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"VEREDA DA SALVAÇÃO"
Peça desvela novos talentos do teatro
SERGIO SALVIA COELHO
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
O sonho de todo crítico em
um festival de teatro é descobrir o grupo iniciante e excelente
que chega sem fazer alarde, tendo
como maior trunfo a fé em seu
próprio trabalho e que torce para
que, das quatro ou cinco pessoas
presentes na estréia, se crie um
boca a boca consagrador. Foi assim, no último festival, com
"Hysteria", do Grupo XIX.
"Vereda da Salvação" cumpre
agora todas as condições para repetir o fenômeno. Fique claro que
é, como a maioria vista no Fringe,
um grupo de recém-formados,
expondo um exercício formal.
Mas é a despretensão com que os
atores jogam com o difícil texto de
Jorge Andrade, associada à apaixonada concentração com que
cumprem a partitura do espetáculo, que faz com que o crítico
exerça sem constrangimento a
função de divulgador.
O grupo, ainda sem nome, é
composto de formandos do Palácio das Artes, sob a tutela do diretor-professor Marcelo Bones, que
os incentivou a contar a trágica
história de Andrade, uma saga
dos colonos que, enlouquecidos
pelo jejum místico e pela esperança, acabam assassinando os próprios filhos.
Montar "Vereda da Salvação"
não é um desafio qualquer. Já a estréia foi marcada por um retumbante fracasso, quando a direção
de Antunes Filho, avançada demais para a época (acabara de
acontecer o golpe de 1964), foi rechaçada pela direita por denunciar a opressão no campo, e pela
esquerda, por considerar relevante a saída pelo misticismo.
Em tempos pós-utópicos, quando a estética pode se desvincular
da ideologia, a montagem propõe
um interessante meio-termo. Os
movimentos estilizados dos atores desde o início do espetáculo
suavizam o grotesco dos movimentos finais, pedido pelo texto,
quando os colonos tentam voar.
O bom gosto é reforçado pela
simples e eficiente cenografia de
Marney Heitmann e pela trilha
sonora composta também por
alunos do Palácio das Artes.
O lado realista, no entanto, não
se deixa ofuscar. Nenhum movimento é arbitrário, mesmo quando improvisado, e cada mudança
de inflexão marca um conflito, esclarece uma alusão. Apesar de jovens para o papel, a seriedade e
sensibilidade dos atores fazem
com que a peça não só seja grata
surpresa, mas seja imperdível.
Avaliação:
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