|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"A NOITE DOS MORTOS-VIVOS"/"O HOMEM DO BRAÇO DE OURO"
Atmosfera realista conduz ao sobrenatural e o torna crível
DA REDAÇÃO
Não faltam motivos para
que "A Noite dos Mortos-Vivos" (versão original, de 1969)
tenha se tornado um marco na
história do filme de terror.
O primeiro deles é a sua originalidade. Em várias frentes. Em primeiro lugar, o realismo cru da direção de George Romero introduz um novo parâmetro no gênero, normalmente dominado seja
pelo gótico, seja pelo barroco.
O que há de mais terrível em "A
Noite dos Mortos-Vivos" é que os
personagens nos sejam tão familiares: um rapaz e uma moça vão
colocar flores no túmulo do pai,
quando são atacados por um
morto-vivo. Ele morre. Ela consegue chegar a uma casa que será refúgio de vários vivos, ao longo de
uma noite interminável.
Em segundo lugar, esses mortos-vivos estão longe de ser emanações infernais: é a radiação (um
terror bem humano) que os tira
dos túmulos e os transforma em
monstros mutantes. É, portanto,
o homem que gera, com sua ação,
seu próprio terror.
Nem por isso ele é menor: cada
minuto é de tensão, em que o melhor do gênero vem à tona, isto é:
essa capacidade que só o fantástico tem de despertar nossos fantasmas mais profundos -o medo da morte, da mutação.
Em nenhum momento Romero
cede à facilidade do cinema-susto,
tão frequente no horror mais recente. Não há necessidade de aparições rocambolescas para gelar
nosso sangue. É a atmosfera realista (parece um filme de John
Cassavetes, nesse sentido) que
nos conduz ao sobrenatural e o
torna mais crível e aterrorizante.
Por fim, o fato de trabalhar com
atores desconhecidos introduz
um elemento a mais de horror.
Um ator famoso nos tranquiliza e
dá a certeza de que o herói sobreviverá para contar a história, o
que não acontece aqui. O filme
dispõe de uma produção modesta, mas não se ressente desse fato.
Pelo contrário, tira partido dela. É
indispensável para os fãs do gênero e também para os que não são
tão fãs assim.
"O Homem do Braço de Ouro"
(1955), outro lançamento desse
lote da Continental, não entra na
categoria das obras-primas. Contribui para isso o fato de Otto Preminger ter precisado mitigar bastante o drama de Frankie Machine, o morfinômano que, após
uma desintoxicação, tenta se livrar do vício. Um amor infeliz e a
presença tentadora de um traficante não o ajudarão.
Dois pontos chamam a atenção:
a interpretação de Frank Sinatra
-certamente a mais difícil e
bem-sucedida de sua carreira- e
as sequências em que Frankie tenta se manter afastado da droga.
Nos anos 50, a censura hollywoodiana julgava que o melhor
método de combater as drogas
era ignorar sua existência. Tática
do avestruz, bem a gosto das censuras, que Preminger toureou como pôde. Resultou disso um filme
maldito, que ficou anos fora de
circulação e raramente se conseguia encontrar (foi editado em vídeo no Brasil, quase clandestinamente, pela Brenno Rossi).
Se não é um primor de cabo a
rabo, fecha com vigor esse lote
precioso da Continental, onde
apenas um dos filmes ("The Paradine Case" ou "Agonia de Amor")
não parece provir de matriz impecável.
(INÁCIO ARAUJO)
Lançamentos da Continental
Hitchcock Collection (Rebecca,
Interlúdio, Quando Fala o Coração,
Correspondente Estrangeiro, Agonia
de Amor)
O Homem do Braço de Ouro
A Noite dos Mortos-Vivos
Distribuidora: Continental
Quanto: R$ 150 (a coleção, em média) e
R$ 32 (cada DVD)
Texto Anterior: DVD: Filmes delineiam primeiros passos de Hitchcock Próximo Texto: Oscar: Audiência do Oscar é a mais baixa da história Índice
|