho deles", afirma Joras.
"Esses autores são nossas referências, entre outras. Toda
mudança é um salto dialético.
Você muda, mas aproveita a
base", complementa Thelma
Guedes, da Globo.
Além disso, otimistas, todos
concordam que a novela não
vai acabar. Tende a mudar seus
temas e experimentar novas
linguagens, incorporar a tecnologia e ser vista em outras mídias, como internet e celular.
Mas, defendem os autores, é e
vai continuar sendo um patrimônio nacional.
"Novela é igual a futebol. No
dia em que o futebol acabar no
Brasil, a novela também pode
acabar", imagina Duca Rachid,
parceira de Guedes na novela
"Cama de Gato".
"É uma absoluta inverdade
que haja queda de audiência
das novelas. O que houve foi
uma mudança de patamar dos
números, diante da concorrência com a TV paga e outras mídias. E isso mais na Grande São
Paulo. Em outros Estados, isso
não existe, a novela é muito
querida", afirma Guedes.
"Não acredito que a novela
perca espaço na preferência do
público. Novela traz rotina.
Não sei quem disse essa frase:
"O homem feliz é o homem que
tem rotina". Concordo. A vida
sem rotina é insuportável", diz
João Emanuel Carneiro.
(LM)
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