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Pai da cinética cria "vertigens"
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando era criança, Carlos
Cruz-Diez adorava fazer arte. O
que lhe dava mais prazer não era
desenhar, mas colorir os desenhos. A história prosaica ajuda a
entender um dos cernes da obra
do artista venezuelano, exposta
na galeria Raquel Arnaud.
Estudante "de esquerda", Cruz-Diez começou produzindo pintura de intenções sociais. "Pensava
que o artista era uma espécie de
repórter, que denunciaria as desigualdades sociais." Desistiu
quando se deu conta de que justamente quem comprava seus quadros eram os objetos de suas críticas nas telas. Percebeu que sua arte não trazia nada de novo.
Abandonou a pintura de figuras
e, nos anos 50, mergulhou, como
na infância, no universo das cores. Na longa pesquisa, intelectual
e experimental, com a qual pretendia "forjar um novo discurso",
descobriu que já nos tempos de
Aristóteles havia a noção de que
"a cor é efêmera". Eureca.
"A cor de meus trabalhos muda
de acordo com a distância que o
observador está, com o ângulo de
visão dele, com a luminosidade
que recebe o suporte. Assim é a
cor", explica Cruz-Diez.
Aí está um dos núcleos da chamada arte cinética, corrente com
a qual foram batizados os trabalhos que o artista desenvolveu a
partir de 1954, assim como os que
faziam na mesma época nomes
como o compatriota Jesús Soto
(que já vivia em Paris), o israelense Agam ou o suíço Jean Tinguely.
O brasileiro Abraham Palatnik,
que tem uma obra na mostra da
Raquel Arnaud, também é dos
primeiros cinéticos. Mas em seu
trabalho é a própria obra que se
movimenta (com motores).
No caso de Cruz-Diez, as chamadas "Fisicromias" (nome da
série que ele vem fazendo desde
os anos 60 até hoje) são estáticas.
Feitas em metal, em tinta ou com
elementos como náilon, as peças
dão apenas ilusão de movimento.
"Meu trabalho cria vertigens",
diz Cruz-Diez, que prefere ser
chamado de pesquisador do que
de artista.
(CEM)
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