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PERSONALIDADE
Em livro escrito por Luiz Carlos Maciel e Maria Luiza Ocampo, atriz revê carreira e assassinato do marido
Biografia tira Dorinha Duval da sombra
AILTON MAGIOLI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Dorinha Duval insinua uma saída da sombra, depois de duas décadas. "Em Busca da Luz - Memórias de Dorinha Duval Narradas a
Luiz Carlos Maciel e Maria Luiza
Ocampo" promete reacender a
polêmica em torno do assassinato
do publicitário Paulo Sérgio Garcia, cometido pela atriz paulista,
então sua mulher.
Fixada no imaginário do telespectador na faixa dos 30 anos de
idade como uma das irmãs Cajazeira da novela "O Bem Amado",
a ex-vedete Dorinha matou o marido com três tiros em sua própria
casa, no bairro Jardim Botânico,
zona sul carioca, na noite de 5 de
outubro de 1980.
Responsável pela redução da
pena de Dorinha em seu segundo
julgamento, a tese de legítima defesa volta a ser invocada pela atriz
no livro que, ao longo de 200 páginas, narra uma vida intensa e trágica que teve seu ápice com o crime praticado contra o terceiro
marido, 16 anos mais jovem do
que ela.
Da vedete eleita três vezes consecutivas uma das "Certinhas do
Lalau" pelo jornalista Stanislaw
Ponte Preta, hoje pouco ou quase
nada resta. Aos 72 anos de idade,
aposentada e bem acima das medidas que chamaram atenção do
diretor Daniel Filho, seu segundo
marido, Dorinha Duval vive sozinha em apartamento próprio no
bairro carioca de Botafogo, em
constante estado de meditação,
entre pinturas e esculturas, de inspiração esotérica, de sua autoria.
Agora, começa a pôr fim à reclusão. A convite da Escola de
Samba Mocidade Independente
de Padre Miguel, fez sua estréia na
passarela do samba carioca no último domingo, desfilando no
Sambódromo. "Fiquei surpresa
com o convite. Nunca tinha saído
em uma escola. Não deixa de ser o
meu retorno ao grande palco",
diz. Dorinha tomou parte da ala
que reverenciava o mundo infantil e prestava homenagem a Monteiro Lobato, o autor de "Sítio do
Pica-Pau Amarelo" -em cuja
versão televisiva, Dorinha interpretou a falsa bruxa Cuca, seu último papel na TV brasileira. "Carnaval é arte, e o tema da escola era
a paz; a paz não discrimina."
Levada a júri em 1983, a atriz foi
condenada a 18 anos de prisão.
Com o julgamento anulado, apesar dos recursos impetrados pelos
advogados da família da vítima,
seis anos depois ela teria a pena
reduzida para seis anos de cadeia.
Cumpridos oito meses de prisão
no Rio, Dorinha Duval ganhou
direito ao regime semi-aberto, no
qual acabou de cumprir a pena.
Dorinha colheu significativo sucesso ainda jovem na carreira artística. Bailarina de grupo em cassinos, aos 23 anos viajava com o
sexteto Brasil Moreno para cantar
samba em cassinos do Brasil e da
Europa. O gosto pela arte nasceu
em casa, onde, além de tocar piano o pai gostava de declamar poemas. "Acredito que ele tenha me
influenciado porque tinha alma
artística", conta ela, que estreou
nos palcos ao lado de Cauby Peixoto, estrelando musical de José
Vasconcelos e Zeloni no Teatro de
Alumínio, em São Paulo.
Vedete consagrada, Dorinha
acompanhou de perto os primeiros passos da TV nacional. Tomou parte da cerimônia de inauguração da televisão brasileira, na
década de 50, cantando e tocando
maraca na orquestra do maestro
Robledo. Estrela de companhias
de teatro de revista comandadas
por Walter Pinto, Juan Daniel,
Carlos Lisboa e outros diretores
de sucesso nas décadas de 40 e 50,
Dorinha também teve breve passagem pelo cinema. Chegou a
contracenar com astros do porte
de Mazzaropi e Grande Otelo.
Depois de trabalhar nas TVs
Tupi, Excelsior e Rio (onde participou de teleteatros e programas
como "Time Square" e "Adoro a
Dora" -neste último mostrando
o dia-a-dia de um casal ao lado de
Daniel Filho), na década de 70 estrearia na TV Globo. A convite de
Vicente Sesso, fez um pequeno
papel em "Meu Primeiro Namorado", protagonizada por Regina
Duarte e Cláudio Marzo.
Posteriormente, faria "Irmãos
Coragem", de Janete Clair, seguida de seu maior sucesso na TV,
"Selva de Pedra", da mesma autora, no papel da matuta Diva. O sucesso se repetiria na primeira novela em cores da televisão brasileira, "O Bem-Amado", de Dias Gomes, em que vivia uma das irmãs
Cajazeiras ao lado de Ida Gomes e
Dirce Migliaccio. Depois vieram
as novelas "O Espigão" e "Maria,
Maria", além do humorístico
"Azambuja & Cia.", ao lado de
Chico Anysio, e do infantil o "Sítio
do Pica-Pau Amarelo".
O primeiro casamento de Dorinha Duval foi com o produtor
Mário Pamponet Júnior, então diretor da TV Tupi de São Paulo.
Divorciada, no final da década de
60 a atriz se casaria com Daniel Filho, que conheceu ainda menino
na companhia de teatro do futuro
sogro, Juan Daniel, na qual substituiu a então estrela Elvira Pagã. A
cerimônia de casamento, ("chiquérrima", diz a atriz), foi em Las
Vegas, nos EUA. O fim do casamento a levaria à primeira experiência com o álcool, conta ela no
livro. Por essa época, ela conheceria Paulo Sérgio Garcia, então desempregado e para o qual conseguiria uma vaga na agência de publicidade do amigo Carlos Manga, diretor com quem havia trabalhado em vários programas.
Apesar de aposentada, a atriz
mantém-se ligada à Globo por
contrato profissional até os dias
de hoje. O retorno à televisão, no
entanto, é descartado pela própria
Dorinha. "Sou muito grata à Globo pelo salário e plano de assistência médica, que inclui até a cremação de meu corpo", conta.
A inspiração para a pintura a
óleo e a escultura em bronze que
cultiva vem dos momentos de
meditação em casa. Adepta da leitura esotérica, a atriz tem sempre
a seu lado obras como "Conversações Esotéricas", do espanhol Vicente Beltrán Anglada, e "Wagner, Mitólogo y Ocultista", do italiano Mario Roso de Luna.
"Vou vivendo até quando Deus
permitir", diz a atriz, cujos principais relacionamentos hoje são a
filha Carla Daniel, também atriz
-atualmente na novela "O Cravo
e a Rosa", onde interpreta Lourdes, uma das solteironas convictas da trama- e o ex-marido Daniel Filho.
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