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"OS CAMARADAS", "ÁLIBI" E "A MORTA"
Quando a cena transborda do palco
SERGIO SALVIA COELHO
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
Sorria: você está no teatro.
Com mais de 150 peças em
cartaz na cidade, o teatro transborda não só para as ruas como
para prédio, casas e bares, e a
qualquer momento você pode estar em cena. O "espaço não convencional" pode ser até um palco
mesmo, cercado de público por
todos os lados, como o pequeno
do teatro Paiol, onde cabe o enorme talento da Cia Livre no "Bonde Chamado Desejo". Ou no To
Bee, no qual a Cia Carona de Blumenau apresenta "Os Camaradas", sobre a exploração política
da fome na Tchecoslováquia.
A um metro da platéia, criam
uma poesia intensa a partir de
poucos recursos, optando por
criar um universo paralelo claramente separado do público.
Essa promiscuidade espacial
acaba sendo um irresistível apelo
para "processo colaborativo", segundo o conceito do grupo XIX,
formado por discípulos de Antônio Araújo: "Hysteria" interage
com as mulheres do público (separadas dos homens que assistem
a tudo da arquibancada) em um
espetáculo que é novo a cada vez,
pois sua dramaturgia transforma
em espetáculo depoimentos espontâneos e comoção do público
-composto até por críticos.
Críticos que, nos festivais, facilmente se tornam personagens,
como na cena de "Risco de Vida"
de Alberto Guzik, na qual Otávio
Filho, alter-ego do autor, desce à
platéia para assistir a uma peça
imaginária e transforma o teatro
em cenário de si mesmo, unindo
em uma só marca as funções de
público, crítico e ator.
Eu mesmo, no Hermes Bar (depois de perder o horário de "Morada", peça que acontece em casa
particular) fui convidado a me retirar do balcão, pois era ali que a
peça começaria. Saí de cena tentando transformar meu acanhamento em performance.
A peça que se seguiu, "Álibi", do
grupo Êxedra de Curitiba, adapta
um conto de García Marques no
qual o dono de um bar tem um
obsessivo caso com uma prostituta, estabelecendo um interessante
jogo metalinguístico, mas sucumbindo a uma certa declamação do
texto e aos desafios de iluminar e
sonorizar a proposta ousada.
A ousadia de transformar a platéia em espetáculo atinge o ápice
com a provocação da companhia
EmCômodo Teatral, que parte do
mote do "Juramento do Público"
que abre a peça "A Morta", de Oswald de Andrade ("Serei bem
comportado e cínico após me devorar em meu próprio banquete"), para um percurso por salas
em que o público é convidado a
fazer ginástica e análise, entre outras atividades. Em uma autocrítica rápida, minha performance foi
bastante pífia. Ainda bem que só
os atores assistiram.
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