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DANÇA
Exterior reconhece folclore brasileiro
ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha
Esquecidos pela mídia e geralmente sobrevivendo sem patrocínios ou apoio do governo, os grupos de dança folclórica do Brasil
resistem às custas do empenho
pessoal de seus integrantes.
A falta de estímulo no próprio
país não impede, contudo, o reconhecimento no exterior. É por
meio das temporadas internacionais que os grupos populares conseguem se afirmar.
Entre os que já conquistaram
mercado de trabalho fora do Brasil
está o Balé Popular do Recife
(BPR), que se apresenta até amanhã em São Paulo, no Teatro Popular do Sesi. Comemorando 20
anos, esse elenco dirigido por André Madureira já se apresentou na
América do Norte e na maioria dos
países europeus.
No entanto, é o Balé Folclórico
da Bahia (BFB) que vem provando
que a dança de caráter popular pode se emancipar e se tornar um
carro-chefe da cultura do país.
Com oito anos de atividades, o
BFB já pode ser considerado um
fenômeno. Campeão de bilheterias
na Europa, o grupo baiano está em
temporada na Austrália, onde acaba de receber proposta para realizar a abertura dos Jogos Olímpicos
de Sydney, no ano 2000.
Até a virada do milênio, o BFB
não tem com o que se preocupar.
Com a agenda lotada para os próximos quatro anos, vem dando a
volta ao mundo em turnês que,
nos próximos meses, incluem
EUA, Canadá, Líbano, Finlândia,
Áustria, Alemanha e Bélgica.
Em agosto, o BFB participa na
França da 40¦ edição do Festival
Mundial de Folclore de Confolens,
o maior e mais antigo do gênero.
Escolhido pelos organizadores para ilustrar a publicidade do evento,
o BFB já está sendo considerado
atração principal.
Marginalidade
Para esse elenco que inclui ex-garotos de rua da Bahia e que já foi
marginalizado no início da carreira, o sucesso tem sabor especial.
``No início enfrentamos muito
preconceito'', diz Walson Botelho,
fundador do grupo.
``Quando montamos o BFB éramos obrigados a entrar nos teatros
pelas portas dos fundos. Em hotéis
onde animávamos congressos e
convenções, chegávamos a ser revistados na entrada e na saída. Na
Bahia, a dança folclórica está relacionada à marginalidade porque
inclui a presença do negro, da capoeira e do candomblé.''
Foi preciso persistência para o
BFB provar seu profissionalismo.
``Prometi que um dia sairíamos
dos teatros pelas portas da frente,
como estrelas'', diz Botelho.
Hoje, mesmo fora do Brasil o
BFB vem conquistando status inédito até entre os grupos folclóricos
europeus. Em novembro, o requintado e tradicional Théâtre du
Champs Elysées de Paris abrirá
suas portas para o grupo, para um
dos espetáculos de fim-de-ano.
``Mesmo em Nova York já quebramos tabus. Ano passado, o City
Center, teatro que costuma apresentar só grupos de dança moderna, nos recebeu para uma temporada e nos convidou para voltarmos em abril, quando lá realizaremos oito espetáculos.''
Segundo Botelho, a mídia também revela preconceitos com relação às manifestações folclóricas.
``Já houve jornalistas nos sugerindo para eliminarmos o termo folclórico do nome do grupo.''
``Tais atitudes confirmam que o
Brasil desvaloriza suas riquezas
culturais. Temos inúmeros grupos
folclóricos espalhados pelo país,
que sequer conhecemos, e que não
se afirmam por não terem experiência ou organização.''
André Madureira, diretor do Balé Popular do Recife, confirma o
preconceito. ``Também entrávamos pelas portas dos fundos, como se não fôssemos profissionais
sérios e honestos.''
Acreditando que há público para
a dança folclórica no Brasil, Madureira ressalta: ``Nosso trabalho já
influenciou a formação de outros
25 grupos em Pernambuco, onde
não é mais exótico falar em maracatu e caboclinha''.
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