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DANÇA
Companhia canadense encenará em setembro coreografia que persegue "a velocidade do pensamento"
Lalala volta ao país com a lírica "Salt"
INÊS BOGÉA
especial para a Folha
Em setembro deste ano retorna
ao Brasil a Lalala Human Steps,
uma das mais populares e aclamadas companhias de dança do
Canadá.
Com sede em Montreal, é dirigida pelo coreógrafo Edouard Lock
e tem na bailarina Louise Lecavalier a imagem por excelência do
grupo: cabelos descoloridos,
musculatura bem definida, vitalidade impressionante e uma explosão de movimento cujo nome,
agora, é exatamente este: Lalala.
Gestos intensos, giros na horizontal e bailarinos colidindo uns
contra os outros como projéteis
humanos são imagens constantes
na dança de Lock.
A base dos movimentos pode
ser clássica ou beber na fonte comum da dança moderna; mas o
que é conhecido aqui se vê quebrado por outros empuxos e outras resoluções. Isso se dá num
contexto que põe em xeque, também, noções de gênero e sexualidade.
Mulheres e homens vão se confrontar com desafios -não são os
do movimento.
Em suas produções o Lalala utiliza recursos tecnológicos de
grande porte (e orçamentos proporcionais).
Lock ativa o vocabulário atual
da dança, com coreografias de extrema energia e intensidade, que
vêm fascinando o público do
mundo inteiro há quase duas décadas.
"Salt", coreografia que será
apresentada no Brasil (integrando a série Antares Dança 2000),
teve estréia no Japão, em 1998, e
permanece em turnê mundial até
o final deste ano.
O trabalho é uma série de "pas-de-deux" líricos, com frases coreográficas extremamente rápidas, que para Lock "revelam a velocidade do pensamento, desorientando nossas percepções".
A coreografia é pontuada por
imagens de filme, evocando a passagem do tempo, da infância à
adolescência. O uso de sapatilhas
de ponta serve "para afastar os
bailarinos do chão, tornando seu
vínculo com o mundo tão tênue
quanto o das almas".
O "sal" do título alude ao resíduo que as ondas do mar deixam
na areia da praia, "ou aquilo que
resta de uma grande experiência".
História e parcerias
Companhia de grande prestígio
internacional, Lalala Human
Steps teve coreografias premiadas
desde o início de suas atividades,
como "Human Sex" (1985) e
"New Demons" (1987). Trabalhos
mais recentes, como "Infante
C'Est Destroy" (1991) e "2" (1995),
foram assistidos por mais de 100
mil pessoas, em 60 cidades.
As parcerias de Lock com músicos como David Bowie e Frank
Zappa também marcaram época.
Em "Salt", a música ao vivo, para
piano, violoncelo e guitarra elétrica, foi composta pelo americano
David Lang; outras músicas são
de Kevin Shields, da banda irlandesa My Bloody Valentine.
"Dança, para mim, é estrutura,
sem significados. Não tem sentidos universais, como as palavras.
Mas tem estruturas análogas às da
linguagem", declarou Lock à Folha (veja entrevista abaixo).
Mas o significado de suas coreografias vai muito além das formas.
A dança, aqui, concentra em
gestos aquilo que as palavras não
dizem - dizendo o bastante para
que cada um de nós dê um nome
novo, para sempre, a essa dança
dos sentidos: lalala.
Inês Bogéa é bailarina do Grupo Corpo
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