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SHOW/CRÍTICA
RPM constrange a platéia na gravação do retorno
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
É duro dizer. Mas, de volta
após 14 anos de separação, o
grupo de tecnopop RPM protagonizou anteontem um dos momentos constrangedores da história recente do showbiz nacional.
A banda dos quarentões Paulo
Ricardo, Luiz Schiavon, Fernando
Deluqui e Paulo "P.A." Pagni gravava para a MTV e para um CD ao
vivo, no teatro Procópio Ferreira
(o mesmo de "Sai de Baixo"), em
São Paulo, a volta de seu tesouro
particular de juventude.
Mais que tesouro pessoal, o
RPM foi marco central de uma
época, de uma geração. Quer se
queira ou não, foi uma das glórias
dos anos 80, e a responsabilidade
de voltar era flagrante no nervosismo aparente dos quatro.
Mas a idéia era, além de tudo,
exótica. Relíquia presa num tempo, o RPM teria de saber se renovar, se comunicar com o passado,
com o presente e com o futuro
num só show. Não soube.
O esdrúxulo da situação podia
ser percebido pela reação de parte
do público "VIP". Até na claque
do gargarejo se ouviam clamores
por "revolução", insistentes pedidos de "toca Genesis" e exclamações tipo "lindo" e "tesão", quase
sempre vindas de homens. Paulo
Ricardo continua bonito, sim,
mas o clima parecia mais de zoeira que de empolgação gay.
No palco, os teclados de Schiavon, que nos 80 até podiam guardar neles algo de "revolução",
quase 20 anos depois soaram estridentes, pesados, histéricos.
Paulo Ricardo tentou repetir à
risca o charme de antigamente.
Mas a pose lânguida ao cantar
"London, London" (71), de Caetano, virou prosaico equívoco.
Quem em 2002 ainda acredita em
"London, London"?
O que Paulo não via é que já não
há quem grite por aquele tipo de
charme, e que os equivalentes aos
que em 86 o amavam devotam ao
trio teen KLB idêntica paixão.
Talvez por isso, ao trucidar o hino "Exagerado" (85), de Cazuza,
virando-o numa balada country,
o RPM soasse como cover do
KLB, que, aliás, em CD de 2001 fez
uma cover bem RPM de "Olhar
43" (85). Saudades do KLB...
A homenagem a Cazuza não esteve solitária. Sucedeu outra a Renato Russo, cujos vocais graves
duelaram com os (ainda bons) de
Paulo Ricardo em "A Cruz e a Espada" (85). O show ao vivo virou
show ao morto, crua morbidez.
A seguir veio uma inédita,
"Vem pra Mim", de Herbert
Vianna. Foi dos bons momentos,
mas, meninos, há um ato falho
embutido nessa sequência, não?
Falando nisso. O RPM apresentou cinco novas canções de sua lavra, das quais a mais divertida é
"Vida Real", o tema de "Big Brother Brasil" ("revolução"? tsc, tsc),
e a melhor é o rock de adrenalina
"Rainha". Ambas lembram desenho japonês, mas tudo bem, isso
era o fino da bossa do RPM.
As outras, exceto "Eu Quero
Mais" ("eu quero mais Kurt Cobain e John Lennon", ai, ai, ai),
são baladas das mais caramelizadas que se possa conceber, e aí cabe a pergunta: Paulo quer o rock
do RPM ou quer espancar a tecla
do ídolo solo/romântico/ brega?
A cruz ou a espada, guerreiro?
O que saiu bacana, e não podia
ser diferente, foram os rocks energéticos e/ou climáticos de anteontem. "Juvenília", "Rádio Pirata",
aquelas coisas. Passaram rasteiras, perdidas no mofo da repetição farsesca da fórmula fugaz.
É dura a crítica, se o RPM era, é e
será uma banda legal. Mas, rapazes, se soarem duras as palavras,
não liguem. Vai vender bastante e
aliviar as "consciências" suas, da
gravadora Universal, da rede musical MTV, dos piratas. Só isso pode nos justificar tudo aquilo.
Avaliação:
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