São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 1998

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Mostra reconta o glamour da era Warhol

ERIKA PALOMINO
Colunista da Folha

Segundo andar; Andy Warhol. A entediada frase do ascensorista do museu fornece pistas do que vem a seguir. Com certa dose de estranhamento, o visitante caminha pelo universo do artista que estabeleceu as diretrizes do pop nos anos 60. O ponto de partida são as três palavras que apresentam a exposição: glamour, estilo, fashion.
Aberta em novembro no Whitney Museum de Nova York, atualmente em Toronto (Canadá), a mostra "The Warhol Look" segue em maio para Londres, prometendo arrastar sua cauda de polêmica.
Ao expor itens como os objetos de toucador do artista morto em 1987, aos 59 anos, bem como algumas de suas perucas, roupas e sapatos, a mostra abre espaço para as mais cínicas críticas do mundo da artes plásticas.
"Os cosméticos de Andy Warhol estão em exposição. Se ele os usou para preparar seu rosto para suas polaroids como uma drag, em 81, então estes cosméticos são fonte para a arte. Se não, ficamos na feliz e confusa situação de estarmos simplesmente olhando para alguns cosméticos", detona Wayne Koestenbaum na "Artforum" deste mês (disponível para compra em São Paulo).
Assim, "The Warhol Look" ajuda a discutir o conceito de estrelato instalado pelo artista, bem como seu próprio valor.
Na mostra, entendemos de que modo sua coleção de fotos de astros de Hollywood foi o ponto de partida para transformar em estrelas pessoas comuns como Nico, Eddie Sedgwick., Joe Dalessadro ou Candy Darling, onde no estúdio Factory se criava a mitologia necessária para tanto.
Completam o processo testes cinematográficos de caráter amador; filmes sem qualquer narrativa e, principalmente, muito conhecimento da cultura social nova-iorquina: festas, drogas, dinheiro e a ausência dele, prestígio. "Durante 63 e 68, tudo o que Warhol e sua "entourage' vestiam, falavam e faziam se tornou tão significante quanto o que eles produziram ou mostraram", explicam os curadores Mark Francis e Margery King no catálogo brilhantemente resolvido pelo designer Bruce Mau.
"The Warhol Look" tenta, portanto, delicada semiótica do glamour. Seus meios consistem em momentos do trivial e do efêmero coletados desde seu trabalho como vitrinista, nos anos 50, até o ápice de sua fortuna, nos 80.
Um dos méritos da mostra se concentra nas novas gerações. "The Warhol Look" apresenta um material que abrange hypes como os vestidos de Gianni Versace feitos com estampas de telas de Warhol; páginas recentes da revista "Interview" (inventada pelo artista) e jaquetas com a imagem do amigo Jean Michel Basquiat, avaliando a influência e os desdobramentos mais atuais de seu legado na cultura pop.
Entre as relíquias, uma entrevista com a dama do estilo Diana Vreeland, em seu lendário apartamento nova-iorquino, e um impagável vídeo com o passo-a-passo das tais polaroids de Warhol vestido de mulher. Puro fetiche pop.


Exposição: The Warhol Look/Glamour Style Fashion
Onde: Art Gallery of Ontario - Toronto, Canadá. Até 3 de maio



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