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OSCAR 2004
Filme de Fernando Meirelles conquista o espaço destinado ao Brasil no imaginário dos acadêmicos do Oscar
"Cidade de Deus" muda paradigma brasileiro
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
O thriller-de-morro de
Fernando Meirelles conquistou o espaço destinado ao
Brasil no imaginário dos acadêmicos do Oscar, que tinham a
obra-prima de Hector Babenco
de 1981, "Pixote", como paradigma. É "Cidade de Deus" -e não
"Carandiru"- o "Pixote" deste
ano nos Estados Unidos.
Dessa maneira, as improváveis
quatro indicações do filme brasileiro consolidam o revezamento
do cetro: sai o império do brasileiro-argentino, consolida-se o de
Walter Salles.
Walter Salles, sim, pois é dele a
produção de "Cidade de Deus" e é
muito por sua influência o fato de
a Miramax ter optado pelo azarão
para fazer lobby junto aos votantes do prêmio. (Todos os anos o
estúdio dos irmãos Weinstein
tem um leque muito amplo de
longas a ser trabalhados nas indicações. Os que eles escolhem é
sempre questão política.)
Aliás, era do diretor do inédito
"Diários de Motocicleta" a última
indicação de um longa brasileiro
de ficção ao prêmio norte-americano, que trazia também uma
surpresa: "Central do Brasil" conseguira emplacar em 1999 as categorias filme estrangeiro e atriz,
para Fernanda Montenegro
-ambas perdidas, respectivamente para "A Vida É Bela", de
Roberto Benigni, e Gwyneth Paltrow ("Shakespeare Apaixonado", da mesma Miramax).
Ironia das ironias, "Cidade de
Deus" foi o pré-indicado pelo governo brasileiro ao Oscar do ano
passado e solenemente ignorado
pelos acadêmicos, que nem sequer o escolheram como um dos
cinco finalistas. (O premiado seria
o alemão "Lugar Nenhum na
África", atualmente em cartaz em
São Paulo.) Melhor fez o Globo de
Ouro, que colocou o longa entre
os finalistas de 2002, mas, na hora
agá, optou por premiar o espanhol Pedro Almodóvar e seu belíssimo "Fale com Ela".
Eles apenas cumprem uma tradição: o próprio "Pixote" nem sequer chegou a concorrer entre os
cinco estrangeiros no Oscar de
1982, sendo só indicado ao Globo
de Ouro do ano anterior (perdeu
para o britânico "Carruagens de
Fogo"). Mas Babenco seria compensado depois, com as quatro
indicações ao Oscar por "O Beijo
da Mulher Aranha": perdeu direção, filme e roteiro adaptado, mas
levou melhor ator (William Hurt,
realmente magnífico).
Só as indicações de ontem já são
uma vitória e coroam de certa
maneira a retomada do cinema
brasileiro, que em 2003 viu sua
platéia doméstica explodir, mas
realisticamente Meirelles e seu filme têm mais chances em fotografia (o outro favorito é "Cold
Mountain") e montagem (a briga
é com "O Senhor dos Anéis"). As
mais nobres direção e roteiro
adaptado devem ficar mesmo entre, respectivamente, Clint Eastwood e Peter Jackson e "Sobre
Meninos e Lobos" e "O Senhor
dos Anéis: O Retorno do Rei".
De resto, a categoria "filme estrangeiro" cumpriu a tradição e
surpreendeu todos os prognósticos. A única escolha óbvia foi "Invasões Bárbaras", a delicada continuação de "O Declínio do Império Americano" do canadense
Denys Arcand, que é desde já o favorito. Ficaram de fora o afegão
"Osama", que havia sido premiado no último domingo com o
Globo de Ouro, o francês "Monsieur Ibrahim" e o alemão
"Adeus, Lênin!", também em cartaz atualmente em São Paulo.
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