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CINEMA
Empresa viabilizou realização de `O Paciente Inglês'
Miramax lidera
guinada de poder
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington
Às 23h da noite do Oscar, na última segunda-feira, a polícia de Los
Angeles começou a impedir que
mais convidados para a festa de
comemoração da distribuidora
Miramax entrassem no hotel
Mondrian, onde ela estava se realizando, porque os bombeiros temiam uma tragédia, devido à a superlotação da sala.
Pessoas com convites e até alguém não identificado que brandia um Oscar de verdade de dentro
de uma enorme limusine preta foram mandados de volta para casa
pelos policiais.
Essa foi uma das demonstrações
mais eloquentes na noite da guinada no poder por que passa a indústria cinematográfica norte-americana.
Dentro do Mondrian, acotovelavam-se nomes como Juliette Binoche, Geoffrey Rush, Glenn Close,
Quentin Tarantino, Kenneth Branagh, Michael Eisner (o chefão da
Disney), Mick Jagger, Keith Richards e centenas de outros astros
e estrelas.
Mais importante: a Miramax teve 20 indicações para o Oscar e o
filme que ela viabilizara depois de
os grandes estúdios o terem recusado -"O Paciente Inglês"- faturou nove prêmios, mais do que
qualquer outro na história, com
exceção de "Ben-Hur" e "Amor,
Sublime Amor", ambos mais de
25 anos atrás.
Bairro operário
A Miramax é o produto de dois
irmãos criados no bairro operário
de Flushing, no Queens, subúrbio
de Nova York, filhos de uma típica
dona de casa judia (Miriam
Weisntein) e um cortador de diamantes (Max). O nome da companhia que eles criaram em 1979 é
uma homenagem aos pais.
Harvey, 44, e Bob, 42, desenvolveram sua preferência pelo chamado "cinema de arte" por mero
acaso, bom gosto inato e incentivo
do pai. Adolescentes, foram assistir a "Os Incompreendidos"
(1959), de François Truffaut,
achando que se tratava de um filme erótico. Não era.
Mas eles gostaram e passaram a
frequentar diariamente o cine
Mayfair -o único de Queens a
mostrar filmes de qualidade- e a
discuti-los com o pai.
Mais tarde, os dois largaram a faculdade para dirigir um teatro decadente em Buffalo, no interior de
Nova York.
Ali, alternavam shows de rock
com uma programação eclética de
cinema, que ia dos irmãos Marx a
"2001, uma Odisséia no Espaço",
de Stanley Kubrick, que, aliás, é o
grande ídolo da dupla: eles dizem
ter assistido a "Spartacus" (1960)
pelo menos cem vezes.
Fundação
Em 1979, eles fundaram a Miramax e começaram a distribuir filmes europeus nos EUA e a apostar
em produções independentes nacionais.
Dez anos depois, com um trio de
sucessos ("Cinema Paradiso", de
Giuseppe Tornatore, "Meu Pé Esquerdo", de Jim Sheridan, e "sexo, mentiras e videoteipe", de Steven Soderbergh), saíram do anonimato.
Os êxitos se avolumaram: "O
Piano", "O Carteiro e o Poeta",
"Pulp Fiction". Em 93, foi comprada pela Disney por US$ 75 milhões, mas mantém a autonomia
(no mesmo ano, distribuiu dois
dos mais controvertidos filmes do
ano: "Kids" e "O Padre").
Em 96, a Miramax faturou US$
250 milhões, e seu valor de mercado é estimado em cerca de US$ 1
bilhão.
Embora ela continue pequena
diante da grandeza do mercado (a
Disney faturou US$ 17 bilhões no
ano passado), a Miramax não pode mais ser considerada uma "nanica".
Seu faturamento é igual ao de todas as outras distribuidoras independentes juntas e, com "O Paciente Inglês", em que arcou com
80% dos custos de produção (no
total, US$ 34 milhões), ela entra
para o seleto grupo de produtores
de um Oscar de melhor filme. Nada mau para dois irmãos de
Queens.
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