São Paulo, quarta, 28 de janeiro de 1998


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Série recupera Orlando Silva e Clementina

da Reportagem Local

Na ressaca do Natal, a EMI libera "Tiragem Especial", mais um pacote de relançamentos de títulos que permaneciam inéditos em CD, desta vez com resultados mais irregulares e de apuro técnico e gráfico bem inferior ao padrão que a gravadora vem estabelecendo.
O critério na escolha de títulos é o do "vamos agradar a todo mundo", passeando de Orlando Silva a Herva Doce. Os encartes são pobres, mas a maioria dos CDs vem enriquecida por faixas-bônus.
Quem puxa o comboio é "Clementina", álbum de 79 da sacerdotisa primitiva Clementina de Jesus. Não dá para entender a EMI: com uma discografia inigualável em seus arquivos, escolhe o álbum mais artificial da artista -daqueles desvirtuados por excesso de convidados especiais.
É um grande disco, ainda, com cantigas de fibra divididas com Clara Nunes ("Embala Eu") e Ivone Lara ("Sonho Meu"), mas passa longe dos tratados de pesquisa de folclore que a artista inaugurou em 66. Continuam no fundo do baú.
Aí há um "Orlando Silva" de 59, que começa glorioso, com "Errei, Erramos", de Ataulfo Alves, mas, no todo, flagra Orlando depauperado, parecendo já imitar seu imitador Nelson Gonçalves.
O corte é brusco para o que talvez seja a grande raridade do pacote: "Coruja", primeiro disco da dupla de jovem guarda Deny e Dino. Traz o hit-título e uma impecável versão em português de "As Tears Go By", dos Rolling Stones.
O guerreiro Erasmo Carlos, até agora francamente depreciado no setor relançamentos, tem menos sorte. "Sou uma Criança" contém vários de seus melhores momentos -"Sentado à Beira do Caminho", "Você Me Acende", "Filho Único", "Mesmo Que Seja Eu"-, mas registrados num frouxo show ao vivo de 89.
Quem gostar de "Coruja" deve gostar de "Herva Doce", disco de 82 da banda homônima. É rock edulcorado com arranjos dos mais ordinários, desde o hit infame "Erva Venenosa" (versão do ícone da jovem guarda Rossini Pinto para "Poison Ivy") até improbabilidades pop como "Bip Bip" e "Pra Você Me Amar".
Quem gostar desses dois pode gostar também de um trambolho chamado "Paulo Cezar e os Maiores Sucessos dos Beatles", compêndio de traduções em português para iludir fãs incautos da velha banda inglesa. Passe a régua.
Outro Paulo César, bem mais precioso, aparece em "Paulo César Pinheiro", de 80. Num disco cheio de convidados, pode-se ouvir a voz de não-cantor de um sambista de porte, parceiro de Baden Powell, Mauro Duarte e Dori Caymmi e autor de sambas imortalizados por Elizeth Cardoso e Clara Nunes.
De volta ao inusitado, "Cabaret Mineiro" (81) recupera a trilha do filme homônimo, quase toda composta por Tavinho Moura. Passa meio em branco, à parte ao humor pornô de "Suíte do Quelemeu".
Ainda na linha humorística, fecha o pacote "Grande Coisa", do grupo Premê. Envelhecidas 12 anos, as gracinhas soam dinossáuricas, mas as duas versões de "Rubens" -uma francamente homossexual e outra "maquiada" por imposição da Censura- garantem a graça do resgate. (PAS)

Série: Tiragem Especial Artistas: Clementina de Jesus, Orlando Silva, Deny e Dino, Erasmo Carlos, Herva Doce, Paulo Cezar, Paulo César Pinheiro, Tavinho Moura, Premê Lançamento: EMI Quanto: R$ 18, cada CD



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