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LIVROS
Crítica/"Stockhausen - Sobre a Música"
Palestras de Stockhausen sintetizam a sua radicalidade
Em livro mais indicado para músicos, compositor faz uma defesa da intuição
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Radicalidade, vanguarda,
provocação: esses itens,
em alta nos anos 60,
ajudam a explicar o sucesso do
compositor alemão Karlheinz
Stockhausen (1928-2007), cuja
reputação transcendeu o círculo restrito da criação erudita
contemporânea.
Embora sua obra jamais fizesse concessões ao popular e
acessível, Stockausen foi parar
na capa de "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", dos
Beatles, e figuras como Miles
Davis, Frank Zappa e Björk se
disseram influenciadas por ele.
Agora, um livro da Madras oferece a chance de o leitor brasileiro conhecer melhor esse
símbolo musical do século 20.
"Stockhausen - Sobre a Música" traz uma série de palestras feitas pelo compositor em
Londres, em 1971, e uma entrevista dada a Robin Maconie dez
anos mais tarde. O volume é
enriquecido com prefácio de
Flo Menezes, resumo biográfico, catálogo de obras e minuciosa discografia, que fazem dele preciosa obra de referência.
Serialismo integral
À época das palestras e entrevistas, o compositor não havia
dado sua mais polêmica e infeliz declaração, comparando os
ataques do 11 de Setembro a
uma obra de arte. Tampouco
havia finalizado "Licht", ambicioso ciclo de sete óperas escrito de 1977 a 2003 e previsto para durar 29 horas; ou o "Helikopter-Streichquartett" (quarteto de cordas helicóptero), que
prevê os integrantes de um
quarteto de cordas voando em
quatro helicópteros distintos.
Mas já era, ao lado do francês
Pierre Boulez, o papa das vanguardas do Pós-Guerra, pregando o serialismo integral.
Não são raras, em suas palestras, alusões multidisciplinares, à física de Einstein, à arquitetura de Le Corbusier e ao cinema de Antonioni (cujos processos de expansão e contração
em "Blow Up - Depois Daquele
Beijo" Stockhausen associa aos
de sua própria música).
Contudo, é um livro de músico dirigido a músicos. O leigo
poderá se divertir com os relatos da polêmica de Stockhausen com Adorno ou ficar tocado
com a infância pobre do compositor (a mãe, depressiva, foi
internada em instituição mental e executada pelos nazistas).
Mas certamente boiará nas
passagens do texto em que ele
descreve seu processo de composição em obras-chave como
"Aus Den Sieben Tagen" e
"Gruppen".
Quem se habituou a acusar
de cerebralista o vanguardismo
de Stockhausen certamente se
surpreenderá com a defesa que
ele faz da criação intuitiva
-evocando o exemplo de Bach,
Beethoven, Brahms e Stravinski, defende a "supremacia da
intuição", chamando o compositor de "porta-voz do divino".
Sobre a educação musical, ele
também passa longe da sisudez.
Defende para o músico um treinamento constante nas artes
de gravação e também na dança, visto aqui não como o balé,
mas "dança social de verdade,
uma vez por semana, como parte do curso de música, por toda
a duração do estudo". Para
Stockhausen, o musicista tem
de ter jogo de cintura, um conselho que até hoje vale repetir.
STOCKHAUSEN - SOBRE A
MÚSICA
Autor: Robin Maconie
Tradução: Saulo Alencastre
Editora: Madras
Quanto: R$ 34,90 (238 págs.)
Avaliação: bom
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