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MÚSICA
Donos de selos lançam a Associação Brasileira da Música Independente
Começa articulação da cena alternativa nacional
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Os pequenos da indústria fonográfica nacional começam a criar
uma Associação Brasileira da Música Independente, esperando
que ela lhes dê suporte e força no
cenário musical local.
Na semana passada, foi constituída em São Paulo uma comissão
especial que tem o objetivo de instituir juridicamente a associação.
O grupo de discussão, de que fizeram parte representantes de 29
gravadoras independentes, se deu
o prazo de 40 dias para que a ABMI seja efetivamente fundada.
A comissão é formada por Rodolfo Stroeter (da Pau Brasil), Pena Schmidt (Tinitus), Costa Neto
(Dabliú), Benjamim Taubkin
(Núcleo Contemporâneo),
Eduardo Muskat (MCD) e Thomas Roth (Lua Discos), todos de
São Paulo.
"Estando na mesma cidade, ficam mais fáceis as primeiras reuniões", justificou Taubkin, que
neste primeiro momento assume
a liderança da movimentação.
Coordenador do projeto Rumos Música, do Instituto Itaú
Cultural, Taubkin direcionou seu
mapeamento de novos valores da
MPB na seleção de artistas e selos
independentes em todo o país.
Em maio, uma coleção de dez
CDs compilará o material selecionado (leia texto nesta página).
O dono da gravadora Lua Records, Thomas Roth, cita a existência de 400 selos e 2.000 produtores independentes hoje no Brasil e explica o início dos trabalhos:
"É importante ressaltar que não
somos uma diretoria. Somos uma
comissão que deverá ter subsídios
de outros participantes do evento
no Itaú Cultural, mas que por serem de outros Estados aceitaram
que a comissão fosse formada por
pessoas e selos de São Paulo. Haverá uma nova rodada, com selos
fundadores da ABMI, para as definições. Então, o Brasil inteiro
deverá estar representado".
Taubkin fala da parceria com o
Itaú e justifica o aparente paradoxo do vínculo entre um grande
banco e o "levante" dos independentes: "O Instituto Itaú Cultural
não é o banco. É mantido pelo
banco. Tem um perfil especial, de
ser voltado exclusivamente a
questões culturais. Muitas vezes
prescinde até de eventos".
Pena Schmidt, produtor da
grande indústria nos 70 e 80 e hoje
dono da gravadora Tinitus, diz:
"Ainda falta um pouco, mas parece que chegamos ao consenso sobre objetivos e formato. Agora é
trabalho de formiga até que os resultados apareçam".
Um ponto de controvérsia já
aparece nas discussões: se os independentes devem ou não se filiar à Associação Brasileira de
Produtores de Discos (ABPD),
controlada pelas grandes gravadoras multinacionais.
Diz o compositor e dono do selo
Thanx God, Carlos Careqa: "Percebo que estamos nos unindo um
pouco tarde, mas ainda dá para
fazer muita coisa. Só não gosto da
possibilidade de participar da
ABPD. Acho que deveríamos
criar uma "ABPDI", para termos
autonomia perante o mercado".
Em outra linha, Thomas Roth
diz que o discurso não é de confronto: "Todo mundo tem consciência de que gostaria de ter acesso às grandes vendagens, mas não
queremos confrontar a ABPD".
Taubkin afirma não querer assumir cargo na diretoria da futura
instituição: "As "majors" e as independentes têm vocações diferentes, mas isso não quer dizer que
não possa haver convergência.
Sinto um respeito crescente delas
em relação a nós. Já nos percebem
como aliados, sabem que precisam do independente porque ele
é que corre o risco".
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