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TEATRO
Mostra alternativa do festival, que terminou anteontem, teve 192 peças; artistas e público pedem mais organização e qualidade
Curitiba enfrenta crise no modelo do Fringe
VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
A cena é conhecida dos últimos
finais de março: a maioria dos artistas volta frustrada para casa, o
público idem. Neste ano, porém,
o feirão de espetáculos do Fringe,
mostra alternativa do Festival de
Teatro de Curitiba, que terminou
anteontem, parece, enfim, ter encarado a crise de seu formato.
O número de peças cresce a cada ano na mesma proporção dos
problemas enfrentados por artistas e público. Aqueles, pagam
uma taxa de R$ 35 ou R$ 60 por
apresentação (menos os espetáculos de rua) e sofrem com a desorganização e as adaptações necessárias no espaço que foi prometido assim, mas era assado.
Enquanto isso, o espectador se
perde no emaranhado de sinopses-armadilhas que não deixam
claro o que é demonstração de
obra em processo, exercício experimental de dança-teatro, performance ou espetáculo no estrito
senso da palavra.
"Tem muita porcaria, gente que
entra em cena, faz sua catarse,
mas se esquece do público", afirma a fonoaudióloga Vera Santos,
49, que assistiu a várias peças.
O coordenador-geral do FTC,
Victor Aronis, reconhece a falta
de informação como um dos pontos críticos. O festival distribui
gratuitamente um jornal diário
com uma crítica e destaques, mas
o conteúdo editorial deixa a desejar e não vence a demanda.
"Se nós, artistas com um mínimo de conhecimento, ficamos desorientados, imagine o público.
Sem uma orientação, todos saem
perdendo", diz o diretor Luiz Fernando Marques, 28, do grupo XIX
de Teatro (SP), revelado em 2002
com "Hysteria", que voltou ao
Fringe neste ano. Desta vez, não
se encontrou um espetáculo de
impacto na mostra.
Quando o Fringe surgiu, em
1998, foram apresentadas 32 peças. A expressão em inglês (franja,
borda) é emprestada do Festival
de Edimburgo, na Escócia, onde a
programação off chega a mais de
700 grupos de teatro, dança etc.
Se comparada com a primeira, a
nona edição curitibana foi multiplicada por seis: foram 192 peças
neste ano (cinco a mais que 2005),
descontados os 12 cancelamentos.
Os problemas de produção e de
falta de qualidade não vêm de
agora, mas ficaram mais evidentes nesses 11 dias em que foram
ocupados 48 espaços da cidade.
A organização fala de um público de 110 mil pessoas (mesmo número de 2005). Pelo menos 50 mil
estariam no Fringe. Mas algumas
sessões foram canceladas por falta
de platéia. A Folha presenciou
apresentações com menos de dez
espectadores.
Aronis resiste à seleção prévia
pela qualidade dos projetos inscritos. Seu paradigma é o Fringe
de Edimburgo, onde a participação se pretende democrática.
"Algum critério de qualidade
ajudaria principalmente o público. Se uma pessoa vai ao teatro
pela primeira vez e vê uma bomba, dificilmente voltará", diz o diretor Marcos Damasceno, 28, de
Curitiba, cidade que responde
por 40% das produções da mostra. A maioria, segundo o diretor,
presta um "desfavor" ao teatro.
No final da cobertura do evento,
um grupo de jornalistas de vários
Estados escreveu um manifesto
no qual propõe um mecanismo
de seleção mais consistente.
"Diante da demanda de projetos,
que se estabeleça um norte artístico e não meramente quantitativo.
Não adianta mirar fixamente o
modelo de Edimburgo se o contexto de nossa produção é outro",
diz o documento.
O jornalista Valmir Santos, o crítico
Sergio Salvia Coelho e a repórter-fotográfica Lenise Pinheiro viajaram a convite da organização do FTC
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