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MÚSICA
Pretenders, Kiss, Tom Waits e U2 integram time de artistas que homenageia a ex-banda de Johnny Ramone em CD
Defensor da guerra, Ramone lança tributo
DA REDAÇÃO
Johnny Ramone não é Michael
Jackson, mas considerá-lo uma
das figuras mais esquisitas do
mundo guiado pelas guitarras
não soa tão fora de lugar.
Pergunte a qualquer punk, ex-punk, aspirante a punk -americano ou não- o que ele pensa sobre 1) George W. Bush; 2) a guerra
no Iraque. Bem, se o diálogo for
com Johnny, 1) "um ótimo e esforçado presidente"; 2) "necessária, sou totalmente a favor".
Por contraditório que seja, o sujeito que com os Ramones criou o
movimento antimilitarista (e
não-direitista em sua essência)
que recriou o rock é das poucas
vozes hoje no showbiz a não soltar
farpas à ofensiva dos EUA no
Oriente Médio.
"É necessário tomar esse tipo de
atitude em certos momentos.
Saddam é um problema para a
paz mundial, ele precisa ser tirado
do poder", afirmou Johnny, 54, à
Folha, em entrevista nesta semana, por ocasião do lançamento no
Brasil de "We're a Happy Family
- A Tribute to Ramones", disco
que junta artistas tão diversos como U2, Garbage e Metallica tocando versões de músicas da histórica banda nova-iorquina.
O guitarrista dos Ramones nunca escondeu o conservadorismo
político. Seu posicionamento anticomunista e a admiração pelo
então presidente Ronald Reagan
(1981-1989) foram algumas das
razões de sua briga com Joey
(1951-2001), o líder da banda, no
início dos anos 80, e que afetaria o
grupo depois (deve-se levar em
conta que o fato de Johnny ter ficado com uma namorada de Joey
também contribuiu para a rixa).
"Estou otimista quanto à guerra. E quase todos aqui [nos EUA]
têm essa opinião. Cerca de 75%
dos americanos estão a favor da
guerra", continua Johnny.
"Não sou a favor de guerras, não
gosto de ver gente inocente morrendo. Espero que os estragos não
sejam muitos e que isso dure pouco tempo", finaliza o guitarrista.
O tributo
Com seu primeiro show, em
1974, época em que o parâmetro
de qualidade perseguido pelas
bandas de rock era a técnica erudita, os Ramones deram o chute
que iniciou o punk. Diversão e garotas, principalmente, era o que
estava nas mentes de Joey,
Johnny, Dee Dee e Tommy, presentes em suas curtas e diretas
músicas. A bandeira política do
movimento seria erguida lá no alto depois, por grupos como Sex
Pistols, Black Flag e The Clash.
As mortes de Joey (2001) e de
Dee Dee (2002) destruíram de vez
qualquer esperança de uma reativação da banda, que havia acabado em 1996. A sede por Ramones pode ser saciada -apenas em pequena parte, é verdade- com este "We're a Happy Family".
Já apareceram outros tributos
ao grupo -no Brasil, em 99 (nos
EUA, em 91), foi lançado "Gabba
Gabba Hey", com Bad Religion,
L7 e outras bandas independentes. Este concentra o mainstream.
"Liguei para alguns amigos, como Eddie Vedder [Pearl Jam], para os Chili Peppers. Levou um tempo para juntar todo mundo",
disse Johnny, produtor executivo
do disco ao lado de Rob Zombie.
"As bandas tiveram liberdade
de escolher as músicas e fazer o
que quisessem com elas."
Assim, os Pretenders desaceleram "Something to Believe In", o
Kiss coloca peso em "Do You Remember Rock'n'Roll Radio" e
"Returns of Jackie & Judy" é temperada com blues por Tom Waits.
Parte da renda obtida com a
vendagem do disco vai para uma
fundação americana de combate
ao câncer linfático -doença que
acarretou a morte de Joey. Mas
mesmo o propósito beneficente
não encobre os desacertos de algumas versões presentes (como
"Beat on the Brat", por U2, "The
KKK Took My Baby Away", por
Marilyn Manson, "I Just Wanna
Have Something to Do", por Garbage).
"A minha favorita é a de Eddie
Vedder ["I Believe in Miracles'].
Outras prediletas são as de Kiss,
Garbage e Red Hot Chili Peppers
["Havana Affair']", disse Johnny.
Documentário
Em maio, está marcado para estrear no Tribeca Film Festival, de
Nova York, um abrangente documentário sobre os Ramones.
"End of the Century: The Ramones Story" terá depoimentos de
integrantes de Clash, Blondie, Sex
Pistols e de membros do quarteto
nova-iorquino. As cenas mostram toda a carreira da banda,
desde a sua fundação até a entrada do grupo para o Rock & Roll
Hall of Fame, no ano passado.
"Vi o filme... É muito "dark", pesado, triste. Mostra as brigas, os
problemas que tivemos com drogas e também os pontos altos, como as nossas passagens pela
América do Sul. É bem verdadeiro", afirma Johnny.
Um outro documentário, "Hey!
Is Dee Dee Home?" (Hey! Dee
Dee está em casa?), sobre a vida
do baixista da banda, também está com data de lançamento prevista para este ano nos EUA.
(THIAGO NEY)
WE'RE A HAPPY FAMILY - A TRIBUTE
TO RAMONES. Lançamento: Sony.
Quanto: R$ 30, em média.
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