São Paulo, terça-feira, 28 de março de 2006

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ERUDITO

Orquestra da BBC abre a temporada 2006 da Sociedade de Cultura Artística

Jovem conduz sinfônica escocesa

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Sociedade de Cultura Artística inicia sua temporada de 2006 com a primeira récita da Orquestra Sinfônica da BBC-Escócia. Ela se apresenta hoje e amanhã, às 21h, na Sala São Paulo.
Regida pelo maestro israelense Ilan Volkov -aos 30 anos, ele é talvez o mais jovem regente de uma grande orquestra européia-, a BBC-E traz como solistas o clarinetista Michael Collins, no "Concerto para Clarineta e Orquestra", K. 622, de Mozart, e a soprano Barbara Hannigan, que intervém na "Sinfonia nš 4", de Mahler.
Também estão presentes no programa peças de Stravinsky, Tchaikovsky, Berlioz e Britten. Leia a seguir a entrevista de Volkov à Folha.

Folha - Com 30 anos, o sr. é um maestro extremamente jovem. Há uma idade mínima para se tornar um bom maestro?
Ilan Volkov -
É algo muito pessoal. Eu, de início, estudei piano e violino. Tornar-se um bom maestro não é questão de idade. Depende de quando se começa. Muitos começam a reger apenas aos 35 ou 40 anos, quando a regência se torna para eles um objeto de interesse. Eu me encantei muito cedo com a música sinfônica, bem mais que pelo repertório de determinado instrumento.

Folha - Há algum compositor fundamental cujas partituras o sr. ainda não teve tempo de reger?
Volkov -
Entre os fundamentais eu lamento não ter ainda regido uma quantidade suficiente de obras de Bach. Mas de modo geral eu tenho feito um repertório bem amplo, do barroco a Mozart, dos românticos aos contemporâneos.

Folha - Alguns regentes israelenses se sentem constrangidos em reger Wagner. É também o seu caso?
Volkov -
Não tenho problema algum. Música e política nem sempre se misturam. Os maestros que se sentem desconfortáveis com Wagner não têm nada especificamente contra esses compositor, mas contra o uso propagandístico que os nazistas fizeram dele.

Folha - Sobre a BBC Escócia: como é que ela se tornou tão reputada?
Volkov -
Nos últimos 15 anos a orquestra teve excelentes regentes e também abrigou grandes compositores ainda vivos. Há também uma geração recente de músicos que trouxe para ela um grande entusiasmo. Há, além disso, uma mentalidade muito aberta dentro da orquestra, que faz música barroca com técnicas de época e também a música recém-composta.

Folha - O sr. traz em seu repertório compositores como Mahler e Britten, que são por vezes extremamente complexos. Qual a razão?
Volkov -
Não se pode dizer que algo é fácil ou difícil. Mozart parece às vezes de extrema simplicidade no papel. Mas interpretá-lo corretamente é dificílimo. Nem sempre é tranqüilo encontrar a chave da interpretação que possa transmitir a música ao público.

Folha - O sr. também traz Berlioz. Acredita estar havendo sobre ele uma espécie de ressurgimento?
Volkov -
Creio que há uma curiosidade hoje bem maior em torno de compositores do século 19 que não eram alemães. Com isso, descobrimos que Berlioz é um compositor estupendo. Há 50 anos ele era considerado um "amador". Ocorreu o mesmo com Janacek, hoje visto como um dos grandes do século 20.


Sinfônica da BBC-Escócia
Onde:
Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/nš, SP, tel. 0/xx/11/3337-5414)
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Quanto: R$ 120 a R$ 240, ou R$ 10 para estudantes com menos de 30 anos, meia hora antes das récitas



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