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MODA
Projeto "Street Wall" põe poemas dos irmãos Campos e companheiros para "desfilar" na São Paulo Fashion Week
Poesia concreta ganha "passarela" de TVs na SPFW
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto dentro das salas da
Bienal passeiam as gazelas da Fashion Week, em um de seus corredores o desfile é de poemas.
"Vestidos" com animações de
última moda, com trilhas sonoras
compostas especialmente para
acompanhar suas passadas, 12
textos de oito poetas mostrarão
suas curvas no evento do parque
Ibirapuera.
"Street Wall" é o nome do projeto, concebido pela encenadora
Daniela Thomas, batizado pelo
poeta Augusto de Campos e "curado" pela artista plástica e poeta
Lenora de Barros.
A palavra "wall", muro, vem de
"videowall" (aqueles agrupamentos de TVs que formam um grande televisor quadrado). A novidade é indicada pelo termo "street".
As animações de poemas serão
exibidas em uma fileira horizontal de monitores, como uma rua.
Apesar do sotaque inglês, de
"walls", "fashions", "streets" e
"weeks", é poesia das mais paulistanas a que desfilará pela passarela de 25 metros de televisores.
São concretistas, neoconcretistas ou parentes espirituais da concretude os poetas que terão animações no "Street Wall".
Do "power trio" original, Haroldo e Augusto de Campos e Décio
Pignatari foram pinçados dois
poemas cada um, desde os da primeira fase do movimento -"LIFE" (1957), de Décio, "nascemorre" (1958), de Haroldo, e "cidade/
city/cité" (1963), de Augusto-
até um mais recente "crisantempo", que Haroldo de Campos,
morto há um ano, fez em 1998.
Completam o quadro o também velha-guarda Ronaldo Azeredo, que cede seu "velocidade"
(1957), e os "herdeiros" Walter
Silveira (com dois trabalhos),
João Bandeira, Lenora de Barros e
Arnaldo Antunes, que tem em seu
"Máximo Fim", de 2000, o poema
mais recente.
"Cada poema recebeu um tratamento visual diferente", conta Lenora de Barros. "Em alguns fizemos um trabalho só tipográfico;
em outros, entram imagens, como cenas de carros no fundo do
poema "cidade"."
Este, o poema mais "urbano" da
mostra, é o que mais se aproxima
da idéia original. "Street Wall" seria, inicialmente, uma coletânea
de poemas urbanos, conceito que
se engancharia no aniversário
paulistano. Assim como as cidades, que crescem desordenadas, o
projeto também transbordou.
Grima Grimaldi, videomaker
que trabalhou em parceria com
Lenora, diz que o resultado final
continuou "urbano". "Olhar os
poemas andando por essas telas é
como alguém em um ônibus vendo a cidade passar na janela."
Já experimentado em trabalhos
como esses, que ele chama de
"poesia visual" -e que Augusto
de Campos batiza de "verbivocovisuais"-, Grimaldi diz que o
grande desafio foi o novo formato, de não mais do que 1 m de altura e 25 m de extensão. "Cheguei a
refazer animações de poemas
mais de 15 vezes."
Completando o núcleo de
"Street Wall" está o músico Cid
Campos, que fez os "tratamentos
sonoros" das criações.
"Meu trabalho é uma musicalização da poesia, compor em cima
dela, para ela, fazer desde samplers de vozes até cantar sobre os
poemas", explica Campos.
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