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ERUDITO
Orquestra da BBC abre a temporada 2006 da Sociedade de Cultura Artística
Jovem conduz sinfônica escocesa
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Sociedade de Cultura Artística inicia sua temporada de 2006
com a primeira récita da Orquestra Sinfônica da BBC-Escócia. Ela
se apresenta hoje e amanhã, às
21h, na Sala São Paulo.
Regida pelo maestro israelense
Ilan Volkov -aos 30 anos, ele é
talvez o mais jovem regente de
uma grande orquestra européia-, a BBC-E traz como solistas o clarinetista Michael Collins,
no "Concerto para Clarineta e Orquestra", K. 622, de Mozart, e a
soprano Barbara Hannigan, que
intervém na "Sinfonia nš 4", de
Mahler.
Também estão presentes no
programa peças de Stravinsky,
Tchaikovsky, Berlioz e Britten.
Leia a seguir a entrevista de Volkov à Folha.
Folha - Com 30 anos, o sr. é um
maestro extremamente jovem. Há
uma idade mínima para se tornar
um bom maestro?
Ilan Volkov - É algo muito pessoal. Eu, de início, estudei piano e
violino. Tornar-se um bom maestro não é questão de idade. Depende de quando se começa. Muitos começam a reger apenas aos
35 ou 40 anos, quando a regência
se torna para eles um objeto de interesse. Eu me encantei muito cedo com a música sinfônica, bem
mais que pelo repertório de determinado instrumento.
Folha - Há algum compositor fundamental cujas partituras o sr. ainda não teve tempo de reger?
Volkov - Entre os fundamentais
eu lamento não ter ainda regido
uma quantidade suficiente de
obras de Bach. Mas de modo geral
eu tenho feito um repertório bem
amplo, do barroco a Mozart, dos
românticos aos contemporâneos.
Folha - Alguns regentes israelenses se sentem constrangidos em reger Wagner. É também o seu caso?
Volkov - Não tenho problema algum. Música e política nem sempre se misturam. Os maestros que
se sentem desconfortáveis com
Wagner não têm nada especificamente contra esses compositor,
mas contra o uso propagandístico
que os nazistas fizeram dele.
Folha - Sobre a BBC Escócia: como
é que ela se tornou tão reputada?
Volkov - Nos últimos 15 anos a
orquestra teve excelentes regentes
e também abrigou grandes compositores ainda vivos. Há também
uma geração recente de músicos
que trouxe para ela um grande
entusiasmo. Há, além disso, uma
mentalidade muito aberta dentro
da orquestra, que faz música barroca com técnicas de época e também a música recém-composta.
Folha - O sr. traz em seu repertório compositores como Mahler e
Britten, que são por vezes extremamente complexos. Qual a razão?
Volkov - Não se pode dizer que
algo é fácil ou difícil. Mozart parece às vezes de extrema simplicidade no papel. Mas interpretá-lo
corretamente é dificílimo. Nem
sempre é tranqüilo encontrar a
chave da interpretação que possa
transmitir a música ao público.
Folha - O sr. também traz Berlioz.
Acredita estar havendo sobre ele
uma espécie de ressurgimento?
Volkov - Creio que há uma curiosidade hoje bem maior em torno de compositores do século 19
que não eram alemães. Com isso,
descobrimos que Berlioz é um
compositor estupendo. Há 50
anos ele era considerado um
"amador". Ocorreu o mesmo
com Janacek, hoje visto como um
dos grandes do século 20.
Sinfônica da BBC-Escócia
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes,
s/nš, SP, tel. 0/xx/11/3337-5414)
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Quanto: R$ 120 a R$ 240, ou R$ 10 para
estudantes com menos de 30 anos, meia
hora antes das récitas
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