São Paulo, terça-feira, 28 de março de 2000


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DANÇA
Companhia canadense encenará em setembro coreografia que persegue "a velocidade do pensamento"
Lalala volta ao país com a lírica "Salt"

INÊS BOGÉA
especial para a Folha

Em setembro deste ano retorna ao Brasil a Lalala Human Steps, uma das mais populares e aclamadas companhias de dança do Canadá.
Com sede em Montreal, é dirigida pelo coreógrafo Edouard Lock e tem na bailarina Louise Lecavalier a imagem por excelência do grupo: cabelos descoloridos, musculatura bem definida, vitalidade impressionante e uma explosão de movimento cujo nome, agora, é exatamente este: Lalala.
Gestos intensos, giros na horizontal e bailarinos colidindo uns contra os outros como projéteis humanos são imagens constantes na dança de Lock.
A base dos movimentos pode ser clássica ou beber na fonte comum da dança moderna; mas o que é conhecido aqui se vê quebrado por outros empuxos e outras resoluções. Isso se dá num contexto que põe em xeque, também, noções de gênero e sexualidade.
Mulheres e homens vão se confrontar com desafios -não são os do movimento.
Em suas produções o Lalala utiliza recursos tecnológicos de grande porte (e orçamentos proporcionais).
Lock ativa o vocabulário atual da dança, com coreografias de extrema energia e intensidade, que vêm fascinando o público do mundo inteiro há quase duas décadas.
"Salt", coreografia que será apresentada no Brasil (integrando a série Antares Dança 2000), teve estréia no Japão, em 1998, e permanece em turnê mundial até o final deste ano.
O trabalho é uma série de "pas-de-deux" líricos, com frases coreográficas extremamente rápidas, que para Lock "revelam a velocidade do pensamento, desorientando nossas percepções".
A coreografia é pontuada por imagens de filme, evocando a passagem do tempo, da infância à adolescência. O uso de sapatilhas de ponta serve "para afastar os bailarinos do chão, tornando seu vínculo com o mundo tão tênue quanto o das almas".
O "sal" do título alude ao resíduo que as ondas do mar deixam na areia da praia, "ou aquilo que resta de uma grande experiência".

História e parcerias
Companhia de grande prestígio internacional, Lalala Human Steps teve coreografias premiadas desde o início de suas atividades, como "Human Sex" (1985) e "New Demons" (1987). Trabalhos mais recentes, como "Infante C'Est Destroy" (1991) e "2" (1995), foram assistidos por mais de 100 mil pessoas, em 60 cidades.
As parcerias de Lock com músicos como David Bowie e Frank Zappa também marcaram época. Em "Salt", a música ao vivo, para piano, violoncelo e guitarra elétrica, foi composta pelo americano David Lang; outras músicas são de Kevin Shields, da banda irlandesa My Bloody Valentine.
"Dança, para mim, é estrutura, sem significados. Não tem sentidos universais, como as palavras. Mas tem estruturas análogas às da linguagem", declarou Lock à Folha (veja entrevista abaixo).
Mas o significado de suas coreografias vai muito além das formas.
A dança, aqui, concentra em gestos aquilo que as palavras não dizem - dizendo o bastante para que cada um de nós dê um nome novo, para sempre, a essa dança dos sentidos: lalala.


Inês Bogéa é bailarina do Grupo Corpo


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