São Paulo, quinta-feira, 28 de março de 2002

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Pai da cinética cria "vertigens"

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando era criança, Carlos Cruz-Diez adorava fazer arte. O que lhe dava mais prazer não era desenhar, mas colorir os desenhos. A história prosaica ajuda a entender um dos cernes da obra do artista venezuelano, exposta na galeria Raquel Arnaud.
Estudante "de esquerda", Cruz-Diez começou produzindo pintura de intenções sociais. "Pensava que o artista era uma espécie de repórter, que denunciaria as desigualdades sociais." Desistiu quando se deu conta de que justamente quem comprava seus quadros eram os objetos de suas críticas nas telas. Percebeu que sua arte não trazia nada de novo.
Abandonou a pintura de figuras e, nos anos 50, mergulhou, como na infância, no universo das cores. Na longa pesquisa, intelectual e experimental, com a qual pretendia "forjar um novo discurso", descobriu que já nos tempos de Aristóteles havia a noção de que "a cor é efêmera". Eureca.
"A cor de meus trabalhos muda de acordo com a distância que o observador está, com o ângulo de visão dele, com a luminosidade que recebe o suporte. Assim é a cor", explica Cruz-Diez.
Aí está um dos núcleos da chamada arte cinética, corrente com a qual foram batizados os trabalhos que o artista desenvolveu a partir de 1954, assim como os que faziam na mesma época nomes como o compatriota Jesús Soto (que já vivia em Paris), o israelense Agam ou o suíço Jean Tinguely. O brasileiro Abraham Palatnik, que tem uma obra na mostra da Raquel Arnaud, também é dos primeiros cinéticos. Mas em seu trabalho é a própria obra que se movimenta (com motores).
No caso de Cruz-Diez, as chamadas "Fisicromias" (nome da série que ele vem fazendo desde os anos 60 até hoje) são estáticas. Feitas em metal, em tinta ou com elementos como náilon, as peças dão apenas ilusão de movimento.
"Meu trabalho cria vertigens", diz Cruz-Diez, que prefere ser chamado de pesquisador do que de artista. (CEM)


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