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MÚSICA
Casal com quem o compositor morou grava canções desconhecidas dele
CD feito em sítio mostra "lado B" de João Pacífico
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma boa parte da memória do
compositor paulista João Pacífico
(1909-1998), um dos maiores nomes da chamada música sertaneja
de raiz, está guardada em um sítio
da cidade de Guararema, a 85 km
de São Paulo.
São itens como fotos, discos em
78 rotações, depoimentos gravados em fitas cassete, imagens em
VHS, letras manuscritas em caprichada caligrafia em cadernos
de brochuras.
O acervo é mantido pelo casal
proprietário do sítio Pirangi, o engenheiro químico aposentado
Freddy Mogentale e a psicóloga
Maria Antonia, amigos de Pacífico nos seus últimos anos de vida
-ele sofria de câncer na próstata
e morreu em 30 de dezembro de
98, em Guararema, aos 89 anos.
A casa na qual morou o compositor do clássico "Cabocla Teresa"
(1940) fica próxima de um lago,
cercada por um bambuzal. Desde
agosto de 99, o local foi transformado no estúdio Pingo D'Água,
título de canção homônima do
autor, gravada em 44. Foi ali, na
outrora morada de Pacífico, que o
casal, também devoto da música
sertaneja genuína, gravou um CD
independente em homenagem ao
artista popular.
O lançamento de "Freddy e Maria Antonia Cantam João Pacífico" aconteceu há duas semanas,
no Teatro Municipal de Guararema. E coincide com dois projetos
de documentários sobre o compositor, que era admirado pelo
poeta Guilherme de Almeida e
pelo escritor Mário de Andrade.
São dez faixas, oito delas letras
menos conhecidas de Pacífico,
como "No Banquinho", "Belezas
do Sertão", "Distante" e "Estória
de um Prego". As outras duas o
reverenciam: "Um Tal João", de
José Márcio Castro Alves, e "Caboclo João", de Adauto Santos,
importante violeiro e parceiro,
morto em 99.
Freddy e Maria Antonia conheceram Pacífico no início dos
anos 80, quando ele foi jurado em
um festival do qual participavam,
na cidade vizinha de Jacareí. Não
demorou muito e o sítio em Guararema virou ponto de encontro
de músicos como Gereba, Adauto
e Nhô Morais.
As cantorias aconteciam em
torno de um quiosque de sapé, ao
ar livre, logo batizado pelo compositor de "recanto da melodia".
Pacífico compôs por volta de
300 músicas e foi gravado por cerca de mil intérpretes, entre eles
Beth Carvalho, Inezita Barroso,
Jair Rodrigues, Sérgio Reis, Rolando Boldrin e Antônio Marcos.
Em depoimento gravado em vídeo, três dias antes da sua morte,
ele diz que "a inspiração não tem
explicação". O adjetivo ou "oceano" do nome artístico sintetizam
sua personalidade. "Era um homem simples, generoso, que às
vezes não se dava o devido valor",
diz Maria Antonia, 51.
"Quando era convidado para se
apresentar nos cafundós, não titubeava em viajar de ônibus, mesmo em idade octogenária."
"João fazia uma música para
qualquer tema que lhe sugerissem", afirma Freddy, 50.
A homenagem feita pelo casal
não foi a única feita recentemente
para o compositor, poeta e prosador de Cordeirópolis.
No início do ano passado, composições de Pacífico foram gravadas pelo ator global Antônio Fagundes. O disco "Tributo a João
Pacífico", lançado pela Som Livre,
foi a estréia de Fagundes no universo musical.
Disco: Freddy e Maria Antonia Cantam
João Pacífico
Lançamento: independente (tel. 0/ xx/
11/4693-1339)
Quanto: R$ 15
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